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De férias em Galápagos, num barco isolado do mundo em que sequer havia TV, John Williamson leu na internet a frase síntese do encontro do G-20 na semana passada: “O Consenso de Washington está superado”, afirmou o primeiroministro britânico Gordon Brown. Williamson é o autor do texto que, em 1989, mencionava um “consenso em Washington” com a receita para a América Latina sair da crise, cunhando a expressão que se tornou sinônimo de neoliberalismo econômico. Ontem, ao voltar ao trabalho em Washington, Williamson garantiu ao GLOBO que o G-20 não negou sua doutrina, citando trechos específicos do comunicado do encontro: “no parágrafo 11, há o compromisso com sustentabilidade fiscal”.
O GLOBO: O primeiro-ministro britânico Gordon Brown afirmou, ao fim do encontro do G20, que “o velho Consenso de Washington havia acabado”. O senhor concorda?
JOHN WILLIAMSON: O termo Consenso de Washington tem sido usado de diferentes maneiras.
Se for usado do modo como eu originalmente usei, é surpreendente que, a partir do comunicado final de Londres, alguém tente negar o Consenso de Washington, pois ambos tratam da mesma coisa. É claro que o comunicado vai além do Consenso de Washington, porque traz outros temas, está dirigido a um outro público, mas seria decepcionante se as discussões em Londres não trouxessem novidades.
Alguns analistas falam num Consenso de Londres, que receitaria mais regulamentação dos mercados e aumento dos gastos públicos, em oposição ao Consenso de Washington.
WILLIAMSON: Eu fui infeliz ao usar o termo desregulamentação no documento original do Consenso de Washington. Isso foi interpretado como se devesse ser aplicado a diferentes tipos de mercados, em diferentes países, quando eu me referia a setores específicos da economia americana. No que diz respeito aos mercados financeiros, eu não previ, como deveria ter previsto, que haveria uma liberalização sem a contrapartida de mais supervisão.
Supervisão e regulamentação são coisas diferentes.
Então é preciso mais supervisão dos mercados?
WILLIAMSON: Sim, certamente.
E no que diz respeito à regulamentação, o importante não é aumentar a regulamentação, mas sim basear as regras em bons princípios. Eu acho que os princípios estavam errados. Do ponto de vista macroeconômico, não se acreditava que um número tão grande de empresas poderia ser atingida por um choque negativo ao mesmo tempo.
Só se previu a possibilidade de choques microeconômicos independentes entre si. Isso é ma regulamentação. Outro problema foi encorajar todo tipo de empresa financeira a crescer até o ponto em que se tornaram grandes demais para quebrar.
Então, a má regulamentação traz mais problemas do que a ausência de regulamentação.
E o aumento nos gastos públicos defendido em Londres?
WILLIAMSON: Na versão final do comunicado de Londres, no parágrafo 11, está citado o compromisso com “sustentabilidade fiscal de longo prazo” e “estabilidade de preços”. Então, o fato de que temporariamente — e eu espero que seja temporariamente — ser necessário políticas fiscais expansionistas não pode ameaçar a inflação baixa.
O FMI anunciou que vai flexibilizar condicionalidades de algumas linhas de crédito emergencial. Qual será o papel do Fundo nesta crise?
WILLIAMSON: O principal papel do FMI será decidir se os problemas de um país são resultado de suas próprias políticas ou se são consequência da deterioração da economia mundial. No segundo caso, é correto que o FMI empreste com poucas condicionalidades.
Mas, normalmente, este não é o caso. E aí não há muita opção. Tem que desvalorizar a moeda para ajustar a demanda interna. Mas é muito importante que o FMI reconheça que há dois tipos de situação totalmente distintas.
A crise parece estar atingindo de forma mais dura a Europa do Leste. Em que situação se enquadram esses países?
WILLIAMSON: A Europa do Leste precisa desesperadamente de disciplina fiscal. Esses países estão em crise por causa das políticas econômicas que fizeram. Essa crise teve início nos países desenvolvidos, cresceu e foi transmitida para países como o Brasil.
Mas o Brasil e a América Latina estão resistindo melhor (do que os países emergentes da Europa).
O Consenso de Washington defendia a privatização de empresas estatais. Agora, muitos bancos têm sido estatizados na Europa e alguns analistas acreditam que isso poderá ser inevitável nos EUA.
WILLIAMSON: O ideal seria evitar a nacionalização, mas, em alguns casos, infelizmente, essa pode ser a opção mais barata (para o contribuinte) e se tornar inevitável.