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24 de março de 2009Pela primeira vez, um fundo de participações admitiu oficialmente a possibilidade de alterar a estrutura de controle da Cremer, empresa de distribuição e fabricação de produtos médicos e hospitalares. A possível mudança foi assumida pela Tarpon Investimentos, ao anunciar que ampliou sua fatia na empresa de 13% para 24,3%. Ou seja, sozinha, a gestora tem praticamente um quarto da companhia, cujo capital é pulverizado. É, com folga, sua maior acionista.
Conforme o Valor apurou, o salto ocorreu num único dia, terça-feira da semana passada, quando o volume negociado em bolsa alcançou R$ 27 milhões – mais de dez vezes a média do giro do papel.
Com esse passo, a soma da participação de diversos fundos que investem na companhia desde o ano passado ultrapassa 51%. São investidores de peso – com mais de 5% – a Credit Suisse Hedging-Griffo, a Poland, a Guepardo, além da própria Tarpon. Claritas e Rio Bravo também são acionistas importantes, embora com fatias menores.
Há tempos que o interesse dos fundos na Cremer despertou atenção no mercado. Há quem diga que a empresa é forte candidata a ser o primeiro caso no mercado brasileiro de uma formação de controle por minoritários organizados nas últimas duas décadas – o último exemplo mais relevante foi a tomada de poder da cervejaria Brahma pelo trio Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Apesar da aposta, os fundos investidores da Cremer não se declaram organizados – ao contrário, ressaltam a inexistência de acordo de voto conjunto. O movimento, ainda raro por aqui, é relativamente comum no mercado internacional, especialmente, nos Estados Unidos.
Tarpon, Poland e Hedging-Griffo são velhos conhecidos. O Poland é o fundo que reúne os investimentos de Luiz Alves Paes de Barros, que está entre os maiores investidores do mercado local, um dos fundadores da corretora Griffo e tio de José Carlos Magalhães, um dos principais sócios da Tarpon. Essa última, por sua vez, praticamente nasceu dentro da Hedging-Griffo, no início desta década.
Embora não exista um contrato que os faça votar juntos, a proximidade entre eles leva outros gestores de investimentos e até administradores da própria Cremer, que preferem não ser identificados, a acreditar que atuam de forma organizada e que assumirão os rumos da empresa. Procuradas, as gestoras não comentaram o caso.
O movimento da Tarpon só foi possível após uma iniciativa do Poland, que motivou a modificação do estatuto da Cremer. A companhia possuía uma cláusula de proteção da dispersão acionária, a chamada pílula de veneno, até o fim de outubro, quando uma assembleia de acionistas aprovou a retirada do mecanismo, conforme sugestão do Poland. A Tarpon foi a única que se absteve de votar. Com isso, a obrigação daquele que atingisse uma participação de 20% no capital da empresa realizasse oferta aos demais acionistas, com prêmio sobre o mercado, deixou de existir. Desde então, se alguém comprar o controle da companhia no mercado não tem que oferecer nada aos demais acionistas.
A aquisição de fatias relevantes pelos fundos na Cremer começou em meados de 2008. Hoje, metade do conselho é composta por membros eleitos pelos gestores, e essa proporção pode aumentar após o movimento da Tarpon. O colegiado pode ter até oito participantes, mas possui seis eleitos, sendo três representantes dos fundos – José Alexandre Borges (Tarpon), Mario Fleck (Rio Bravo) e Sergio Lisa Figueiredo (Guepardo).
O presidente do conselho de administração, Luiz Spinola, não vê atuação orquestrada dos fundos. “Não os encaro como bloco. Eles não têm visão exatamente igual.” Para ele, a concentração da base acionária da Cremer é natural num momento de baixa no mercado, na qual gestores de longo prazo buscam oportunidades.
A Cremer reestreou na bolsa em abril de 2007, pelas mãos da Merrill Lynch Global Private Equity, em meio a febre das aberturas de capital. Na ocasião, captou R$ 210 milhões para crescer via aquisições. Quase dois anos depois, não fez compras significativas e sustenta um caixa de R$ 144 milhões – cifra que atrai a atenção dos fundos. A dúvida do mercado é se o fortalecimento dos fundos na gestão levará a Cremer ao crescimento ou à distribuição dos recursos aos sócios.