Nos últimos dias, a presidente Dilma Rousseff vem cogitando adotar no
Ministério da Defesa a mesma saída à qual recorreu seu antecessor, Luiz
Inácio Lula da Silva, quando perdeu seu ministro José Viegas, no fim de
2004: substituir o titular da pasta pelo vice-presidente da República.
Na ocasião da demissão de Viegas, José Alencar assumiu o posto que Dilma
agora pensa em dar a Michel Temer.
Na noite dessa segunda-feira,
a presidente se reuniu com Temer por mais de uma hora. O peemedebista,
entretanto, resiste à ideia. Seus fiéis colaboradores no partido têm
dito a ele que, no papel de vice-presidente, está mais solto para cuidar
da política. Como ministro, não teria tanto tempo assim. Além disso,
Nelson Jobim não deseja deixar o cargo. Depois de ter irritado Dilma ao
dizer que havia votado no adversário dela, José Serra, na eleição
presidencial do ano passado, Jobim aproveitou uma entrevista dada nessa
segunda-feira ao programa Roda viva, da TV Cultura, em São Paulo, para
tentar reconstruir os laços com a presidente. Ele justificou a revelação
de que votou no tucano alegando que “todo mundo sabia” das suas
relações com o ex-governador paulista. “Não sou dissimulado. Sempre
disse o que pensava e o que fazia”, destacou.
Jobim afirmou que
gostaria de permanecer no governo e negou que a sua relação com a
presidente tenha “azedado” depois de declarar abertamente que votou em
Serra. O ministro também negou que exista pressão para que ele deixe o
cargo. Em determinado momento da entrevista, fez algo raro: elogiou de
forma exagerada a figura da chefe, até mesmo em momentos nos quais não
havia contexto para tanto: “A presidente é extraordinária e minha
relação com ela é ótima, não tem problemas”, disse, em tom enfático. O
ministro afirmou ainda: “Estou no governo porque me dá prazer” e deixou
claro que, se depender dele, não entrega o cargo. A entrevista foi
veiculada na noite dessa segunda-feira.
Jobim não trabalha com a
hipótese de deixar o governo, tanto que falou de planos para a pasta,
como a formulação de um texto legal que dê garantias para projetos de
longo prazo do ministério que comanda. Segundo ele, são projetos
considerados estratégicos por Dilma e que não devem ser interrompidos
caso sejam alvo de contingenciamento orçamentário. O objetivo da medida,
segundo o ministro, é assegurar o investimento do setor privado a
projetos de longa maturação. “São projetos estratégicos que possam
assegurar que o setor privado possa investir num prazo de 20 anos para o
cumprimento de um determinado projeto que tenha maturação de 10 ou 20
anos”, explicou.
Sobre os escândalos no Ministério dos
Transportes, Jobim disse que se trata de “ajustes” e que não enxerga uma
crise. “Nós podemos pensar que o processo democrático é um processo
tranquilo”, justificou. Segundo ele, não há problemas no fato de o
governo examinar os contratos de obras em rodovias firmados por meio de
convênio entre o Exército Brasileiro e o Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (Dnit). A Procuradoria-Geral da Justiça
Militar investiga suspeitas de fraudes nos empreendimentos, que
envolveriam oito oficiais, num desvio de recursos públicos que teria
chegado a R$ 11 milhões.
Irritação
A
irritação de Dilma com Jobim não vem de hoje. Na China, ela chegou a
conversar sobre os caças russos com o primeiro-ministro Vladimir Putin,
sem falar com seu ministro. Quanto à homenagem ao ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso em Brasília, há um mês, Jobim ressaltou no discurso
que FHC “nunca levantou a voz para ninguém”. O comentário soou
provocativo, porque Dilma tem fama de se alterar com os subordinados.
Ainda
naquele pronunciamento, Jobim citou Nelson Rodrigues de uma maneira
dúbia, que desagradou não só à presidente, como a todo o PT. “Ele
(Nelson Rodrigues) dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e
ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas
perderam a modéstia. E nós temos de ter tolerância e compreensão também
com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o
esquecimento.” Na época, o ministro disse que havia se referido à
imprensa.