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9 de fevereiro de 2024
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18 de abril de 2024A economia brasileira deve fazer um “pouso suave” depois do superaquecido início de 2010, na visão predominante entre os analistas. Isso quer dizer que, embora não deva ser nada desastroso, o cenário a partir do final do ano ? e, especialmente, em 2011 ? será bem menos propenso à euforia.
Afinal, a economia deve desacelerar de um ritmo anual entre 7% e 8% para algo entre 3,5% e 5%, os juros devem subir bastante, a inflação permanecerá ainda num nível elevado e o déficit em conta corrente pode crescer.
Além disso, 2011 pode ser o ano em que o novo governo aproveitará para tentar conter o ritmo de crescimento do gasto público, o que significa segurar o reajuste do funcionalismo e do salário mínimo (que indexa milhões de benefícios previdenciários e sociais), mexendo no bolso de boa parcela da população.
“O Brasil vai ter de trazer essa economia aquecida para um nível de crescimento mais razoável, para poder controlar a inflação e o déficit externo”, diz o economista Armando Castelar, do Gávea Investimentos.
Ao contrário de outros momentos do passado, porém, quando o País era obrigado a frear violentamente em função de crises, desta vez a desaceleração tem tudo para ser um processo civilizado, na aposta da maioria dos analistas.
“Pouso forçado é coisa do passado, quando o Brasil tinha problemas de solvência; hoje, nós parecemos mais os países desenvolvidos de antigamente, já que os desenvolvidos agora têm problemas parecidos com os que a gente tinha no passado”, resume André Loes, economista-chefe do HSBC no Brasil.
O País cresceu 2,7% no primeiro trimestre, em relação ao último de 2009 (tirando a variação sazonal), o que significa um ritmo anualizado de expansão de 11,2%. Para os próximos trimestres, a maior parte das projeções é de uma cadência bem mais modesta, equivalente a algo entre 4% a 5% ao ano. Por questões estatísticas, mesmo com essa desaceleração, o crescimento anual deve fechar entre 7% e 8%, segundo boa parte das estimativas do mercado financeiro.
“Já há sinais de alguma desaceleração neste segundo trimestre, com boa chance de evoluirmos para um pouso suave”, comenta Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú-Unibanco. A produção industrial de abril, por exemplo, apresentou recuo de 0,7% ante março, descontada a influência sazonal.
Essa oscilação momentânea da atividade, porém, não vai demover o Banco Central de prosseguir na escalada de aumentos da Selic, a taxa básica de juros, para garantir que a inflação do IPCA, o índice oficial, caminhe de volta na direção do centro da meta de 4,5% ao longo de 2011. Em maio, o IPCA acumulava uma variação de 5,22% em 12 meses, e a mediana das projeções de mercado para 2010 é de 5,64%.
O HSBC estima que a Selic saia do nível atual de 10,25% para 12,25% em outubro, o que representa um ciclo de alta de 3,5 pontos porcentuais a partir do nível mais baixo, de 8,75%, que vigorou até abril. Já o Itaú-Unibanco projeta uma Selic de 11,75% no final de 2010, e mais algumas altas adicionais em 2011, que levariam a taxa básica para 13% ? um ciclo de elevações de 4,25 pontos porcentuais.
O efeito desse aperto monetário, porém, não é imediato, e deve começar a ser sentido no final do segundo semestre e, de forma mais intensa, em 2011.
Política fiscal. Uma forte preocupação dos analistas é com a combinação de política monetária e fiscal que este e o próximo governo aplicarão para colocar a economia numa trajetória de crescimento mais equilibrada. “O meu medo é de um ajuste de má qualidade, que deixe um papel muito forte para a política monetária, e pouco para a política fiscal”, diz Castelar.
Há um moderado otimismo entre os economistas de que, sendo o ano inaugural de um novo (ou uma nova) presidente, 2011 se preste a um ajuste nas despesas públicas. O Itaú-Unibanco, baseado no desempenho da arrecadação, já elevou sua projeção de superávit primário (exclui juros) em 2010 de 2,7% para 3%, e para 3,3% em 2011.
Muitos analistas notam que a questão fiscal no Brasil mudou. Hoje, não se trata mais de garantir a solvência do setor público, mas sim de reduzir o seu consumo ? o que é o mesmo que aumentar a poupança ? para permitir que o crescimento do investimento não pressione demais a demanda.
Um fator de possível incerteza mencionado por todos os analistas é a evolução da situação europeia e seu impacto na economia global. A maioria, porém, acha que o Brasil só seria mais seriamente afetado no caso de uma crise de proporções extremas, o que não é considerado o mais provável.