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18 de abril de 2024Se todo o potencial da cogeração (autoprodução) de energia elétrica a partir do gás natural estivesse sendo aproveitado somente no Rio e em São Paulo, cerca de R$ 5 bilhões por ano estariam sendo economizados com a redução do uso das usinas térmicas, que operam a plena carga devido ao baixo nível dos reservatórios. A cogeração é a produção simultânea de mais formas de energia a partir de um único combustível. O cálculo feito pela Cogen, associação do setor, com base em dados da Abegás, que reúne as empresas de gás canalizado do país, leva em consideração que as empresas gerem a partir de seu processo produtivo a energia elétrica que será consumida. Hoje, a economia é de R$ 2,5 bilhões por ano — ou R$ 7 milhões por dia —, já que existem apenas 74 plantas de cogeração a gás no país em operação, que consomem 2,4 milhões de metros cúbicos por dia, gerando cerca de 450 Megawatts (MW) médios.
Segundo Sérgio Luiz da Silva, presidente da Cogen, se indústrias e empreendimentos comerciais, como shopping centers, aproveitassem todo o potencial de gás existente hoje da sobra contratual das distribuidoras de Rio e São Paulo, dobraria a economia com a redução térmica. Juntas, CEG e Comgás têm hoje uma sobra (de curto prazo) de, pelo menos, 500 MW para novas plantas de cogeração, ou seja, energia suficiente para abastecer uma cidade de 1,5 milhão de habitantes.
FALTA INCENTIVO TRIBUTÁRIO
Além de gerar energia elétrica, o sistema de cogeração permite canalizar o vapor da queima do gás, gerando calor, usado em geral pelas fábricas, ou produzindo água fria, para climatização. Especialistas ouvidos pelo GLOBO são unânimes em afirmar que a cogeração poderia exercer papel fundamental para aliviar os gastos do governo com o atual nó do setor elétrico. Só com as distribuidoras, os gastos extras devem somar, ao menos, R$ 12 bilhões neste ano com a compra de energia mais cara no mercado à vista, cujos preços estão no teto estabelecido pelo governo. Porém, afirmam que é preciso incentivar o avanço das plantas de cogeração.
Na lista de reivindicações do setor estão a falta de incentivos tributários para compra de equipamentos, como já ocorre para a aquisição nas térmicas, e a restrição técnica e regulatória para vender a energia excedente, que é gerada no processo, para as distribuidoras.
— O modelo carece de ajustes, não somente pelo atual momento, mas pelo perfil da nossa matriz, cada vez mais com usinas hidrelétricas a fio d’água (sem reservatório) e termelétricas operando o tempo inteiro, tudo muito distante dos centros de demanda. As fontes renováveis, como biomassa, eólicas e solar, terão sempre papel importante, mas há espaço para outras alternativas. A cogeração está nos centros de demanda, nas áreas da rede de distribuição das regiões metropolitanas, gerando redução de investimentos e de custos em transmissão e distribuição, e reduzindo as perdas técnicas, proporcionando diversidade da matriz, com qualidade e confiabilidade — disse Silva, da Cogen.
A Abegás lembra que, se houvesse maior geração elétrica a partir do gás pelas próprias empresas, haveria menor necessidade de importação, pela Petrobras, do Gás Natural Liquefeito (GNL), cujos preços estão no maior patamar desde 2008 no mercado internacional, entre US$ 17 e US$ 18 por milhão de BTU (unidade internacional do gás). Entre janeiro e março, as compras de GNL pela estatal somaram 18,8 milhões de metros cúbicos por dia, alta de 47% em relação ao último trimestre de 2013.
Apesar da importância e do papel que a cogeração pode exercer no atual cenário energético, Alexandre Szklo, professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, ressalta que o ponto nevrálgico para o desenvolvimento da geração própria é o consumo preferencial do gás pelas térmicas. Para a indústria, esse tipo de preferência pode acarretar problemas pontuais de oferta de gás. Entidades como a Firjan, a federação das indústrias do Rio, dizem que a falta de um planejamento no uso do gás impede novos investimentos fabris, uma vez que não se sabe qual será a oferta de gás ao mercado a médio e longo prazos.
— Em 2001, na crise do setor energético, muitas empresas passaram a investir em cogeração como segurança de fornecimento de energia para a própria empresa. Ou seja, a cogeração virou uma espécie de seguro contra racionamento e apagão. Nos EUA, o investimento em cogeração começou após o segundo choque do petróleo (1979) por incentivo do próprio governo. Com isso, é comum as companhias terem seus próprios sistemas — explica Szklo.
INVESTIMENTO DE RETORNO RÁPIDO
Há cerca de um ano, a DeMillus, fabricante de peças íntimas, decidiu investir R$ 5,2 milhões em cogeradores para aumentar a sua segurança energética e reduzir os custos com energia. Segundo Abdalla Chafic Haddad, presidente da empresa, a economia mensal tem sido por volta de R$ 250 mil. Ele explica ainda que, pela cogeração ser pouco usada no país, teve de contratar uma consultoria, a espanhola Lonjas, para fazer o estudo de viabilidade:
— Percebemos que em dois anos e três meses teremos o retorno sobre o investimento. Com a cogeração, produzimos energia elétrica e com o vapor resultante do processo produzimos calor e água fria para nosso processo fabril. Ficamos com uma planta mais segura. A cogeração precisa ser mais conhecida pela indústria. Além disso, falta vontade política para fazer a cogeração crescer, já que poderia vender a energia que produzo a mais, mas há entraves fiscais e regulatórios.
Segundo a Abegás, é preciso planejamento. A associação cita o cronograma de investimentos nos EUA, que prevê expansão de cogeração de 40GW (mais de dez vezes o mercado de SP) até 2020. Hoje, segundo a Cogen, Rio e São Paulo consomem quase um milhão de metros cúbicos de gás por dia. O potencial de geração própria nos dois estados, diz a Cogen, chega a 20,5 milhões de metros cúbicos por dia. E desenvolver esse mercado com políticas de incentivo é essencial, diz a Abegás, lembrando que a partir de 2016 haverá aumento de oferta de gás por conta da produção do pré-sal. Segundo a PPSA, estatal que vai gerir os contratos de partilha do pré-sal, só as reservas de gás na área de Libra, na Bacia de Santos, são estimadas entre 314 bilhões e 470 bilhões de metros cúbicos. A reserva provada hoje da Petrobras é de 426 bilhões de metros cúbicos.