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17 de março de 2009Mercado cético com plano para bancos
19 de março de 2009Ou o governo muda a forma de remunerar a caderneta de poupança, que se tornará muito mais competitiva à medida que os juros básicos recuarem para menos de 10% ao ano, ou o próprio mercado se encarregará de matar a aplicação. A previsão é do ex-presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, hoje sócio da gestora de recursos Gávea Investimentos. “Há duas possibilidades, ou muda ou a poupança morre de morte morrida”, diz.
Fraga lembra que quando estava à frente do BC, em 2001, sua equipe tentou mudar a forma de remuneração da poupança. A ideia era transferir o subsídio hoje dado aos aplicadores em poupança, que não pagam imposto de renda sobre os rendimentos, para os tomadores de crédito imobiliário de menor renda e para imóveis mais baratos. “Mas o sistema não aceitou”, lembra.
Para Fraga, se os juros continuarem em queda, uma possibilidade que se mostra bastante concreta, o desenho de funcionamento do sistema hoje, de aplicação subsidiada, deve ser revisitado. “Não é possível ter uma taxa livre de imposto, com garantia de 6,17% ao ano mais Taxa Referencial (TR) em um mundo em que a taxa real pode ficar muito abaixo disso”, diz.
Caso nada seja feito e os juros da economia caminhem para 8%, 9%, a captação via poupança ficará cara demais para os bancos, que evitarão receber mais recursos em caderneta. “Se houver outra opção mais barata de captação, os bancos vão optar por ela”, diz. Uma das opções será elevar os valores de aplicação mínima em poupança, ou simplesmente deixar de oferecer a aplicação.
Fraga acredita, porém, que o governo será pró-ativo, e buscará um modelo de transição. “Mas juros de 8% ao ano podem provocar uma captação enorme da poupança livre de impostos e criar outras distorções no sistema”, diz, referindo-se aos fundos de investimento e até aos CDBs. “É um sistema artificial, que não funciona, e vai dar problema mais cedo ou mais tarde”, alerta.
Esta pode ser a chance, diz ele, de construir um sistema diferente, onde o subsídio dado hoje ao investidor vá direto para tomador de crédito mais baixo, reduzindo o custo das linhas para a classe média ou média baixa.
Ontem, a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) divulgou nota informando que considera oportuno o debate sobre a rentabilidade da caderneta, que “deverá continuar a ser um instrumento de investimento popular”. A entidade, que representa os grandes gestores de fundos DI e renda fixa do mercado, manifestou apoio a “iniciativas cujo objetivo seja manter o equilíbrio entre os vários segmentos do mercado financeiro e de capitais”.