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Por Marcelo OnagaEXAME Em abril deste ano, o Grupo Rede, conglomerado de empresas de energia controlado pelo empresário Jorge Queiroz de Moraes Júnior, passou a discutir com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a negociação de uma dívida de 1,2 bilhão de reais. Um mês depois, trocou a empresa que auditava suas contas — no lugar da Boucinhas & Campos, entrou a BDO Trevisan, consultoria de Antoninho Marmo Trevisan, tradicional empresário do setor e amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva há 15 anos. A troca, que em outras circunstâncias seria encarada como um movimento absolutamente normal, gerou uma série de especulações. E o motivo não foi outro senão os laços de amizade que unem Trevisan e o principal mandatário da nação. \”O Rede buscou a Trevisan sob pressão do BNDES para fazer o processo andar no banco\”, afirma um executivo próximo à negociação. De acordo com ele, o grupo tentava, desde 2003, ter acesso a recursos do BNDES. Sem sucesso. Entre concorrentes de Trevisan, surgiu então a especulação de que a troca seria uma busca por um atalho para a realização da operação financeira — que até hoje não foi concretizada. Todos os envolvidos negam qualquer manobra nesse sentido.
Os nomes de Trevisan e de sua empresa foram para a berlinda desde que o presidente Lula chegou ao poder. Nesse período, os serviços de auditoria e de consultoria prestados pelo empresário viveram um crescimento inédito em suas mais de duas décadas de existência. Nos dois primeiros anos do governo Lula, o faturamento da Trevisan dobrou — de 40 milhões de reais, em 2002, para 80 milhões de reais, no ano passado. No mesmo intervalo de tempo, a empresa ampliou o número de clientes auditados com ações listadas na Bovespa de 28 para 40 — crescimento de 43%, depois de quedas sucessivas em 2001 e 2002. Foi um desempenho muito superior ao dos principais concorrentes. Nesse período, a multinacional Deloitte, líder de
mercado, viu sua clientela crescer apenas 5%. A carteira da PricewaterhouseCoopers caiu quase à metade. Desde o início do atual governo, a Trevisan foi do quinto para o terceiro lugar no ranking das auditorias da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), deixando para trás nomes de peso como KPMG e Ernst & Young.
É preciso dizer que não há absolutamente nada de errado com esse desempenho. Movimentações de mercado — com crescimento para uns e retração para outros — fazem parte do jogo dos negócios. Mas é também natural que Trevisan esteja hoje sob o olhar acurado de seus concorrentes.
No Brasil e em qualquer outro lugar do mundo, a proximidade com o poder chama a atenção, para o bem e para o mal. Não seria de espantar que alguns empresários vissem em Trevisan uma boa companhia em tempos de governo petista. Não seria um absurdo, também, que Trevisan, como experiente empresário, se aproveitasse licitamente de um bom momento de mercado. Da mesma forma, é até certo ponto normal que a concorrência fique agastada com essa situação. Os holofotes, porém, têm incomodado Trevisan, preocupado com as possíveis reações que a vinculação de seu nome ao governo possam causar a seu negócio. \”Nem sou tão amigo do presidente Lula, não freqüento sua casa e não jogo futebol com ele\”, diz. \”Se eu tivesse todos os poderes que me atribuem, seria o auditor da Petrobras e do Banco do Brasil, as melhores contas do país.\” (Atualmente, na carteira da Trevisan constam 14 estatais — entre elas Eletrobrás e Itaipu, contas recém-conquistadas.)
Amigo de Lula desde 1990 — quando foi procurado pelo então candidato derrotado à Presidência da República para discutir questões econômicas –, Trevisan tornou-se uma espécie de conselheiro informal do atual presidente. No fim de 2002, com Lula finalmente eleito, ficou responsável pela formação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, reunindo empresários, sindicalistas, políticos e representantes do Terceiro Setor. Defensor de longa data da moralidade nos negócios e na administração do Estado, assumiu também um posto na Comissão de Ética Pública da Presidência e continuou a participar de diversas ONGs, como o Instituto Ethos, dedicado às questões de responsabilidade social
empresarial, e a Associação dos Amigos de Ribeirão Bonito, sua cidade natal, no interior de São Paulo. Após denúncias feitas por Trevisan e por outros cidadãos ilustres, o prefeito de Ribeirão Bonito foi cassado por corrupção. O fato ganhou repercussão nacional e transformou-se num modelo de fiscalização do uso dos recursos públicos.