O quarto trimestre de 2008 ficará marcado como um divisor de águas no cenário econômico global. Não será diferente no setor de mineração e siderurgia, avalia o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora . Os balanços dessas companhias no período de outubro a dezembro, que começam a ser divulgados nesta quinta-feira, vão revelar o impacto negativo da crise financeira que se abateu violentamente sobre os mercados em meados de setembro e abalou profundamente os negócios das empresas.
As projeções de resultados da Vale, Usiminas e Gerdau levantadas pelo Valor junto a bancos e corretoras dão um pouco da dimensão deste estrago, que, segundo sugerem especialistas de minério e aço, pode ser pior nos primeiros três meses de 2009 e se arrastar por todo este ano, marcado pela recessão consolidada nos países do Hemisfério Norte e que avança sobre os emergentes.
A Vale do Rio Doce, maior mineradora do mundo, teve de amargar um trimestre bem diverso dos que vinha registrando desde 2004, de alta de preços e vendas aquecidas de commodities. A mineradora agiu rapidamente à nova realidade de mercado, dando um corte de 30% na produção de minério de ferro e reduzindo também a operação das minas de níquel no Canadá, já que as vendas sofreram drástica redução por conta da demanda praticamente congelada de parte da indústria de aço e também pelos preços das commodities metálicas, que despencaram.
Nesse cenário negativo, o lucro líquido esperado para a Vale nas projeções da SLW Corretora, Goldman Sachs, Ágora Corretora e Geração Futuro fica na média em R$ 6 bilhões, menos da metade dos R$ 12,4 bilhões do terceiro trimestre, que foi recorde na história da companhia. Mas cresce 35% na comparação com os R$ 4,4 bilhões obtidos no último trimestre de 2007.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) da companhia cai de R$ 11,3 bilhões no terceiro trimestre para R$ 9,9 bilhões e R$ 9,3 bilhões, respectivamente, nas estimativa da Geração Futuro e da SLW Corretora para o quarto trimestre. A receita líquida da Vale encolhe de R$ 20,6 bilhões para R$ 17,2 bilhões, projeta a SLW. Mesmo assim, a mineradora fecha 2008 com um resultado bastante expressivo: lucro previsto entre R$ 25 bilhões e R$ 27 bilhões, ante ganho de R$ 20 bilhões no ano anterior.
As siderúrgicas Usiminas e Gerdau também devem apresentar resultados mais fracos no quarto trimestre. O lucro da Usiminas deve ficar em R$ 456,8 milhões, segundo a média das projeções, caindo 48% em relação ao terceiro trimestre e 53% na comparação com o mesmo período de 2007. A Gerdau deve ganhar R$ 153,7 milhões, registrando forte recuo de 84% ante o terceiro trimestre e o quarto trimestre do ano anterior. A CSN, no cálculo da SLW, deve apresentar prejuízo de R$ 444 milhões sem incorporar o ganho com a venda da Namisa. Se incorporar, fecha o trimestre com R$ 3,5 bilhões de lucro. Essas companhias, como destacam os analistas, foram muito prejudicadas pela crise financeira, que afetou o crédito e derrubou a economia real, com destaque para a indústria automobilística, influenciando negativamente toda cadeia produtiva do aço.
A Usiminas foi uma das mais afetadas pela queda das vendas de automóveis no mercado brasileiro, onde comercializa a maior parte da produção de aço. A Brascan Corretora estima que as vendas da siderúrgica mineira no mercado interno devem ter declinado 30% ante o terceiro trimestre de 2008, enquanto as exportações recuaram 7%. Com isso, o faturamento caiu 24% ante o trimestre anterior, atingindo R$ 3,3 bilhões. O lajida da empresa somou R$ 1bilhão, com queda de 46% ante o terceiro trimestre e 16% sobre o mesmo período de 2007. A Brascan destaca que, além da queda das vendas, a geração de caixa da siderúrgica deve ser prejudicada pela contabilização integral do reajuste dos contratos de carvão. A SLW prevê que a Usiminas feche o ano com lucro líquido de R$ 3 bilhões , ligeiramente abaixo dos R$ 3,1 bilhões de 2007.
O desempenho do grupo Gerdau no quarto trimestre também vai refletir os efeitos da crise, já que o conglomerado possui empresas em várias partes do mundo, com destaque para os Estados Unidos, avalia a Geração Futuro. Houve expressiva redução dos volumes vendidos e menores preços para os produtos siderúrgicos das usinas da Gerdau no exterior. O analista Carlos Kochenborger, do banco de investimento Geração Futuro, projeta recuo de 33% nos volumes vendidos no Brasil, em relação ao terceiro trimestre, e um decréscimo de 43% nas exportações. A queda de vendas do Gerdau no mercado americano deve superar a do mercado doméstico com reduções de 35% e 37% na base de comparação trimestre anterior e mesmo trimestre de 2007.
Em termos consolidados, as vendas do grupo Gerdau podem ter recuado no período 31% ante o terceiro trimestre de 2008 e 24% em relação ao mesmo período de 2007. O lajida do grupo deve ter encolhido na média para R$ 1,4 bilhão, ante R$ 3,8 bilhões no terceiro trimestre e R$ 1,6 bilhão no quarto trimestre de 2007. A receita pode fechar o último trimestre do ano passado em R$ 8,5 bilhões na média das projeções, ante R$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre e R$ 8 bilhões no último de 2007. No acumulado do ano, o banco de investimento gaúcho espera um lucro líquido do grupo de R$ 3,8 bilhões, ante R$ 3,7 bilhões em 2007.
O desempenho da CSN no período também foi prejudicado pela queda de vendas. A companhia anunciou cortes de produção de 40% nas unidades de Portugal e Estados Unidos. A estratégia da CSN no Brasil foi manter a produção em outubro e novembro para reduzir os estoques de carvão adquiridos antes da crise a preços elevados. Já em dezembro, deu férias coletivas e anunciou cortes de produção no país. Na avaliação da SLW, a companhia, que não é tão dependente do mercado automobilístico como a Usiminas, deve ter queda de 31% nas vendas do quarto trimestre, ante o terceiro trimestre, e de 38% contra os três últimos meses de 2007. Ela continua evoluindo na mineração e a expectativa é de vendas de 6 milhões de toneladas de minério de ferro no quarto trimestre do ano passado.
A SLW ressalta que se a CSN não fosse contabilizar no resultado do quarto trimestre uma receita extraordinária de US$ 2,1 bilhões com a venda de 40% da Namisa, mina de minério de ferro, ela fecharia o trimestre com prejuízo de R$ 444 milhões. A contabilização da receita extraordinária inverterá este resultado negativo para um lucro líquido de R$ 3,5 bilhões no trimestre e R$ 5,2 bilhões no ano conforme estima Pedro Galdi, alertando que o fato fortalecerá a empresa para enfrentar os desafios de 2009.