Estamos vivendo um momento de enormes problemas econômicos globais que não podem ser resolvidos por meias medidas ou pelos esforços isolados de um país. Os líderes do G-20 têm hoje a responsabilidade de realizar ações ousadas, abrangentes e coordenadas com o objetivo não apenas de impulsionar a recuperação, mas também inaugurar uma nova era de compromisso econômico para impedir que uma crise como esta volte a ocorrer no futuro.
Não se pode negar a urgência da ação. Uma crise de crédito e de confiança alastrou-se pelas fronteiras, com consequências para todos os cantos do mundo. Pela primeira vez em uma geração, a economia global está se contraindo e o comércio está encolhendo. Trilhões de dólares desapareceram, os bancos pararam de emprestar dinheiro e dezenas de milhões de pessoas deverão perder seus empregos em todo o globo. A prosperidade das nações está ameaçada, assim como a estabilidade dos governos e a sobrevivência dos povos nas partes mais vulneráveis do mundo.
Aprendemos, de uma vez por todas, que o sucesso da economia americana está indissoluvelmente ligado à economia global. Não existe uma linha de separação entre uma ação que restaura a expansão no interior das nossas fronteiras e uma ação que sustente essa expansão além delas. Se os consumidores de outros países não puderem gastar, os mercados secarão – vimos a maior queda das exportações americanas dos últimos 40 anos levar diretamente à perda de empregos americanos.
E se continuarmos permitindo que as instituições financeiras do mundo todo atuem de maneira temerária e irresponsável, ficaremos presos em um ciclo de bolhas e crises. É por isso que a cúpula que se realizará em Londres no início de abril é diretamente relevante para a recuperação do nosso país.
Minha mensagem é clara: os Estados Unidos estão prontos para liderar; pedimos aos nossos parceiros que cooperem conosco com um sentido de urgência e objetivo comuns.
Já foi feito um trabalho considerável, mas há ainda muito a fazer.
Nossa liderança se baseia em uma premissa simples: agiremos de maneira corajosa para tirar a economia americana da crise e reformar nossa estrutura reguladora e essas ações serão respaldadas por ações complementares no exterior.
Pelo nosso exemplo, os Estados Unidos poderão promover a recuperação global e a confiança em todo o mundo. E se a Cúpula de Londres contribuir para estimular a ação coletiva, poderemos chegar a uma recuperação segura, evitando assim crises futuras.
Nossos esforços precisam começar com uma ação rápida para reiniciar o crescimento. Os Estados Unidos já aprovaram a Lei de Recuperação e Reinvestimento – o esforço mais dramático para impulsionar a criação de empregos e lançar as bases do crescimento em uma geração. Outros membros do G-20 também buscaram um estímulo fiscal e esses esforços devem ser intensos e sustentados até que seja possível restaurar a demanda. À medida que avançarmos, deveremos adotar um compromisso coletivo para encorajar o comércio aberto e os investimentos, resistindo ao mesmo tempo ao protecionismo que só aprofundaria esta crise.
Em segundo lugar, devemos restaurar o crédito do qual dependem empresas e consumidores. Estamos trabalhando agressivamente no nosso país para estabilizar nosso sistema financeiro. Isso prevê uma avaliação honesta dos balanços dos nossos principais bancos e levará diretamente à concessão de empréstimos que permitam que os americanos adquiram bens, possam manter suas casas e expandir seus negócios. Esse processo continuará se amplificando pelas ações dos nossos parceiros do G-20. Juntos, poderemos adotar um arcabouço comum que insista na transparência, na responsabilidade e na preocupação com a restauração do fluxo de crédito que constitui a seiva de uma economia global em expansão. O G-20, ao lado de instituições multinacionais, poderá proporcionar o financiamento do comércio que contribui para aumentar as exportações e criar empregos.
Em terceiro lugar, temos a obrigação econômica e moral no que diz respeito à segurança de estender a mão aos países e aos povos que enfrentam o risco maior. Se lhes dermos as costas, o sofrimento causado por esta crise se agravará e nossa própria recuperação será retardada, porque os mercados dos nossos produtos encolherão ainda mais e outros empregos americanos se perderão. O G-20 deve oferecer rapidamente os recursos que servirão para estabilizar os mercados emergentes, impulsionar substancialmente a capacidade do Fundo Monetário Internacional (FMI) para emergências, e ajudar os bancos de desenvolvimento regional a acelerar os empréstimos. Ao mesmo tempo, os EUA financiarão novos e importantes investimentos na área de segurança dos alimentos que permitam aos mais pobres enfrentar os dias difíceis que virão.
Embora essas medidas possam nos ajudar a sair da crise, não devemos prever um retorno ao status quo. Devemos pôr um fim à especulação desenfreada e a gastos superiores aos nossos recursos, aos créditos podres, aos bancos excessivamente alavancados e à falta de supervisão que condena a todos a bolhas que inevitavelmente estourarão. Somente uma ação internacional coordenada poderá impedir a assunção irresponsável de riscos que causou a crise atual. Por isso, prometi aproveitar essa ocasião para adiantar as reformas abrangentes do nosso arcabouço regulador e supervisor.
Todas as nossas instituições financeiras – em Wall Street e no mundo – precisam de uma escrupulosa supervisão e das respectivas normas ditadas pelo senso comum. Todos os mercados devem ter normas de estabilidade e um mecanismo de transparência. Um forte arcabouço de exigências em matéria de capital protegerá contra as crises futuras. É preciso combater os paraísos fiscais no exterior e a lavagem de dinheiro.
Normas rigorosas de transparência e responsabilidade terão de conter os abusos e a época das remunerações astronômicas deve acabar. Em vez de esforços desiguais que fazem escorregar para o fundo, devemos proporcionar claros incentivos de bom comportamento que impulsionem para o topo.
Sei que os EUA carregam sua parcela de responsabilidade pelo caos que agora enfrentamos. Mas também sei que não temos de escolher entre um capitalismo caótico e impiedoso e uma economia dirigida por um governo opressor. Essa é uma falsa escolha que não serve ao nosso povo ou mesmo a povo nenhum.
Essa reunião do G-20 constitui um fórum para um novo tipo de cooperação econômica mundial. Este é o momento para, todos juntos, colaborarmos para restaurar o crescimento sustentado que só se tornará possível com mercados abertos e estáveis que exploram a inovação, sustentam o empreendedorismo e promovem as oportunidades.
Hoje, os interesses das nações estão totalmente entrelaçados. Os Estados Unidos estão prontos a aderir aos esforços globais em nome da criação de novos empregos e do crescimento sustentado. Juntos, poderemos aprender as lições desta crise e forjar uma prosperidade duradoura e garantida para o século 21.
*O presidente dos Estados Unidos escreveu este artigo para o Global Viewpoint