O presidente da Federação Latino-americana de Bancos (Felaban) e presidente para as operações do Itaú na América Latina, Ricardo Marino, disse ontem que a regulação do sistema financeiro, em discussão no Financial Stability Board (FSB), no Comitê da Basileia, e entre os países do G-20, pode encarecer o custo do crédito no Brasil e na América Latina.
“O custo do crédito no Brasil já é alto, uma vez que o país conta com a maior taxa de juros da América Latina, a maior taxa de inadimplência e a maior taxa de compulsórios”, disse, ao explicar que esse custo pode aumentar ainda mais.
A taxa de compulsórios atualmente está em 47% (alíquota de 42% mais um compulsório adicional de 5% que é incidente sobre depósitos acima de R$ 1 bilhão), e a taxa de inadimplência está em 5,6% no total, sendo 7,8% referente a pessoas físicas e 3,8% a pessoas jurídicas, de acordo com o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.
Segundo ele, o problema é que a regulação pode tornar o sistema mais caro e lento, dependendo do que for exigido por parte dos bancos.
“A Felaban defende uma boa regulação, consistente e previsível, e não uma regulação excessiva”, afirmou Marino, durante coletiva de imprensa proposta para discutir os desafios para os bancos na região da América Latina.
“As variáveis que estão sendo tratadas nessa regulação são a necessidade de um maior nível de capitalização e de alertas preventivos que diagnostiquem problemas, níveis adequados de alavancagem, novas regras de contabilidade para balanços do sistema financeiro, e uma melhor gestão do risco operacional, de crédito e de mercado.”
Um dos pontos ressaltados pelo presidente da Felaban diz respeito à remuneração nos bancos. “Não se pode apenas pagar pelo resultado gerado, pelo ROI (retorno sobre o investimento), mas também pelo resultado ajustado ao risco (RAROC), a exemplo do que alguns bancos no Brasil já fazem.”
O vice-presidente da Felaban, Oscar Rivera, representante do Peru, disse temer que o assunto da regulação seja tratado por alguns países mais politicamente do que tecnicamente, o que representa um risco para o sistema bancário da América Latina.
Na ocasião, ambos lembraram que os países da região e seus sistemas financeiros se saíram bem da crise. “Nosso sistema é bastante sólido, líquido e capitalizado”, disse Marino. Em sua opinião, o Brasil já possui uma regulação “bastante prudente”. “Passamos por dias, anos, décadas de juros altos, crises cambiais e inflação. Nosso sistema evoluiu de forma que tivéssemos uma visão holística e não fragmentada, como é o caso do sistema americano.”
Questionado sobre se a futura regulação pode impedir a expansão do crédito no Brasil, Marino respondeu que o crédito irá encarecer, mas não parar de crescer. “O crédito no país ainda tem muito espaço para crescer, principalmente no que se refere ao financiamento imobiliário.”