De forma reservada, integrantes do Itamaraty classificaram como \”salomônica\” a decisão do governo brasileiro de abrir um escritório de negócios em Jerusalém.
De um lado, o presidente Jair Bolsonaro não atendeu a um pleito de Israel ao descumprir sua promessa de transferir a sede da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém.
Isso acabou gerando críticas de autoridades israelenses, que apostavam na disposição de Bolsonaro em honrar a palavra sobre a transferência da embaixada.
Tanto que o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, deixou claro em sua fala que espera que a instalação do escritório seja o primeiro passo para que o Brasil faça a transferência da embaixada.
De outro, desagradou não só palestinos, mas também países islâmicos – e não apenas do mundo árabe – que são parceiros comerciais importantes para a exportação brasileira de carne bovina e de frango.
Tanto que a Autoridade Palestina condenou \”nos termos mais fortes\” a decisão brasileira de abrir um escritório de negócios em Jerusalém e convocou seu embaixador no Brasil para consultas.
Fontes do Ministério da Agricultura já demonstram preocupação com a reação de parceiros comerciais brasileiros entre os países islâmicos. O Brasil conquistou ao longo de anos um mercado poderoso de exportação de carne bovina e de frango para esses países – um negócio maior que US$ 3 bilhões por ano.
Toda a movimentação inicial de Bolsonaro era mesmo pela transferência da embaixada. Mas a forte reação da bancada ruralista, que teme perder gradualmente esse mercado, e o alerta da ala militar do governo fizeram o governo recuar da promessa inicial do presidente.
Um crítico público da mudança foi o próprio vice-presidente Hamilton Mourão. A avaliação reservada de militares é que o Brasil não pode perder a condição de país neutro no Oriente Médio. Caso contrário, pode virar rota do extremismo religioso já presente em vários países do mundo.