Consultor da feira Expo Money, especializado em planejamento familiar e autor de dois livros sobre o assunto, Augusto Sabóia ressalta que os fundos de renda fixa (títulos prefixados) estão com rendimento prejudicado neste momento, devido à perspectiva de aumento da Selic (taxa básica de juros, hoje em 8,75% ao ano) em 2010. Em entrevista ao JB, Sabóia lembra que o Banco Central deve elevar os juros em 0,5% ou 1%, o que trará uma reação dos fundos DI (que acompanham a Selic).
O mesmo motivo, segundo ele, elimina a hipótese de tributação da poupança (já que os juros remuneram a dívida pública e aumentam a arrecadação do governo), aliada à chegada das eleições. “Se Lula mexer (na poupança), aí é que não vai dar mesmo para a Dilma (Roussef, ministra da Casa Civil e possível candidata à Presidência pelo PT)”, declarou. Sabóia recomenda a diversificação da carteira de investimentos, incluindo o Certificado de Depósito Bancário (CDB).
Com a perspectiva de fim da trajetória de queda da taxa Selic, o investimento em fundo de renda fixa deixa de ser uma boa opção? Está na hora de sair desta aplicação? – Creio que esse investimento depende da idade e dos objetivos. Para uma pessoa que está com aplicação em renda fixa e tem 60 anos, ele pode manter ali, não vejo problema, até porque não vai querer correr mais riscos de perder 10%, 15%, 20% (Imposto de Renda). Agora, quando a pessoa é jovem, pode se arriscar bem mais. Então, vale a pena mudar de investimento, perdendo um pouco na saída para ganhar em outros investimentos de melhor solução.
Com a inflação a 5%, a rentabilidade real fica em torno de 4%.
E para se ter ganhos de 4% ao ano, é complicado. Ainda mais que o ano que vem é ano de eleição, quando o governo sempre faz mais gastos públicos e a inflação deve subir mais.
O fato é que a renda fixa nesse momento está prejudicada. Quanto a objetivos, se o dinheiro for para comprar uma casa, esse dinheiro não deve estar em risco. De qualquer forma, é bom que o investidor escolha a melhor hora para sair.
Quais alternativas podem ser mais rentáveis para este momento? – O que pode ser melhor nesse momento é o CDB (título de captação das instituições financeiras).
Vale a pena pegar uma parte do dinheiro e investir para ter retorno.
Considero que será melhor do que aplicar na renda fixa. Agora, precisa saber quanto tempo vai deixar o dinheiro também. Teria que dar um ano de prazo, no mínimo, para a corretora vender.
Por que o CDB? – Porque ele rende melhor, é papel de banco, que precisa de dinheiro.
Pode ser uma boa alternativa, ainda mais para aquele brasileiro que toda semana pega seu dinheiro e joga tudo na loteria. O cara joga na Mega Sena, perde 100% do dinheiro e depois vai e joga de novo. Tem pesquisas que mostram que 70% das pessoas que ganham dinheiro fácil perdem tudo em cinco anos. Por que não investir? Depois acham que a bolsa é jogatina. Parte da população aplicando em bolsa é uma riqueza para o país, porque gera renda, emprego, tecnologia. Se o país cresce, ele ganha também.
E o Tesouro Direto? – O Tesouro Direto (títulos da dívida pública) está indo muito bem. É possível comprar pela internet, mas tem prazos bem curtos para comprar. Mas é fundamental que tenha internet rápida. Acontece que grande parte da população não tem banda larga. Mas a rentabilidade é boa, acima de muitos fundos de renda fixa nos bancos.
Deixar o dinheiro na poupança também pode ser uma boa saída? – Sim, mas tem muita diferença de se manter um dinheiro na poupança.
Se tem R$ 10 mil hoje, somente em 2021 esse dinheiro vai dobrar. Se colocar na Bolsa, chega a R$ 20 mil em 2013. Em três anos, pode dobrar o dinheiro na Bolsa.
