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20 de junho de 2018Os problemas compartilhados por Telebras e Viasat começaram muito antes de a Justiça brasileira suspender o acordo que as duas fecharam para operar o satélite brasileiro que custou R$ 2,78 bilhões e está há mais de um ano no espaço, mas impedido de levar banda larga a qualquer lugar do Brasil.
No ano passado, uma greve de trabalhadores da Guiana Francesa atrasou o lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), que só acabou ocorrendo em maio de 2017.
“Essa greve também nos feriu um pouco”, afirmou ao G1 Kevin Cohen, gerente geral da Viasat para a América Latina. \”Depois do SGDC, o próximo satélite da fila era o nosso. Tínhamos marcado a data e não deu certo.” O cruzar de braços fez a norte-americana postergar o lançamento de seu quarto satélite, o Viasat 2, somente levado ao espaço em julho.
Quase um ano depois, Telebras e Viasat estão no centro de outra paralisação: uma ação judicial, que foi mantida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no começo do mês, suspendeu a parceria entre as duas. Isso congelou dois importantes programas do governo federal criados para levar banda larga móvel a lugares remotos: o Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão (Gesac) e o Internet para Todos.
O processo judicial foi movido pela Via Direta, uma empresa amazonense que diz ter sido preterida durante o processo privado que levou a Telebras a contratar a Viasat.
“Nós sabíamos que o Brasil é bem complicado e difícil de entrar. Mas, como o Brasil é o maior mercado da América Latina, nós já planejávamos vir e ficar por um longo prazo.”
Em conversa com o G1, Cohen contou como a possibilidade de operar o SGDC surgiu como um atalho para a Viasat chegar ao Brasil. Já estava nos planos da norte-americana aportar no país, mas somente em 2020. Nesse ano, a companhia pretende lançar o primeiro de uma constelação de satélites, chamada de Viasat 3, e o equipamento inaugural já será capaz de cobrir todo o continente americano.
Para Cohen, a insatisfação gerada entre as empresas preteridas ocorre porque a entrada de um novo concorrente costuma pressionar os preços para baixo. Ele diz também que, ainda que os desdobramentos na Justiça não sejam favoráveis, nem pensa em encerrar a parceria com a Telebras. A aposta, diz, é virar líder em internet via satélite no Brasil.
“Quando um concorrente muito forte entra, todos ficam preocupados. Nosso plano é de captar muito da participação de mercado por aqui e crescer. Nosso objetivo é ser primeiro em internet satelital no Brasil”, diz Cohen.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista, concedida pelo executivo em São Paulo:
G1 – Vocês pensavam que seria assim tão difícil chegar ao Brasil?
Kevin Cohen – Nós sabíamos que o Brasil é bem complicado e difícil de entrar. Mas, como o Brasil é o maior mercado da América Latina, nós já planejávamos vir e ficar por um longo prazo.
G1 – A Telebras vem enfrentando problemas com esse satélite desde sua concepção. Por que vocês escolheram um projeto de uma outra empresa para começar a operar no Brasil?
Cohen – Com 32 anos desenvolvendo tecnologia satelital, temos 4 satélite no espaço. Fazemos do satélite até as antenas e estações terrestres, além de operamos o serviço. Usam os nossos serviços 19 empresas aéreas. Enquanto você está lá em cima, nosso serviço permite fazer streaming de vídeos e todas as coisas que feitas no chão.
Há sete anos, lançamos nosso terceiro satélite, o ViaSat 1, com capacidade de 140 Gigabits por segundo e com cobertura para EUA, Canadá e norte do México. Em junho passado, lançamos o Viasat 2, que cobre América Central e Caribe e tem capacidade de 260 Gbps. A certas zonas, pode fornecer conexão de até 100 Mbps.
Em 2020, teremos uma constelação de satélites chamada ViaSat 3, que terá mais de 1 Terabit por segundo de capacidade. Esses três satélites terão cobertura de um terço do globo; o primeiro vai cobrir as Américas e o segundo, Europa e Oriente Médio.
Nosso plano de expansão não era ficar só nos EUA, mas entrar em outros países, como fizemos no México. Já sabíamos que o Brasil é um país muito grande, tem muita oportunidade e tem milhões de pessoas que estão desatendidas, em comunidades e vilarejos remotos.
Uma parceria com uma empresa como a Telebras nos ajudaria a entrar no mercado, porque nós planejamos ficar e crescer. Foi muito atraente. Por isso, entramos no Brasil antes do ViaSat 3. Queríamos aprender. O mercado do Brasil é tão grande que não queríamos perder a oportunidade.
G1 – O Brasil está saindo de uma crise econômica, mas ainda muito lentamente. Vale a pena entrar no país ainda que nessas condições e ainda mais oferecendo banda larga, que, apesar de onipresente e popular, não é um serviço essencial?
Cohen – Eu diria que a internet é um direito humano básico, como eletricidade, água, comida e casa. A conectividade melhora a educação. Como nós já estamos levando um serviço de conexão a preços acessíveis para quem mora em aldeias no México, nosso objetivo é atender esse mercado desatendido, de milhões de brasileiros.
O Brasil está em crise, mas, como ficaremos aqui por muito tempo, sabemos que o mercado está aqui.
