Governo planeja controlar CPI que vai investigar ligações políticas do bicheiro Carlinhos Cachoeira

Prevista para ser instalada nos próximos dias, a CPI que irá investigar o suposto esquema de corrupção montado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira colocou em lados opostos, pela primeira vez, a presidente Dilma Rousseff e Lula.

Enquanto o petista vislumbra uma possibilidade de enfraquecer a oposição e esvaziar o julgamento do mensalão, Dilma teme que a CPI atinja o Planalto, afetando sua popularidade recorde.

— Foi o primeiro ruído entre os dois. Lula quer usar a CPI para se vingar da oposição, mas decidiu isso sozinho, sem falar com Dilma antes — comenta um assessor palaciano.

Em conversa com ministros e auxiliares, a presidente reclama da forma como o PT decidiu criar a comissão, sem consultá-la e enquanto estava em viagem aos Estados Unidos. Dilma tenta pelo menos controlar as investigações.

Ela determinou monitoramento constante das ações do PT, do Congresso, do Judiciário e da Polícia Federal. O objetivo é evitar surpresas, principalmente nos contratos com a Delta, construtora que detém a maioria das obras do PAC.

Para se antecipar a eventuais irregularidades, ela pediu ainda uma varredura nos contratos com a empreiteira. Há ligações entre a Delta e Cachoeira, que perdeu a mãe ontem. Aos 82 anos, Maria José de Almeida Ramos morreu em Anápolis (GO), mas o filho, preso em Mossoró (RN), não foi ao enterro.
Preocupada com o ímpeto do PT, Dilma se reuniu com Lula por três horas na sexta-feira. Na conversa, ele justificou que a CPI pode aniquilar o DEM e afetar o PSDB. De quebra, Lula espera que o burburinho gerado pela CPI tire o foco do julgamento do mensalão.

— Ninguém deve ficar preocupado com os rumos da investigação. Quem tem que estar preocupado é quem fazia parte da lista de contatos do Cachoeira — diz o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).

Para dar vazão às investigações, o PT está disposto a entregar até mesmo o mandato do governador do DF, Agnelo Queiroz (PT). O ambiente na bancada petista é de desforra, e os apelos do Planalto para distensionar o clima no Congresso não têm surtido efeito.

PT e Dilma são duas entidades diferentes. Os petistas estão vacinados, e não temos problema com investigação — diz o deputado federal Paulo Ferreira (RS).

Dono da Delta fala em suborno

Em conversa gravada, o dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, afirma que é possível ganhar contratos com o poder público subornando políticos.

A Delta já recebeu mais de R$ 3,6 bilhões em verbas federais desde 2003 e está no centro das investigações da Polícia Federal envolvendo Carlinhos Cachoeira, preso por envolvimento em jogo ilegal.