O Banco Central inverteu ontem a sua rota habitual de intervenção no câmbio e, ao invés de vender dólares, comprou moeda no mercado futuro. Depois de quase oito meses sem comprar dólares, o BC colocou ontem 67,6 mil contratos de swap cambial reverso, com vencimento em 1º de junho. Por meio deles, adquiriu US$ 3,41 bilhões. E, supostamente, impôs um piso à queda do dólar. Como a operação foi desfechada quando a cotação da moeda à vista ameaçava romper R$ 2,10, os analistas entenderam que esse é o preço mínimo tolerado pela autoridade. O BC parece querer evitar declínio muito acentuado do câmbio capaz de atrapalhar as exportações. Por sua assessoria, o BC desmentiu esse propósito. Fez o leilão para absorver expansão do fluxo externo e reiterou que não trabalha com piso, teto ou qualquer meta para a taxa de câmbio.
Com a venda dos swaps reversos, o BC reverteu a tendência de queda do dólar. A moeda americana fechou ontem com valorização de 0,84%, a R$ 2,1480. Mas como o dólar havia caído 2,33% na segunda-feira, no acumulado de maio ainda registra baixa de 1,51%. O dólar desvaloriza-se pesadamente desde março. Nos últimos dois meses, tombou 7,97%, impondo grave prejuízo aos detentores dos swaps normais, os que pagam a variação cambial, descontada a taxa Selic. Neste ano foram vendidos R$ 16 bilhões desses contratos. Ao voltar a colocar os reversos, o que não fazia desde 29 de setembro, o BC proporciona indiretamente a possibilidade de redução das perdas, já que os novos contratos são remunerados com base na variação da Selic. O risco cambial passa a ser assumido pelo BC. Se o reverso é um instrumento perfeito de oferecimento de liquidez às instituições interessadas em sair dos swaps cambiais tradicionais, é deficiente se o objetivo da autoridade for o de conter a onda de reapreciação cambial.
A própria lógica de remuneração do reverso exige que o dólar continue em queda. Num primeiro momento, o de compra do contrato, o dólar sobe para permitir que o preço de partida seja elevado, o que torna mais fácil a derrubada posterior. Foi por isso que a cotação subiu ontem. Mas depois ela só cairá, caso contrário o comprador não terá ganho. Como o banco que adquire o swap reverso recebe do BC a Selic e paga a ele a variação cambial, o dólar não poderá subir pois a alta tenderia a anular a remuneração pela Selic. Ao contrário, se o dólar cair, além da taxa básica, o banco credor ganha a variação cambial negativa. Ou seja, ao contrário de estimular a alta do dólar, ao vender os swaps reversos o BC faz justamente o contrário. Isso só pode indicar que, na verdade, a autoridade está com vontade de ressuscitar a âncora cambial contra a inflação. E forçar o declínio do dólar para aquém do patamar de R$ 2,00. Se até o vencimento dos 67,6 mil swaps reversos vendidos ontem, o dólar cair de R$ 2,1480 (cotação de fechamento de ontem) para R$ 2,00, os bancos credores do BC irão lucrar em menos de um mês 6,89% mais 1% da Selic. Esse ganho quase anula a perda sofrida por eles em março e abril com o carregamento dos swaps tradicionais.
Para o diretor da corretora NGO, Sidnei Nehme, o retorno dos swaps reversos é “inoportuno”, pois ocorre quando cessa a especulação “comprada” em dólar futuro. A volta do swap pode aplainar o caminho para as armações dos “vendidos”, estimulando a apreciação cambial, se a crise externa não recrudescer. “Se o BC permanecesse fora do mercado futuro, a cotação à vista iria oscilar entre R$ 2,00 e R$ 2,10, um preço muito conveniente para o comércio exterior. Agora, a tendência é de queda acentuada pois os compradores precisam rentabilizar os seus reversos em apenas um mês”, adverte o economista. “Novamente a formação do preço ficará à mercê da especulação deflagrada pelos investidores externos”. Para o corretor, o BC optou entrar pela “porta errada”. Se estivesse detectando uma sobra de dólares, como faz crer sua assessoria, a solução seria comprar moeda à vista e recolhê-la às reservas. Essa operação não poderia ser usada pelos hedge funds como incentivo à especulação. Os operadores estão muito interessados em saber se o leilão de reversos feito ontem será seguido por outros até o fim do mês, ou se o de ontem, limitado a zerar a posição “vendida” do BC que irá vencer no dia 1º, de valor quase idêntico, esgotou-se em si mesmo. Neste último caso, o efeito sobre o preço seria neutro. Mas, se é assim, por que o BC zeraria antecipadamente uma posição que estava proporcionando vasto lucro?