G1 – Vocês esperavam que as dificuldades nascessem da concorrência?
Cohen – Sempre que entramos em um mercado, sabemos que vamos mudar o negócio. Por exemplo, com o aumento de capacidade para satélite, os preços para backhaul de celular estão caindo. Por isso, já com o SGDC, os preços iriam cair ainda mais e a velocidade seria ainda melhor. Alguns concorrentes não querem abraçar a redução dos preços.
G1 – Como a entrada de um novo concorrente faz os preços caírem?
Cohen – Se você pensar no modelo anterior do satélite, a prática era vender capacidade para sinal de TV, do tipo DTH. Mas com os novos satélites, como Viasat 1 e Viasat 2 e o de outros concorrentes que estão criando constelações satelitais, tem muito mais capacidade do que demanda para DTH. Então estamos vendendo capacidade com preços menores para poder, ao menos, fazer a venda. Há bastante capacidade e não tanta demanda nos negócios anteriores.
G1 – Por que vemos alguns lugares no Brasil sem conexão nenhuma?
Cohen – É uma questão econômica. Se você tiver que instalar uma torre de celular, seja de 3G ou de LTE, custa muito caro. E ela vai cobrir um raio de alguns quilômetros. Se fizer esse investimento para atender poucas pessoas e o poder aquisitivo delas for de R$ 10 por mês, não dá. O cálculo não fecha. Como não temos que instalar torres de celular, a diferença é que podemos levar internet de alta qualidade e a preços menores para comunidades isoladas geograficamente.
G1 – Como a Viasat pretende atuar aqui no Brasil?
Cohen – Nosso plano principal é primeiro atender o Gesac, que pretende de levar internet a 15 mil pontos, como escolas, centros de saúde, postos na fronteira etc. Além disso, teremos os planos de Wi-Fi comunitário, que faz parte do programa Internet para Todos.
Além de atender as comunidades desatendidas de classe baixa, também teremos outros serviços no futuro. Nos EUA, na Europa e na Austrália, por exemplo, temos serviço comercial para aviões. No Brasil, já assinamos um acordo com a Embraer para os jatos privados dela. Essa parceria não inclui o SGDC, e sim o Viasat 1, porque 80% dos aviões da empresa operam nos EUA.
G1 – Há a intenção de competir pelos consumidores de grandes centros no Brasil?
Cohen – Nosso objetivo é ficar nas áreas periféricas, não nas áreas urbanas centrais. Podemos levar um serviço de alta velocidade a um baixo preço para onde não tem nada.
G1 – Quanto isso custaria?
Cohen – O plano é levar internet em pacotes pequenos, por dados ou por hora. Eu diria que o preço seria o mesmo para comprar uma Coca-Cola ou um pacote de salgadinhos.
G1 – Quanto a Viasat vai investir no Brasil?
Cohen – Estamos investindo mais de US$ 50 milhões.
G1 – A Telebras diz que está perdendo dinheiro com a suspensão do acordo. O mesmo está ocorrendo com vocês?
Cohen – Primeiro, quem mais está perdendo é o povo brasileiro, porque já estaríamos em milhares de comunidades com o Wi-Fi comunitário e o Gesac. Estaríamos em escolas com conexões 10 vezes mais rápidos.
Segundo, um satélite só tem vida útil para 15 anos, e o SGDC já está no espaço há mais de 10 meses. Além disso, por não estarmos funcionando no Brasil, já perdemos milhões de dólares, mas não posso precisar quanto.
G1 – Concorrentes reclamam que começaram a negociar e foram preteridas no meio do processo. A forma como a Telebras escolheu a Viasat foi justa?
Cohen – A Telebras fez um chamamento público, não apareceram interessados. Depois disso, recebeu propostas de todos os concorrentes. Nós confiamos na Justiça e no processo, porque fizemos tudo direito.
G1 – A Viasat já se tornou operadora de um satélite de outra empresa em algum lugar do mundo?
Cohen – Sim, na Austrália, instalamos as estações terrestres e operamos o serviço, porque o país possui dois satélites próprios.
G1 – Em algum lugar do mundo, a Viasat já foi obrigada a retirar equipamentos que estávamos instalados?
Cohen – Essa é a primeira vez. Essa ideia de retirar os equipamentos foi muito chocante. Antes, as crianças tinham um serviço em que tinham de esperar. Cada um tinha de fazer sua tarefa para dar lugar a próxima criança. Depois, quando chegou o serviço do SDGC, eles podiam fazer as tarefas ao mesmo tempo. Esse serviço atendia a necessidade delas.
G1 – Há alguma chance de a Viasat desistir do acordo com a Telebras, já que os resultados na Justiça não têm sido nada favoráveis?
Cohen – Nós confiamos no processo e estamos aqui para ficar. Estamos confiantes de que poderemos recomeçar o trabalho com o SGDC.
G1 – Operando o SGDC, a Viasat já gerou um desconforto entre os concorrentes. Espera o mesmo quando o Viasat 3 entrar em operação?
Cohen – Quando um concorrente muito forte entra, todos ficam preocupados. Nosso plano é captar muito da participação de mercado por aqui e de crescer. Nosso objetivo é ser primeiro em internet satelital.