O Palácio do Planalto está otimista quanto à recuperação da economia neste e no próximo ano. As análises que têm chegado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) estará crescendo, no fim de 2009, em torno de 3,5% a 4% em termos anualizados e que essa taxa será acelerada ao longo de 2010, ano da sucessão presidencial. A estimativa é que, no ano que vem, a economia avance algo entre 4,5% e 5%, percentual bem superior ao que vêm projetando analistas de mercado e instituições multilaterais.
O governo, segundo um ministro próximo do presidente, está apostando também numa queda da taxa básica de juros (Selic) maior que a esperada pelos analistas do mercado para o restante do ano. A expectativa é que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduza a Selic, até dezembro, para algo entre 8,25% e 8,75% ao ano.
No mercado, a aposta é que, depois do surpreendente corte de um ponto percentual, há duas semanas, derrubando a Selic de 10,25% para 9,25% ao ano, o comitê será mais conservador daqui em diante, cortando a taxa em no máximo meio ponto até dezembro.
A ata do Copom, divulgada semana passada, também sugere que o comitê agirá de forma cautelosa nas próximas reuniões. Segundo o documento, após o corte da última reunião, o espaço para a redução dos juros se tornou “residual”. “A despeito de haver margem residual para um processo de flexibilização, a política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas”, afirmou o Copom.
Conversas, no entanto, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, com o presidente Lula levaram otimismo ao Palácio do Planalto. Ficou a percepção de que o Copom poderá surpreender o mercado mais uma vez, reduzindo a taxa de juros além das expectativas. O certo, segundo um auxiliar do presidente, é que o BC fará o movimento necessário para estimular a atividade econômica, sem colocar em risco o controle da inflação neste e no próximo ano.
Lula gostou também de ouvir as previsões de crescimento da economia para 2010, quando tentará eleger seu sucessor. Pela primeira vez, segundo um ministro, as projeções do BC são mais otimistas que as do Ministério da Fazenda. Nas conversas, o presidente do BC teria explicado que, como a economia estará crescendo entre 3,5% e 4% no fim do ano, apenas o chamado “carry-over”, o carregamento estatístico de um ano para outro, vai assegurar expansão do PIB de pelo menos 3% em 2010.
O otimismo de Meirelles se ampara no fato de que o alívio monetário promovido pelo BC até agora – de 4,5 pontos percentuais – foi forte o suficiente para reanimar a economia e que, devido à defasagem natural do impacto da política monetária sobre a atividade econômica – estimado entre três a seis meses -, os efeitos ainda vão aparecer. “Apenas uma nova tragédia na economia mundial pode alterar um quadro positivo para o Brasil”, disse um ministro.
Na ata do Copom, o BC alerta para a possibilidade de a inflação, por causa do corte acentuado da taxa Selic, superar o cenário previsto em seus modelos. As várias simulações mostraram, segundo o documento, que o espaço para a flexibilização monetária é pequeno, já que juros na casa dos 9% deixam a inflação de 2010 perto da meta de 4,5%. Apesar disso, diz um assessor do presidente Lula, o Copom mostra que as ameaças inflacionárias ainda são hipotéticas.
Nos próximos dias, o governo definirá a meta de inflação de 2011. Apesar convergência de opiniões na área técnica da Fazenda e do BC, favorável a uma redução mesmo que residual da meta, deverá ser mantido o objetivo de 4,5%, segundo informou um assessor direto do presidente. “Não é o momento. Não se faz isso no meio de um momento de crise como o que estamos vivendo”, observou um ministro ouvido pelo Valor.
Amanhã, o BC divulgará o relatório trimestral de inflação, oportunidade em que anunciará a sua nova projeção de PIB para 2009.