Em almoço fechado para 70 empresários da Câmara de Comércio França-Brasil, ontem, em São Paulo, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, teria afirmado, segundo relato de pessoas presentes no evento, que sua permanência por oito anos à frente da instituição foi o bastante e vê que seu papel estará cumprido no fim desse período.
Segundo esses dirigentes de empresas, que pediram para não ser identificados, Meirelles também reiterou que o próximo presidente da República não deve mudar as bases da política macroeconômica, como a busca da inflação baixa, o regime de câmbio flutuante e o rigor fiscal.
Segundo um empresário francês, Meirelles destacou que o Brasil é um País com economia estável e previsível e possui uma história de vários anos de estabilidade. De acordo com o executivo, o presidente do BC disse que no País “não é possível alterar os juros e o câmbio por decreto”. Na avaliação dessa fonte, o comentário de Meirelles teria sido uma crítica indireta ao governador de São Paulo, José Serra.
Em entrevista recente à revista Veja, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (CE), afirmou que, caso Serra seja eleito presidente da República, ele vai alterar o nível dos juros e do câmbio. Esses comentários causaram um pouco mais de insegurança a um segmento de empresários para quem, se suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano seria “mais voluntarista” para mexer no câmbio e nos juros do que uma eventual administração de Dilma Rousseff.
O empresário que relatou a frase de Meirelles, por outro lado, não descartou que a afirmação do presidente do BC tivesse como destino o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já fez várias críticas ao nível elevado da taxa básica de juros, a Selic, e da cotação sobrevalorizada do real ante o dólar dos EUA. Contudo, é notório o bom relacionamento público entre Mantega e Meirelles nos últimos tempos. O ministro da Fazenda chegou a ressaltar há uma semana, num evento, que, se a inflação subir e ameaçar a meta de inflação, os juros subirão.
De acordo com empresários, Meirelles também teria dito que a partir do próximo ano gostaria de atuar na esfera federal, pois assim seria melhor para contribuir com o seu legado, que é a estabilidade macroeconômica. Mas, para isso ocorrer, seriam necessárias duas condições importantes. A primeira é ser convidado para trabalhar na administração do próximo presidente da República. O segundo fator relevante para ele, Meirelles, seria decidir se aceita ou não o cargo oferecido.
Na palestra para os empresários, na qual fez uma avaliação da evolução da economia brasileira nos últimos anos, o presidente do BC repetiu que são maiores as chances dele permanecer no cargo até o fim do ano.
Meirelles ressaltou, no final do evento, que uma candidatura ao cargo de governador teria baixa probabilidade de ocorrer. No meio político, especula-se que o presidente do BC poderia ser candidato do PMDB ao governo de Goiás.
Segundo os empresários, em nenhum momento o presidente do BC disse que preferia ser candidato a vice-presidente da República numa chapa encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Meirelles também não fez nenhuma menção sobre o processo interno do PMDB para escolher o nome do partido que deverá acompanhar Dilma à disputa ao Palácio do Planalto. Ele reiterou que seu futuro só será decidido em março, quando se encerra o prazo para deixar o posto para concorrer a algum cargo eletivo.