Nos primeiros 18 dias do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff viu crescer a lista de problemas que assombram o Planalto, e até quem apostava em um período de calmaria neste início de 2015 se surpreendeu. Não bastassem as dificuldades herdadas dos últimos quatro anos, as recentes decisões da petista implicaram embates com os principais partidos aliados, brigas dentro do próprio PT e atritos com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outras medidas afetaram o bolso da população, como a alta de juros para o financiamento da casa própria e a mudança de regras trabalhistas, que desfavorecem a população. Ainda vêm por aí medidas impopulares, como o aumento de impostos, de combustíveis e da conta de luz. Para engrossar o caldo, a crise na Petrobras parece ganhar fôlego em vez de ser arrefecida. Na definição de um cacique petista, em pouco mais de duas semanas, a presidente “conseguiu desagradar a todos”.
A Lava-Jato, no entanto, não é a única crise que vem desde o governo passado. O Planalto terá de reatar laços com o setor financeiro, reconquistar os empresários, conter a inflação, reavaliar a articulação com o Congresso, refazer pontes com os movimentos sociais e evitar fiasco na organização das Olimpíadas do Rio, em 2016.
Após assistir à maneira como a presidente encarou os primeiros dias de governo, um aliado desabafou: “Vimos a falência da articulação política com o Legislativo”. “Temos a esperança de que melhore, mas não vemos sinal disso. Temos visto atitudes públicas que só demonstram fragilidade. Não era preciso a presidente ter desautorizado o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) sobre o reajuste do salário mínimo. Atitudes como essa deveriam ter ficado lá atrás, em 2014”, completa. Segundo o aliado, a expectativa para 2015 já era difícil, e não precisava ter se tornado ainda pior. “Teremos pela frente os cortes de gastos, o anúncio de aumento de impostos, da luz, de combustíveis, o fim das desonerações… Eram coisas que foram escondidas na campanha, mas que eram evidentes, e agora vamos ter que fazer esse anúncios com esse contexto”, reclama.
Outro petista questiona: “Onde está a presidente? Ela sumiu, o governo se calou. Só as notícias negativas falam”. A avaliação de integrantes do Planalto é de que a presidente não teve maleabilidade para lidar com as pressões e deixou os ruídos falarem mais alto. “Foram criando cada vez mais crises. Um dos problemas que o governo não tinha, mas construiu, é a briga pela presidência da Câmara. A força da candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi resultado do esforço do governo em ignorar o Parlamento. Ele é apenas a cereja do bolo de um Congresso desprezado”, dispara um petista graúdo.
Além do imbróglio que envolve a briga pela presidência da Câmara, Dilma se desgastou com o PMDB, dono da segunda maior bancada na Casa, por causa da reforma ministerial. Parte do partido não ficou satisfeita com as mudanças e pressiona por mais espaço no segundo escalão.
Outras críticas vêm de movimentos sociais que ajudaram a reeleger a presidente. Na véspera das posse, militantes dispararam uma série de reclamações nas redes sociais. A festa organizada para 1º de janeiro na Esplanada deveria ter sido um espaço de reconciliação. A ideia era fazer um aceno aos movimentos da juventude, das mulheres, dos negros e dos trabalhadores que estiveram ao lado do governo na campanha. Mas os próprios militantes vaiaram quando foram anunciados os nomes dos ministros George Hilton, do Esporte; Kátia Abreu, da Agricultura; e Gilberto Kassab, das Cidades.
PETROBRAS Dilma também terá de se esforçar para lidar com os desdobramentos da Operação Lava-Jato. A denúncia de que há dezenas de políticos envolvidos no esquema de pagamento de propina na Petrobras é um dos temas que mais a preocupam. No próximo mês, quando será encerrado o recesso do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve começar a aceitar as denúncias contra deputados, senadores, ministros e ex-ministros envolvidos no escândalo.
A própria presidente mostrou que está atenta à repercussão da operação. Ao escalar os ministros que compõem a nova formação da Esplanada, ela externou a preocupação em não ter integrantes do governo envolvidos no escândalo. Um dos nomes que ficaram de fora do primeiro escalão por ter sido citado é o do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Se não aparecer na lista dos denunciados, ele volta a fazer parte do grupo de possíveis ministeriáveis, e a tendência é que ele ocupe o posto do ministro do Turismo, Vinícius Lages.
Enquanto o Supremo não se manifesta quanto às delações premiadas, a expectativa de aliados para que a presidente contorne o desgaste é investir em projetos que endureçam as regras contra a corrupção. Além da aposta na reforma política, eles esperam que ela, enfim, regulamente a Lei Anticorrupção.
O PMDB, principal aliado da presidente, também se tornou o principal calo do Planalto na corrida pelo comando da Câmara dos Deputados. A decisão do partido de apoiar o líder da legenda, Eduardo Cunha, não foi bem digerida pelo governo, especialmente devido ao histórico de conflito entre o parlamentar e o Executivo federal. É o presidente da Casa, por exemplo, quem define a pauta de votações, engaveta projetos, escolhe as prioridades e analisa pedidos de impeachment.
A indicação da senadora e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, para o Ministério da Agricultura deixou aliados da petista inconformados. Conhecida pela atuação entre os ruralistas, a nomeação de Kátia foi interpretada como uma afronta aos militantes que defendem a reforma agrária e que têm laços com movimentos rurais.
A revolta da senadora Marta Suplicy, do PT-SP, externou fragilidades do partido. Enquanto parte dos correligionários se uniram para apoiar a indicação de Juca Ferreira para o Ministério da Cultura – duramente criticada por Marta –, outros petistas endossaram a insatisfação da parlamentar. Segundo ela, o PT precisa se reinventar, ou morrerá.
Além de Kátia Abreu e Juca Ferreira, outros nomes que integraram o rearranjo da Esplanada incomodaram aliados da presidente. PT, PMDB e PP têm a cota de reclamações. Já os cargos em superintendências e órgãos ligados aos ministérios se tornaram alvo de uma disputa feroz entre os partidos aliados.
Passada a campanha, a presidente começou a adotar medidas econômicas que prometeu não tomar, como mudança nas leis trabalhistas e aumento de juros. E vem mais arrocho por aí, com o aumento de impostos, da luz e da gasolina.
A expectativa é de que, a partir de fevereiro, o Ministério Público Federal lance nova etapa da Operação Lava-Jato. Desta vez, estarão na mira políticos envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras. Delatores do escândalo, como Paulo Roberto Costa, mencionaram a participação de PT, PMDB e PP, e o Planalto teme que o aprofundamento da crise respingue em aliados.