Proposta da reeleição indefinida vence com cerca de 54% dos votos dos venezuelanos
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, conquistou ontem o direito de se reeleger quantas vezes quiser, depois de a população do país aprovar a mudança da lei num referendo. Com 94,2% das urnas apuradas, o \”sim\” recebera 54,36% dos votos, sem que houvesse chances matemáticas para uma reviravolta. A oposição à reeleição sem limites tinha apenas 45,63% dos votos.
Milhares de chavistas se aglomeraram sob a sacada do Palácio Miraflores, sede governo venezuelano, de onde Chávez discursou. A multidão cantava, entusiasmada: \”Uh, ah. Chávez no se va (não vai embora)\”.
– Esta foi uma clara vitória do povo, da revolução. Hoje venceu a dignidade de um povo, abrimos as portas do futuro – afirmou Chávez. – O povo venezuelano, se constituindo de novo, hoje está brilhando para o mundo. O povo venezuelano está irradiando suas luzes e virtudes democráticas, humanísticas e bolivarianas.
Rumores sobre a vitória de Chávez já corriam o país horas antes, e por isso as ruas de Caracas estavam tomadas por chavistas em festa. Na verdade, antes mesmo de as urnas serem fechadas, autoridades do governo já anunciavam uma \”tendência vitoriosa irreversível\”.
– Todas as pesquisas que temos nos dizem que a tendência (a favor do \”sim\”) está consolidada – disse o ministro de Finanças, Ali Rodríguez, numa entrevista coletiva no hotel Alba, enquanto ainda havia eleitores nas filas das seções eleitorais.
Com a votação de ontem, Chávez, que é presidente desde 1999 e já venceu três eleições presidenciais, poderá concorrer novamente em 2012, e também nos pleitos seguintes.
Pela manhã, após votar, Chávez assegurara que o resultado do referendo era crucial para \”a continuidade da revolução\”. Embora tenha dito, durante a campanha, que a reeleição indefinida era \”para o povo e não para mim\”, ontem admitiu ser o principal interessado no referendo. O presidente reiterou que seu governo reconheceria o resultado, \”seja ele qual for\”.
– Hoje (ontem) está sendo decidido meu destino político. Está em jogo o futuro do país – disse ele.
Oposição dizia crer em \”chave de ouro\”
Entre os antichavistas, porém, predominava a expectativa de uma vitória similar à conquistada no referendo de 2007, sobre o projeto de reforma constitucional. O prefeito de Caracas, o oposicionista Antonio Ledezma, afirmou que a contagem dos votos seria um encerramento com \”chave de ouro\” da campanha.
Ao longo do dia, dirigentes opositores pediram à população que participasse da votação. Num ambiente de evidente desgaste dos eleitores de ambos os lados, a abstenção foi um dos principais fantasmas deste referendo. Porém, o comparecimento às urnas foi relativamente alto: 67,05%. Na Venezuela, o voto não é obrigatório.
– Temos de ter cuidado e paciência com a máquina chavista. Este processo é importante, porque o governo nos obrigou a realizar uma votação inconstitucional – declarou, após votar, Luis Miquilena, ex-ministro chavista, mas hoje opositor.
O governo deverá encarar um cenário econômico delicado. Depois de ter fechado o ano de 2008 com inflação de 32%, a mais alta do continente, a moeda desvalorizada e com o preço do barril de petróleo em queda, a Venezuela está à beira de uma recessão que poderia atrapalhar o chavismo.
– O governo deverá aplicar medidas draconianas para evitar uma crise maior – afirmou o economista da Universidade Católica, Jesús Casique.