JUSTIÇA DE SÃO PAULO DETERMINA QUE O MUNICIPIO AUTORIZE A EXPEDIÇÃO DE NOTAS FISCAIS ELETRÔNICAS.
9 de fevereiro de 2024Por que Rússia deve crescer mais do que todos os países desenvolvidos, apesar de guerra e sanções, segundo o FMI
18 de abril de 2024A governança corporativa virou unanimidade entre investidores, empresas e analistas. Mas no meio dessa crise toda, o fato de a empresa respeitar o acionista, dar direito de voto, dividir o prêmio de controle em caso de venda (o chamado \”tag along\”) e manter o máximo de transparência de informações fez diferença para os preços dos papéis? Aparentemente não.
Levantamento feito pelo professor William Eid Júnior, do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), mostra que os preços das ações nos chamados níveis de governança da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) – Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado – caíram praticamente na mesma proporção que as demais. O período vai de 30 de junho a 12 de dezembro. Dentre os ativos que compõem o Índice Bovespa (Ibovespa), os 21 papéis que estavam fora de qualquer um dos níveis de governança caíram 25,12%. Já as ações presentes no Nível 1 recuaram 24,01%, enquanto aqueles com o selo do Nível 2 perderam 34,53%. Nesse mesmo intervalo, as ações do Novo mercado apresentaram baixa de 23,91%.
Comparando-se o desempenho do Índice Bovespa e o do Índice de Governança Corporativa (IGC), a governança também está em desvantagem. Até 12 de dezembro, o IGC da Bovespa apresentava perda de 43,3% no acumulado do ano, para uma desvalorização de 38,4% do Ibovespa.
As maiores quedas aparecem nas ações listadas no Nível 2 de governança. O grupo de papéis apresentou, entretanto, o menor desvio padrão (medida estatística de dispersão, que pode ser entendida como uma medida de risco). Isso ocorreu, no entanto, porque todas as ações despencaram juntas. No geral, foram as ações sem o selo de governança que apresentaram melhor retorno e menor risco.
A conclusão de Eid é que a governança, que deveria proteger o acionista, já que em tese oferece mais transparência aos investidores, teve pouca valia na crise recente. \”Mas as empresas com boa governança não deveriam ter um risco menor?\”, questiona. \”Não foi isso que se viu.\”
Com a intensa atividade de ofertas públicas iniciais (IPO, em inglês) em 2007, o Novo Mercado, o selo mais alto de governança do mercado brasileiro, foi inflado e hoje conta com 46 companhias, segundo o levantamento do pesquisador da FGV-SP. O Nível 1 tem 16 empresas e o Nível 2, 25 companhias.
Para Eid, em um momento de incerteza mundial como o atual, as empresas de governança, teoricamente mais transparentes, deveriam estar mais blindadas do que as demais, sendo um porto mais seguro para o investidor. \”Mas não é isso que se observa\”, afirma. Para ele, isso é um sinal de que a governança no Brasil ainda é em grande parte, coisa para \”inglês ver\”. \”Junte a isso os problemas graves com derivativos que Sadia e Aracruz tiveram e que os conselhos independentes não conseguiram identificar\”, afirma Eid. \”Não adiantou nada\”. Sem falar em outros casos, como o da concordatária Agrenco, que vinha sendo investigada pela Polícia Federal antes mesmo de vir a mercado e ninguém ficou sabendo desse tipo de risco.
Para o professor, os conselheiros independentes das empresas não estão preparados para enfrentar os riscos externos. Além disso, muitas vezes as empresas alegam que controlam os riscos usando modelos de probabilidades. \”Mas há riscos que podem ser medidos por probabilidades porque não podem acontecer nunca, e isso os modelos não mostram\”, diz ele. O professor dá o exemplo da roleta-russa, em que se oferece a uma pessoa um revólver com uma bala e se diz que se ela não morrer, ela ganha R$ 100 mil. \”Ninguém aceita, e não adianta aumentar o valor porque o efeito negativo é tão ruim que ninguém quer correr aquele risco\”, afirma. No caso da Aracruz, por exemplo, se a operação de opções de dólar que a empresa fez tinha a mínima probabilidade de quebrar a empresa, ela nunca deveria ter sido feita, por melhores que fossem as chances. \”E os conselhos não estão preparados para acompanhar isso\”, diz.
Para Eid, há muita coisa interessante no processo de governança, mas muito marketing também. \”Temos empresas com um único acionista controlador, outros que usam o patrimônio da empresa como se fosse seu ou da família, e mesmo assim dizem que têm governança\”, diz.
Crítico declarado da moda da governança, Eid acha que a definição deve mudar. \”É preciso entender que há outros processos para proteger o acionista, não basta só garantir \’tag along\’, porque isso não agrega mais valor\”, afirma. E lembra a frase do ex-presidente do banco central americano (Federal Reserve, o Fed), Alan Greenspan, sobre os problemas vividos pelas empresas americanas. \”O Greenspan achou que as organizações protegeriam seus acionistas, o que não aconteceu\”, diz. \”No mercado, não existem cavalheiros, e muito menos acordos de cavalheiros\”, conclui.