Em seu primeiro evento público no ano em que disputará a Presidência da República, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou nessa quinta-feira, em Belo Horizonte, a demora do governo federal em adotar as privatizações como forma de alavancar investimentos em infraestrutura no país. Em visita no fim da manhã às obras de duplicação das rodovias LMG-800 e MG-424, nos trechos que ligam cidades da região metropolitana ao aeroporto de Confins, Aécio disparou contra a administração da presidente Dilma Rousseff (PT), apontando a “ineficiência e improviso” do Palácio do Planalto como causa de enormes prejuízos para a população.
Já no cenário federal, Aécio ressaltou a amizade que tem com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e que uma aproximação entre tucanos e socialistas, caso um dos partidos dispute com o PT o segundo turno das eleições, seria facilitada pelo fato de ambos serem de oposição. Ele aproveitou também para alfinetar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao avaliar a importância de Lula como cabo eleitoral: “É sem dúvida o cabo eleitoral mais importante que a presidente tem. Não sei o quanto será decisivo. Em Minas, nas últimas eleições, ele não foi”, disse Aécio.
Ataques ao Planalto
Em visita às obras de duplicação das rodovias, próximo ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, o senador Aécio Neves fez uma série de comparações entre as gestões petista e tucana. O político mineiro criticou os atrasos na entrega da obra de reforma do terminal de passageiros do aeroporto e aproveitou para dizer que as obras da estrada de acesso ao aeroporto serão entregues no prazo, sem custo acima do previsto. “Depois de 10 anos demonizando as privatizações, o governo do PT cede a elas, se curva a elas, mas com enorme atraso. E o prejuízo para Minas Gerais e para o Brasil tem sido enorme. O aprendizado do PT no governo tem custado muito caro ao Brasil”, disse Aécio.
Orçadas em R$ 373 milhões, as obras de ampliação das rodovias, que começaram em março do ano passado, devem ser entregues em maio. Atualmente, 80% da pavimentação foi concluída e 95% da terraplenagem foi feita. Em contrapartida, no aeroporto, a expansão do terminal de passageiros, contratada pela Infraero, sofre com repetidos atrasos. Depois de dois anos e três meses de obras, o terminal era para ser entregue no mês passado, mas, com somente 38% do total concluído, o prazo foi adiado para novembro, implicando aditivos contratuais.
“Há um contraponto: o planejamento e a eficiência do governo do estado; as obras entregues no prazo, pelo valor licitado. Algo que não ocorre no plano federal, com a ineficiência e o atraso das obras de responsabilidade do governo federal”, atacou o tucano, ressaltando que os atrasos comprometem “o desenvolvimento econômico de toda a Minas Gerais”. Segundo Aécio, o governo petista se baseia em “improviso”, enquanto a gestão tucana é focada no “planejamento”. Como argumento, ele cita a ampliação das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado, a construção da Linha Verde e as melhorias nas duas rodovias. Todas contribuindo para facilitar o acesso ao aeroporto internacional.
O pré-candidato tucano afirmou também que as dificuldades econômicas enfrentadas por estados e municípios é culpa da falta de vontade política do Planalto para discutir temas federativos. “Em razão da omissão do governo federal nenhum tema relevante da agenda federativa construída no Congresso avançou. A renegociação das dívidas, o aumento dos fundos de participação dos estados e dos municípios e, no caso específico de Minas, a questão dos royalties da mineração, nada andou até agora”, disparou o senador.
Aliança com o PSB
Na avaliação de Aécio, um cenário eleitoral no segundo turno das eleições nacionais pode colocar o PSDB e o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, juntos contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “O fato de ambas (candidaturas) se colocarem no campo oposicionista poderá facilitar uma aproximação, mas temos que lutar para chegar ao segundo turno primeiro”, disse Aécio. Segundo ele, a candidatura do socialista será positiva para o quadro político nacional, uma vez que o debate fugirá da polarização entre PSDB e PT. “Quem tentou inibir outras candidaturas, quase querendo ganhar por W.O., foi o PT. Nós sempre estimulamos outras candidaturas, inclusive da ex-senadora Marina Silva.”