Agora, se a pessoa está satisfeita com seus 5%, 6% na renda fixa, fique lá.
Se não, procure a Bolsa. Porque lá tem muita gente trabalhando para fazer render o seu dinheiro. A renda fixa financia dívidas do governo, que emite o título e o governo garante uma fonte de reservas. O rendimento é pequeno, mas tem.
Mas as pessoas precisam achar empresas com potencial. Por exemplo, não é difícil imaginar que uma companhia que mexa com o pétroleo do pré-sal possa crescer. As ações da CSN, por exemplo, renderam quase 100% este ano.
Com essa expectativa de que o BC volte a elevar a taxa Selic no segundo trimestre de 2010, o fundo DI vai se tornar novamente atrativo? – A elevação é uma hipótese para um ano que vamos ter muitos gastos, por ser ano de eleição. Para o ano que vem, ninguém espera um grande aumento da Selic, mas o BC deve subir mais 0,5% ou 1%. E o fundo DI vai ter uma reação e, dependendo de como o mercado analisar, pode crescer mais durante o ano. Depende do investidor: se não tem grandes expectativas com Divulgação Expo Money seu dinheiro, pode deixar lá e ver como fica. Se quer uma mudança e procura uma melhora de rendimento, seria bom fazer divisões com os investimentos: aplica em fundos, em ações, em renda fixa, no CDB. Ou seja, faz um portfólio grande, e assim ganha 0,5% aqui e 1% ali no outro, assim vai.
Mas quais cuidados os investidores precisam ter? Não acabam pagando muitas taxas de administração? – Sim, tem que analisar as penalidades para sair de um e quais os custos para entrar no outro. Não tem que pensar só no retorno, mas na administração também.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse recentemente que a hipótese de tributar a poupança não foi descartada (para aplicações superiores a R$ 50 mil). Acredita nessa medida? – Em ano de eleição, com a candidata que (o governo) tem (Dilma Roussef, ministra da Casa Civil), acho que não é viável (mexer na tributação) não. (O governo) vai ter que se virar com outras coisas, como já tentou, com o IOF (de 2%) para investimentos estrangeiros. Se Lula mexer (na poupança), aí é que não vai dar mesmo para a Dilma. Só se for depois da eleição. Na prática, muitos analistas já descartam que o governo faça algo para reduzir a vantagem da poupança sobre os fundos, como tributar a caderneta, por causa da expectativa de aumento da Selic. O grande detalhe é que o governo precisa criar mecanismos de financiamento para o país, porque nas costas da poupança e do FGTS tem muita coisa “pendurada”.
Mas seriam mais interessantes outros mecanismos, como o governo vender títulos para financiar despesas para obras públicas, como o metrô, levar água para o Nordeste. Tem que tirar esse ônus da poupança e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), que é complicada porque tem muita interferência política.
E do ponto de vista do investidor, qual é o melhor modo para entrar em aplicações? – Quem está começando tem que cumprir uma escadinha de investimentos.
Primeiro compra uma caderneta de poupança, depois abre uma poupança, no segundo estágio.
Quando junta R$ 2 mil, R$ 3 mil, põe em renda fixa. Mais para frente, pode comprar ações. A partir daí tem que ficar de olho no comportamento do mercado que está muito volátil. Para o ano que vem, tem muita expectativa de ganho de dinheiro, todos apostam num bom ano. Então, é guardar o décimo terceiro e se preparar para entrar na aplicação.
O grande detalhe é que o governo precisa criar mecanismos de financiamento para o país, porque nas costas da poupança e do FGTS têm muita coisa “pendurada”
Para o ano que vem, ninguém espera grande aumento da Selic, mas o BC deve subir mais 0,5% ou 1%. E o fundo DI vai ter uma reação
Em ano de eleição, com a candidata que (o governo) tem, acho que não é viável (cobrar IR na poupança) não. Vai ter que se virar com outras coisas, como já tentou, com o IOF