A redução da taxa básica de juros (Selic) impacta
diretamente a rentabilidade dos investimentos. A renda fixa (como os
fundos DI e CDB) passa a render menos. Enquanto a renda variável (ações)
ganha fôlego e pode trazer retornos mais significativos ao investidor.
Na
quarta-feira passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central promoveu o segundo corte consecutivo na Selic. Desta vez, o
recuo foi de 0,50 ponto percentual, o que colocou a taxa em 11,5% ao
ano. Para alguns economistas, a Selic deve chegar a 8,5% ao ano até o
fim de 2012. Se essa redução expressiva acontecer, os impactos nos
investimentos serão ainda mais nítidos, dizem especialistas em finanças
pessoais.
“No atual patamar da taxa, o investidor já tem que fazer
a conta do ganho líquido obtido em fundos de renda fixa e comparar com a
caderneta de poupança”, diz Fábio Gallo, professor de finanças da
Fundação Getulio Vargas (FGV) e da Pontifícia Universidade Católica,
sugerindo que, em alguns casos, a poupança já pode ser mais vantajosa do
que determinados fundos. Ele explica que essa situação ocorre
justamente porque a caderneta não tem incidência de Imposto de Renda,
nem taxas de administração, diferentemente dos fundos, que têm os dois
custos. “Por isso é preciso fazer o cálculo e saber qual das opções está
mais vantajosa”, acrescenta Gallo.
A competitividade da poupança
fica maior conforme o juro cai. O professor de finanças da Ibmec do Rio
de Janeiro Luiz Filipe Rossi lembra, porém, que é preciso incluir nesta
conta a inflação. “Se o juro cai, mas a inflação continua alta, como
está hoje, as rentabilidades são ainda mais afetadas. Portanto, este
número também deve entrar no cálculo”, detalha.
Rogério Bastos,
diretor da FinPlan, concorda com os dois especialistas. “Quando a Selic
chegar a 9% ao ano, se a inflação estiver na meta, muito provavelmente a
poupança volta a ser interessante para o investidor de varejo”,
reforça.
Os títulos do Tesouro Direto, embora também se enquadrem
na modalidade da renda fixa, também devem continuar atraentes e
vantajosos ao investidor – mesmo em relação à caderneta de poupança. O
motivo também é o fato de os títulos terem custo baixo para a aquisição.
Juro
alto significa custo financeiro alto às empresas. Se a taxa cai, esse
custo também recua e o valor das companhias, consequentemente, sobe.
Dessa forma, teoricamente, as cotações das ações dessas empresas tendem a
subir, explicam especialistas. Além disso, comparativamente às
modalidade da renda fixa, que perdem com a redução do juro, o
investimento no mercado acionário também tende a ganhar competitividade.
A
situação do mercado externo, porém, também é fator relevante para a
bolsa. “A bolsa, teoricamente é beneficiada com a queda dos juros, mas a
modalidade está sofrendo demais com a situação na Europa, portanto, não
creio em forte recuperação, por enquanto”, diz Bastos.
Mesmo se a
Selic recuar para 8,5% ao ano, o Brasil seguiria na posição de
liderança do ranking de juros mais altos do mundo. Porém, no longo
prazo, com a ampliação da estabilidade econômica, a perspectiva é de
seguidas quedas na taxa. “E, então, devemos começar a nos acostumar com
rentabilidades mais baixas em todas as aplicações”, comenta Gallo. “O
investidor deverá estar mais atento e fazer contas comparando melhor os
ativos e dando mais atenção às suas estratégias de investimento”,
completa o especialista.