A manutenção dos juros em seu menor patamar histórico e a mudança nas regras de remuneração da caderneta de poupança estão levando investidores a procurar aplicações financeiras que possam ser mais rentáveis este ano. A maioria não quer correr grandes riscos em aplicações financeiras como ações: pesquisa encomendada no fim do ano passado pela BM&FBovespa, já num cenário de juro mais baixo, mostrou que apenas 1% dos brasileiros tem investimentos em renda variável. Nessa hora, por falta de educação financeira, muita gente acaba sendo vítima de “pegadinhas” que, em vez de potencializar os ganhos, acabam reduzindo a rentabilidade. Confira dez armadilhas que podem prejudicar o investidor que está procurando alternativas à poupança na renda fixa, segundo especialistas:
1 – Inflação – Mesmo em níveis mais baixos do que no passado, a inflação corrói o poder de compra das pessoas. Se uma aplicação financeira oferece um ganho menor do que a alta do custo de vida, na prática, o investidor não tem rentabilidade real. A poupança, por exemplo, quase empatou com a inflação e ofereceu um ganho real pífio. Na ponta do lápis, em 2012, o rendimento real da caderneta foi de 0,6%, o menor desde 2004. Rodrigo Souza, diretor da HP Invest, uma assessoria de investimento, alerta que é preciso comparar o rendimento oferecido pelos fundos de renda fixa com a inflação projetada para saber de quanto será a rentabilidade real.
2 – CDI não é taxa fixa – Os bancos passam ao cliente a impressão de que o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) é uma taxa fixa, sem variação, de cerca de 1% ao mês. Na verdade, a taxa mensal do CDI equivale atualmente a cerca de 0,65% e ela não é fixa. O CDI é negociado exclusivamente entre bancos, e sinaliza aos investidores o custo do dinheiro no mercado interbancário. Essas transações são realizadas por meio eletrônico e registradas na Cetip (Câmara de Custódia e Liquidação). A taxa média diária do CDI é usada como referência para o custo do dinheiro (juros). Ela é variável e oscila conforme a expectativa de elevação ou redução da taxa básica da economia brasileira, a Selic, atualmente em 7,25% ao ano.
3 – Cobrança de taxa de performance – Muitos gestores de fundos de investimento cobram uma taxa de performance quando conseguem um retorno melhor do que um determinado indicador, como o CDI. Mas a cobrança dessa “taxa de sucesso” nem sempre é informada com clareza ao cliente e nem a maneira como ela é cobrada. Em tempos de juros baixos, fixar uma taxa de performance de um fundo de renda fixa que oferece mais do que 100% do CDI reduz a rentabilidade. Considerando Imposto de Renda e taxa de administração, que também são cobrados, é bem provável que o fundo renda abaixo da poupança em alguns casos. Faça as contas.
4 – Ganho além do CDI – Muitos bancos oferecem como remuneração de seus produtos de renda fixa, 100% da taxa do CDI mais um percentual extra. O que os gerentes de bancos esquecem de dizer, lembra Rodrigo Souza, da HP Invest, é que o percentual extra incide apenas sobre o CDI e não sobre todo o investimento. O banco não vai remunerar o CDB em 0,65% (100% da rentabilidade do CDI) mais 4%, por exemplo. O banco dará ao cliente os 0,65%, mais 4% sobre o CDI. Portanto, a rentabilidade do CDB oferecido será de 0,68%. O investidor precisa ficar atento a isso.
5 – Cuidado com o CDB Progressivo – Os CDBs Progressivos são uma modalidade de aplicação em que o percentual do CDI que baliza a remuneração aumenta com o tempo de aplicação. O problema é que, num cenário de queda de juros, existe o risco de que o CDI caia. Se isso acontecer, os 100% do CDI que hoje representam uma rentabilidade de cerca de 0,65%, se transformem em 0,55%.
6 – Venda casada – O Código de Defesa do Consumidor proíbe esta prática. Ela acontece quando o consumidor, ao adquirir um produto, é obrigado a levar outro. Há casos em que para conseguir a aprovação de um empréstimo, o cliente leva um título de capitalização ou seguro. Isso também acontece em produtos financeiros. Com a promessa de conseguir uma rentabilidade melhor, o cliente que aplicou no CDB é obrigado a levar também um título de capitalização, seguro ou um novo cartão de crédito.
7 – Título de capitalização – Os populares títulos de capitalização não são produtos de investimento. Os títulos são vendidos com o argumento que de remuneram como a poupança, além da possibilidade de concorrer a prêmios em sorteios. Na verdade, os títulos de capitalização não têm rentabilidade mínima. Parte do pagamento mensal vai para a “cota de sorteio”. Além disso, incide sobre eles a “taxa de carregamento”, cobrada pelos bancos para administrar o produto, pagar encargos, e que garante o lucro da instituição. Só a parte da chamada “cota de capitalização” é que será aplicada e remunerada. Na ponta do lápis, do primeiro pagamento feito pelo cliente, em média 87,7% ficam para o banco. A partir do segundo mês, 4,1% ficam com a instituição e 93,5% vão para a capitalização. Os 2,2% restantes são para os prêmios. Além disso, estes produtos têm carência de, em média, cinco anos. O cliente só vai recuperar o dinheiro, que talvez tivesse “rendido” mais embaixo do colchão, este prazo.
8 – CDB como primeira opção – Por que os bancos gostam tanto de oferecer Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) como principal produto de renda fixa? Porque o CBD é uma forma dos bancos se capitalizarem com dinheiro mais barato. As instituições remuneram os investimentos de renda fixa com uma taxa do CDI (normalmente menos de 100%) e emprestam o dinheiro aos mesmos clientes com taxas de mais de 2% ao mês.
9 – Banco pequeno – Quem aplica em banco pequeno não perde tudo se a instituição quebrar. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que administra um mecanismo de proteção aos correntistas e poupadores. Cobre diversas formas de aplicação, em caso de quebra da instituição. O limite máximo por CPF é de R$ 70 mil. E a cobertura vale tanto para bancos pequenos ou grandes, o que nem sempre é explicado aos clientes.
10 – Grandes aplicadores têm melhor retorno – Na prática, os bancos entregam uma rentabilidade de mais de 90% do CDI apenas para clientes com grande volume de investimentos. Mesmo assim, o retorno máximo não ultrapassa 98%. Em corretoras independentes, a rentabilidade pode ser igual ou até maior que nos bancos, mesmo para pequenos investidores, já que as negociações são feitas diretamente com a mesa de operações das instituições financeiras.