O ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que disputou a
eleição presidencial em 2010, defendeu ontem em Porto Alegre a inclusão
do voto distrital para eleições parlamentares na reforma política que
está sendo discutida no Congresso Nacional.
Para o tucano, o
sistema atual é caro, enfraquece os partidos e distancia o eleitor do
eleito. Ele entende que o novo modelo baratearia as campanhas, por
definir um espaço onde os candidatos focarão sua propaganda, ao invés de
percorrerem toda a cidade, no caso dos vereadores, ou todo o Estado,
para os deputados.
Também avalia que os partidos sairiam
fortalecidos, ao trabalharem suas bases eleitorais por área e ao
evitarem a disputa por voto entre correligionários. E conclui que a
cobrança da população seria facilitada, pela proximidade física entre o
político e o eleitor.
“Mesmo como senador ou governador, as
pessoas do bairro onde eu moro em São Paulo apelavam a mim quando tinham
algum problema, como a construção de um prédio grande que eles eram
contra. Isso porque o meu bairro, Alto de Pinheiros, não é representado
por nenhum vereador”, exemplificou, durante palestra na reunião-almoço
Tá na Mesa, da Federasul.
Serra também informou que buscou dados
em pesquisas sobre a lembrança do eleitorado e disse que elas apontam
para um número espantoso: 70% das pessoas não lembram em quem votaram
nas últimas eleições para vereador ou deputado.
“Isso acontece
pela quantidade imensa de candidatos. Com o voto distrital, serão apenas
cinco ou seis disputando, porque nem todos os partidos apresentarão
candidato em cada um dos distritos. Porto Alegre, que tem 1 milhão de
eleitores, seria dividida em áreas de 30 mil eleitores”, estimou.
O
tucano projeta que é possível aprovar até o início de outubro no
Congresso – mais de um ano antes do próximo pleito – regras que entrem
em vigor nas eleições municipais de 2012. E destaca o voto distrital.
“Seria
um grande avanço. E se o modelo implementado tiver um resultado
positivo, diminuem as restrições dos deputados, que temem exatamente a
mudança das regras do jogo para um novo formato. Com isso, a tendência
será usar o voto distrital também para as eleições de deputados”,
apontou.
Serra sugere que o voto distrital seja aplicado apenas
em municípios com mais de 200 mil eleitores, que têm segundo turno. “Nas
cidades menores fica mais fácil conhecer o vereador.”
Citou
ainda a possibilidade de adoção de voto distrital misto – em que são
eleitos, além dos que receberem mais sufrágios por área, também os
primeiros das listas partidárias -, embora tenha se manifestado contra o
voto em lista fechada e a favor de voto distrital puro nas grandes
cidades.
Ele ressalvou que aceitaria lista fechada no
parlamentarismo, mas que no presidencialismo não acredita que, neste
momento, o formato teria bons resultados. “Até por uma questão de
cultura; hoje o voto é totalmente individual. Com as listas, as
individualidades seriam anuladas, a exceção de duas ou três lideranças
por partido. Então, seria uma mudança muito brusca.”
Serra atrela
o financiamento exclusivamente público de campanha à lista fechada e
por isso manifestou ser contrário ao modelo. Disse que o sistema não
evitaria a burla – busca de recursos privados ou públicos por fora, isto
é, caixa-2 – e questionou como seria a distribuição do dinheiro.
“Imagino
que cada candidato receberia o mesmo valor para disputar a eleição. Sem
qualquer risco ou ônus e garantido o repasse de recursos, isso poderia
causar uma ‘indústria de candidaturas’ em busca desses recursos”,
criticou.
erguntas
sobre o enfraquecimento da oposição, perda de quadros do DEM e do PSDB
para o PSD, de Gilberto Kassab, pautaram a coletiva de imprensa de José
Serra (PSDB), antes de sua palestra na Federasul. Na conversa de menos
de 30 minutos com os jornalistas, o tucano arriscou apenas dizer que a
perda de quadros do DEM para o PSD “não ajuda a oposição”. Evitou
analisar as declarações do ex-presidente do DEM Jorge Bornhausen de que
“há um vácuo na oposição” e que o espaço de “liderança do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ainda não foi preenchido”, nem disse
categoricamente que não será candidato à presidência da República em
2014. Apenas descartou disputar a prefeitura de São Paulo em 2012. E
disse que os boatos de que pretende se filiar ao PSD são fofoca. Na
palestra, Serra ressaltou que a oposição é fundamental e que até
eleitores da presidente Dilma Rousseff (PT) esperam que ela exista. “O
problema da oposição não é ter perdido a eleição, mas não ter encontrado
um caminho”, admitiu.
Durante
sua passagem por Porto Alegre ontem, José Serra (PSDB) se reuniu com o
governador Tarso Genro (PT). O tucano palestrou na Federasul e tomou um
café com o petista no Palácio Piratini, no início da tarde. Convidado em
cima da hora por Tarso – a visita nem estava na agenda do governador -,
Serra compareceu ao seu gabinete acompanhado por deputados estaduais do
PSDB.
Nos 20 minutos de reunião, ambos conversaram sobre reforma
política e o governador comentou com o tucano sobre o clima político no
Estado, que considera ser “muito bom, de muito diálogo”.
Na
saída, trocaram elogios mútuos na frente da imprensa. Serra disse que
tem “muita satisfação” em visitar o petista. “Tarso Genro tem um peso
importante como governador do Rio Grande e também no seu partido, que
hoje tem o maior número de parlamentares no Brasil”, declarou o tucano.
Tarso lembrou que conhece Serra há tempo e que já conversou com ele em
outras oportunidades. “Temos um respeito muito grande um pelo outro. É
um quadro político inteligente e respeitável do País e sua visita
valoriza nosso governo.”
Questionado sobre as críticas de Serra
ao governo Dilma Rousseff (PT) e à “herança maldita” de Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) – a inflação -, o governador Tarso Genro brincou: “Ele
não comentou isso comigo. Se não, iríamos falar de heranças mútuas”.
Serra
chegou em Porto Alegre no final da manhã de ontem e regressou a São
Paulo à tarde. Disse que não visitaria a ex-governadora Yeda Crusius
(PSDB) por falta de tempo. A tucana não compareceu à palestra do colega
de partido na Federasul.
Depois
de palestrar na Federasul, José Serra (PSDB) visitou o governador Tarso
Genro (PT) no Palácio Piratini. Os dois trocaram elogios, apesar de
terem ideias divergentes, o que foi evidenciado pela fala do tucano na
reunião-almoço Tá na Mesa. Ele relacionou o fim das atividades da
unidade da Vulcabrás-Azaleia, em Parobé, à política cambial e à taxa de
juros do governo Dilma Rousseff (PT). Na véspera, Tarso havia feito
duras críticas à Azaleia, por ter recebido incentivos fiscais do governo
e ter fechado as portas.
“O Rio Grande é o maior prejudicado por
essa política de juros altos e de arrocho cambial. Isso prejudica a
indústria nacional. Aliás, o País já está no caminho da
desindustrialização”, criticou Serra.
O tucano classificou o
governo Dilma como “hesitante” e disse que a petista recebeu “uma
herança maldita” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), num
quadro de aceleração da inflação. Também criticou a demora nas obras de
infraestrutura e a piora no policiamento das fronteiras, por onde entram
armas e drogas.
“Queremos respostas a essas questões. Quem está
no governo tem que governar”, resumiu Serra, que agradeceu aos gaúchos
pela vitória no segundo turno da eleição presidencial de 2010, já que
ontem foi sua primeira visita ao Estado neste ano.