O agravamento da crise na zona do euro e a possível mudança do tratado da União Europeia vão mexer com os mercados neste início de semana e podem representar dificuldades para a oferta de crédito no Brasil num futuro próximo. Em entrevista ao DCI, o professor de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Leonardo Trevisan, previu que o maior risco para os brasileiros é a crise contaminar a economia chinesa. Já existem evidências de que as dificuldades em torno do endividamento de alguns países europeus não apenas se espalham para os bancos, reduzindo sua capacidade de autofinanciamento, mas também atingem os principais parceiros comerciais, no caso a China.
Para Trevisan, a vitória da direita na Espanha ontem e a provável ascensão dos socialistas na França nas eleições de abril de 2012 não serão suficientes para evitar o agravamento da crise europeia e a segunda recessão mundial em três anos, com impacto direto na oferta de crédito no mercado brasileiro, reduzindo o ritmo da economia nacional, com reflexos na produção industrial e na oferta de empregos. Na opinião de Trevisan, a crise está expondo a fragilidade da fórmula criada para a zona do euro.
A direita espanhola obteve uma vitória histórica nas eleições legislativas de ontem, conquistando entre 181 e 185 cadeiras, das 350 em disputa, conforme as pesquisas divulgadas logo depois do fechamento das urnas. Desta forma, Mariano Rajoy deverá ser confirmado como o novo primeiro-ministro espanhol.
Para Trevisan, a derrota do primeiro-ministro José Luiz Zapatero está ligada à coragem do político de fazer as mudanças necessárias na economia espanhola, promovendo medidas que atingiram todas as classes sociais, criando um clima de descontentamento que levou à vitória da direita. “Zapatero aplicou medidas impopulares, o que ninguém da zona do euro teve coragem de fazer”, garantiu. “Por exemplo, ele conseguiu passar no parlamento mudanças na Lei de Dependência, que garante os direitos sociais da população, derrubando itens que afetaram a contratação de empregados, causando desemprego. Governo nenhum passa por um processo desses ileso, e foi o que aconteceu”, acrescenta.
Na Espanha mais de 21% da população economicamente ativa está desempregada. Se considerada a faixa de 18 a 34 anos, esse índice chega a 55%.