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Mesmo assim, à sombra da pesada construção, engenheiros da companhia de energia sueca Vattenfall estão testando uma nova tecnologia que promete produzir energia sem poluição.
Conhecida como carbon capture and storage (CCS, ou captura e armazenamento de carbono), ela envolve um complexo emaranhado de canos, válvulas e filtros que queimam carvão e linhito de tal forma que o dióxido de carbono (CO2) exaurido pode ser separado em uma forma altamente purificada. Esse gás pode então ser transportado via encanamentos, para uso em fábricas de refrigerantes e extintores de incêndio, ou então pode ser enterrado no subsolo.
A unidade de teste em pequena escala, de 30 megawatts, capturou até agora cerca de mil toneladas de dióxido de carbono desde que entrou em operação, em setembro do ano passado. A Vattenfall espera construir uma instalação muito maior, de 400 MW. “A tecnologia vai funcionar. Tenho certeza. Estou absolutamente certo disso”, afirma Reinhardt Hassa, que é o diretor-presidente da Vattenfall Europe Generation.
Mas capturar carbono é uma coisa; já empregar um programa de CCS em grande escala, que seja eficiente do ponto de vista dos custos e comercialmente viável, é outra. Os desafios e as possibilidades da CCS estão despertando mais atenções agora, quando os líderes mundiais se preparam para uma reunião em Copenhagen, capital da Dinamarca, em dezembro. Lá, eles vão discutir um tratado mundial sobre as mudanças climáticas.
Os desafios já aparecem na União Europeia, que vem fazendo da CCS uma parte importante em seus esforços de contenção do aquecimento global. Para serem bem sucedidas, as companhias e os países-membros terão que conseguir muitos bilhões de euros em financiamentos, solucionar difíceis problemas tecnológicos, elaborar novas regulamentações para governar o transporte e o armazenamento do dióxido de carbono e ganhar a aceitação de uma população preocupada com a segurança.
E eles terão que fazer tudo isso rapidamente. A UE espera ter cerca de uma dúzia de usinas de demonstração em funcionamento até 2015, de modo que uma variedade de tecnologias de CCS poderá ser testada, com as melhores ganhando viabilidade comercial até 2020. Isso significa que as obras precisam começar em pouco mais de um ano.
Nesta semana, a Shell anunciou que vai participar do projeto da Scottish Power, um dos três grupos que pleiteiam fundos públicos para construir essas usinas experimentais de CCS.
“É a urgência que cria a escala do desafio”, afirma Graeme Sweeney, vice-presidente executivo da Shell que preside a Zero Emissions Platform (ZEP), um grupo de apoio à CCS que inclui empresas, cientistas e organizações não governamentais.
As recompensas poderão ser enormes. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a CCS poderá responder por um quinto da redução das emissões exigida dos setores industrial e de energia até 2050, para evitar os piores efeitos do aquecimento global. A AIE calcula que conseguir essas reduções sem a CCS seria 70% mais caro.
Para companhias como Alstom, Siemens, Shell e Hitachi, a CCS também representa uma indústria verde lucrativa num futuro próximo. “Será uma indústria de muitos bilhões de dólares se conseguirmos torná-la comercial? Certamente”, afirma Sweeney.
Mas os próximos meses poderão determinar se a CCS surgirá como um instrumento eficiente na luta para a contenção das mudanças climáticas, ou se será uma decepção que terá custado caro.
“[Essa tecnologia] poderá ser a contribuição mais eficiente – e também mais controvertida – no combate ao aquecimento global”, diz Niels Peter Christensen, principal geólogo da Vattenfall.
Essa controvérsia deriva em grande parte de um argumento fundamental abraçado pelos defensores da CCS: o de que mesmo com os avanços nas tecnologias de geração de energia eólica e solar, o carvão e outros combustíveis fósseis ainda continuarão movendo o mundo nas próximas décadas – especialmente com a industrialização acelerada da China e da Índia.
Isso pode animar as companhias de energia, mas os ambientalistas estão mais confusos. Alguns, como o Greenpeace, continuam suspeitando da CCS e de seus patronos corporativos; outros são defensores relutantes.
“Está claro que o sistema energético como um todo precisa passar por uma revolução, para se tornar um baixo emissor de carbono, ou emissor zero, até 2050. Achamos que não dá para fazer isso a tempo apenas com medidas de eficiência ou energias renováveis”, diz Mark Johnston, analista do World Wide Fund for Nature (WWF), explicando sua decisão de se unir à ZEP.
Mas desenvolver a CCS será caro. O custo de construção e operação de cada unidade de teste poderá superar € 1 bilhão (US$ 1,2 bilhão) – bem mais do que as companhias estão dispostas a bancar com recursos próprios.
Conseguir dinheiro para as unidades de teste será crucial porque a CCS ainda exige trabalho. Com a tecnologia atual, o custo de captura de uma tonelada de dióxido de carbono é de € 80 a € 100, segundo Sweeney. Ele estima que os engenheiros terão que reduzir esse valor para menos de € 50 por tonelada até 2020, para tornar a tecnologia viável. “Esses são desafios reais, que precisam ser resolvidos pelo programa de demonstração”, diz Sweeney. “Mas dá para conseguir isso? Sim, acredito que dá.”
Um motivo para esse otimismo é que as atuais instalações de CCS estão sendo montadas com componentes em grande parte projetados para outras aplicações. As companhias de petróleo, por exemplo, vêm há décadas injetando dióxido de carbono nos poços que estão se exaurindo. A eficiência deverá melhorar com o aumento dos testes pelas companhias de energia e com a possibilidade de se projetar unidades de CCS a partir do zero.
Inevitavelmente, o sucesso dependerá dos preços futuros do carbono no sistema de negociação de emissões da União Europeia. Atualmente eles estão em torno de € 15 por tonelada, preço que foi reduzido por causa da recessão. Ele terá que se recuperar para € 30 a tonelada para tornar a CCS economicamente viável para as companhias e empresas de serviços públicos, segundo Nicolas Vortmeyer, diretor-presidente da Siemens Energy Fossil Power Generation.
“Esses dois fatores vão decidir se isso será ou não um sucesso”, afirma ele, referindo-se à eficiência das usinas geradoras de energia adaptadas à CCS e ao preço do carbono.
Mesmo que os defensores da CCS consigam resolver os problemas técnicos e financeiros, eles poderão enfrentar um desafio ainda maior: conseguir a aceitação pública. Para construir unidades de demonstração, locais de armazenamento e milhares de quilômetros de dutos por toda a Europa, eles primeiro terão de convencer a população de que a tecnologia não é só necessária, como também segura.
Isso está se mostrando mais difícil do que muitos engenheiros haviam estimado. Recentemente, a Alemanha adiou a implementação de uma legislação para governar a captura e o armazenamento de carbono, por causa de preocupações de membros dos governos regionais. Por causa dos atrasos das regulação do setor, a Vattenfall até agora ainda não conseguiu injetar no solo nenhum quilo das mil toneladas de dióxido de carbono que sua usina de testes capturou. “Eu acho que isso [a aprovação população] poderá ser potencialmente muito difícil”, disse Joan McNaughton, ex-consultora sênior do governo britânico para a área de energia, hoje na Alstom.
Mas se Hassa estiver correto, companhias, governos e a população poderão não ter escolha a não ser encontrar um meio de fazer a CCS funcionar. “Vamos continuar usando combustíveis fósseis nos próximos anos, não apenas 10 anos, mas 50, 60 ou talvez 70 anos”, diz. “Não podemos fazer isso sem a CCS.”