O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon deu sinais de que o país norte-americano está mais propenso ao diálogo a fim de encontrar soluções aos problemas comerciais recentes enfrentados por ambos os países. “Há uma boa vontade dos Estados Unidos de buscar uma solução para evitar retaliações”, disse o embaixador ontem, ao participar de encontro, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
Para os participantes da reunião, a solução serviria para aprofundar as relações bilaterais entre ambos, impactadas, principalmente, pela decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC), no fim de 2009, que autorizou o Brasil a retaliar em até US$ 830 milhões os produtos norte-americanos em reação aos subsídios concedidos ao algodão daquele país. No começo deste mês o governo norte-americano intensificou as articulações propondo compensações ao setor têxtil brasileiro para evitar retaliações aos seus produtos.
Quando assumiu o cargo, há cerca de 20 dias, Shannon comentou que haveria a possibilidade de os Estados Unidos reagirem caso o Brasil exerça o direito dado pela OMC. “O governo dos EUA e o governo brasileiro já disseram claramente que gostariam de encontrar uma solução que evite a necessidade de retaliação. Porque a retaliação sempre provoca uma contrarretaliação”, afirmou na época. Ontem, ele recuou em sua opinião.
“Vamos buscar aprofundar as relações bilaterais, assim como as comerciais, entre Brasil e Estados Unidos, de modo a desenvolver uma relação mais forte, mais aberta e mais transparente, tendo como resultado uma parceria do século 21”, ressaltou Shannon. Sobre os diálogos das retaliações, entretanto, o embaixador não quis entrar em detalhes, mas afirmou que “há boas possibilidade de uma solução positiva”.
“É importante encontrar caminhos para evitar retaliações sem prejudicar o Brasil. Parece que há uma intenção firme de tomar providências quanto os impasses comerciais entre ambos países e compensações ao agronegócio brasileiro. Vamos [Fiesp] propor formas criativas que apoiem a agricultura brasileira. É o momento de discutir isto”, afirmou Paulo Skaf. Segundo ele, o embaixador ficou de dar resposta sobre as alternativas.
O presidente da Fiesp disse, ainda, que apesar de tentar manter uma boa relação entre Brasil e Estados Unidos, a decisão da OMC deve ser respeitada. “Deve ser um exemplo para outros países e não pode haver desrespeito senão não faz sentido ela [OMC] existir. Qualquer posição contrária à decisão da Organização é ruim para o país que não a aceita”, cutucou. Ele comentou que a Fiesp estuda a proposta de criação de um Fundo à apoiar o agronegócio brasileiro, sem dar maiores detalhes sobre o assunto.
As discussões referentes às retaliações e demais negociações poderão ser aprofundadas na semana que vem, quando está prevista a visita da secretária de Estado do governo Barack Obama, Hillary Clinton. O encontro será com o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que tratará, além de assuntos econômicos, discussões sobre a relação entre Brasil e Irã, a atuação no Haiti e o novo governo de Honduras. O embaixador americano no Brasil não quis comentar sobre a confirmação da data da visita, mas adiantou que a secretária tem forte interesse de intensificar as negociações com o governo brasileiro.
Shannon também foi questionado sobre a situação da Organização dos Estados Americanos (OEA). “É sempre bom construir um espaço para que todo os países do hemisfério tenham um amplo diálogo”, disse. “Temos que aprofundar a integração das Américas”, completou.
Balança comercial
Estas negociações bilaterais são importantes para manter a balança comercial brasileira com resultado superavitário (diferença positiva entre as exportações e as importações). Dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (Mdic) mostram que, entre os dias 1º e 21 de fevereiro, a soma das exportações importações no Brasil acumulou superávit de US$ 735 milhões, o que representou saldo médio diário de US$ 56,5 milhões. Apenas a primeira semana do mês registrou déficit de US$ 172 milhões. Na segunda semana e terceira semana de fevereiro houve superávit de US$ 691 milhões e US$ 216 milhões, respectivamente.
No período, as exportações cresceram 26,6% em comparação com o ano passado (US$ 532,6 milhões), totalizando US$ 8,768 bilhões (média diária de US$ 674,5 milhões). As importações também aumentaram 42,1% frente a fevereiro de 2009 – 7,7% superior ao verificado em janeiro deste ano -, somando US$ 8,03 3 bilhões (média diária de US$ 617,9 milhões).
Até a terceira semana de fevereiro, a corrente de comércio (soma das operações de exportação com as de importação) foi de US$ 16,801 bilhões, o que representou movimentações médias diárias de US$ 1,292 bilhão.