Duas lições da dramática crise atual são a necessidade de reservas internacionais maiores e de reforço dos financiamentos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, na avaliação de bancos centrais de países emergentes reunidos ontem na reunião do Banco para Compensações Internacionais (BIS), na Basileia (Suíça).
A constatação respalda a política do Banco Central do Brasil, de que as reservas internacionais do país não estão ainda no nível adequado e têm que ser reforçadas, o que significa continuar comprando dolares.
Na prática, o movimento freia a apreciação do real, e a Argentina voltou a reclamar de “depreciação competitiva”, sem citar nominalmente o Brasil na reunião dos BCs. Alegou que a maneira de aumentar as reservas de alguns países acaba prejudicando parceiros.
Para certas fontes, o problema da Argentina é ter feito tabelamento do câmbio, que não controla a taxa real, sofrendo agora duras consequências em meio à crise financeira global.
Segundo um participante da reunião do BIS na Basileia, gerou “perplexidade” entre banqueiros presentes a preocupação agora no Brasil sobre apreciação do real em vista de maior fluxo de capital externo.
As indicações são de que o fluxo de capitais para o país aumentou, mas não muito, mas é uma reversão de tendência. Se essa reversão será persistente, as autoridades monetárias consideram impossível prever, pelo menos por enquanto.
Um quadro que circulou ontem em Basileia mostrava que a moeda brasileira sempre valoriza quando o preço das commodities sobe e quando a aversão ao risco diminui. O mesmo fenômeno ocorre com outros exportadores de matérias-primas como Rússia, Chile, Africa do Sul etc.
Segundo um participante, a crise mostrou que o nível de reservas internacionais adequada é maior do que se esperava antes. E que é preciso ao mesmo tempo ter uma situação macroeconômica sólida.
De acordo com esse mesmo participante, é uma situação semelhante ao teste de estresse dos bancos: é preciso saber qual o tamanho da crise para saber qual a necessidade de capital necessário. É importante que os bancos tenham liquidez suficiente, mas se a inadimplência crescer esse mesmo capital já não resolve.
Na avaliação das autoridades monetárias, algo que deu certo para afrontar a crise foram os empréstimos das reservas do Brasil para rolagem de dívida em dólar das empresas. Se saíram mal na crise os países com volume importante de reservas internacionais, mas muito vencimento de curto prazo. Ou os que não tinham reservas e tinham déficit em conta corrente elevado, como os países do Leste europeu.
Outro erro foram as vendas de quantidades muito grandes de dólar no mercado à vista, quando o problema parecia estar nos derivativos. O Brasil por exemplo só vendeu US$ 14 bilhões em dolares à vista, enquanto a Rússia queimou US$ 200 bilhões.
A situação varia muito entre os emergentes. A China está em situação mais confortável, “tranquila e serena”, sentada em US$ 2 trilhões de reservas. Em seguida, vem o Brasil, com uma situação vista como “boa”. O BC vem indicando que na compra de dolares para aumentar as reservas não olha a cotação, mas principalmente o fluxo líquido de recursos.