Aécio afirmou ainda que considera natural a aliança entre PSDB e PSB para a disputa no governo de Minas. Os socialistas já demonstraram interesse em construir um palanque para Eduardo Campos no estado e o nome do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, foi considerado o mais forte da legenda para a disputa estadual. No entanto, o prefeito tem demonstrado pouco interesse na disputa, o que dificultaria os planos do pernambucano em Minas.
Para Aécio, a candidatura de Campos não impossibilita que os socialistas apoiem o candidato tucano ao governo mineiro. “Tivemos parcerias extraordinárias com o PSB, como a que levou à eleição do prefeito na capital. No que depender de minha vontade o PSB continuará conosco. Não acho que uma candidatura nacional seja incompatível com o apoio a um candidato do PSDB em Minas. Mas é uma decisão do PSB”, analisou. Aécio citou que o mesmo poderá acontecer em Pernambuco, onde os tucanos poderão lançar o nome do deputado Daniel Coelho (PSDB) ou apoiar um nome indicado por Campos.
Cronograma estadual
Depois da reunião com o governador Anastasia e com o vice-governador Alberto Pinto Coelho, Aécio Neves definiu o carnaval, no início de março, como data limite para que o PSDB defina o nome de seu candidato para o governo de Minas. Segundo o senador, a decisão de Anastasia de deixar o Palácio da Liberdade para concorrer ao Senado está praticamente selada e deve acontecer em março. “Confirmando essa possibilidade, que hoje tem grande probabilidade, o vice-governador assumirá o mandato. Dentro da aliança que sustenta o governo estadual há também um consenso crescente de que a candidatura ao governo será com um nome do PSDB”, disse Aécio.
O tucano, porém, não adiantou como deverá ser a composição da chapa para o pleito estadual, nem citou nomes para falar sobre as possibilidades do PSDB para tentar se manter no governo. Até agora o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga e o deputado Marcus Pestana foram lançados para a disputa, mas ainda não houve uma definição dentro da legenda. Também estão sendo discutidas as indicações para a vaga de vice-governador, que pode ser ocupada pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Dinis Pinheiro (PP), e de suplente de Anastasia na briga por uma cadeira no Senado. “Nós temos uma aliança que vai além da composição de chapas. Temos uma aliança em torno de um governo eficiente. Ao contrário do que acontece normalmente na política, em que os partidos vão se desgastando com o tempo, nossa aliança vem somando forças”, avaliou Aécio.
Agenda nacional
Para a disputa nacional, Aécio afirmou ontem que o PSDB deverá oficializar um nome para disputar a Presidência em março. Segundo ele, a prioridade em janeiro será definir as estratégias regionais do partido, buscando construir alianças e palanques fortes para a disputa nacional. No início de fevereiro, a Executiva Nacional do partido se reunirá para discutir as costuras regionais e Aécio encaminhará uma proposta para que todas as alianças feitas nos estados sejam avaliadas pelo comando. “As alianças deverão ser consagradas, passar pelo crivo da Executiva. O partido tem um projeto de país. Não se pode ter companheiros do PSDB fazendo campanha para candidatos que serão oposição no plano nacional”, ressaltou.
Definidas as parcerias em cada estado, o tucano pretende retomar suas viagens pelo país. Na primeira semana de fevereiro ele participará de um evento do agronegócio em Cascavel, no Paraná, e nas semanas seguintes estará em encontros organizados pelo Solidariedade com o setor sindical. Nas últimas semanas, o partido criado pelo deputado Paulo Pereira no ano passado apontou possíveis nomes para compor a chapa de Aécio como vice-presidente, mas o tucano desconversou sobre o assunto.
“Acho positivo que o Solidariedade queira se integrar ao nosso projeto. Ele tem participado na construção de uma agenda. Sempre disse que um partido que se supõe social e democrata tem que ter uma presença sindical expressiva. Mas só próximo ao período de convenções vamos definir esses nomes”, explicou Aécio.
Ainda ontem, o senador disse também que sua irmã Andréa Neves não será a coordenadora de campanha para a disputa eleitoral: “Ela participará com ideias, assessorando nossas ações, como sempre faz. Mas não foi cogitada para coordenar a campanha”.