A queda de dois dígitos do Ibovespa no acumulado do ano está mantendo os investidores pessoa física fora do mercado acionário ao contrário dos planos da própria BM&FBovespa de ampliar essa base. Profissionais do mercado avaliam que esse tipo de investidor ainda não se sente seguro em deixar recursos aplicados em bolsa durante períodos turbulentos. Para eles, o retorno desses segmento só será possível quando a Bovespa engatar uma melhora e sustentar seguidas altas frente as perdas acumuladas de 20% no ano.
Desde o começo do ano, a Bolsa perdeu 12.682 pessoas físicas, reduzindo para 598.233 essa base de investidores. A ideia, no final do ano passado, era ter 5 milhões de CPF cadastrados até 2015, mas diante da turbulência que se abateu nos mercados na últimas semanas, a estimativa do prazo para alcançar a meta foi revista para 2018.
Conforme o analista do HSBC Research, Paulo Ribeiro, a aversão geral ao risco global e o fraco desempenho do mercado de ações local reduziu o apetite da pessoa física no segmento da Bovespa. Recentemente, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, disse que se surpreendeu com o comportamento das pessoas físicas, que não saíram em massa diante da crise. Segundo ele, isso é fruto do amadurecimento desse investidor. Por outro lado, o executivo reconheceu que o momento não é favorável para a entrada de novos investidores dessa classe e, por isso, a Bolsa decidiu alterar o prazo para atingir a meta de 5 milhões de CPF.
Por mais que tenham amadurecido nos últimos anos, os analistas entendem que o conhecimento das pessoas físicas sobre o mercado acionário ainda é primário, principalmente quando o mercado atravessa períodos de forte volatilidade. Elas não conseguem resistir à tentação de vender quando a bolsa engata um canal de baixa e comprar só quando a tendência de alta se consolida. “A pessoa física ainda espera obter lucro de curto prazo com ações, acaba se desesperando quando vê suas aplicações encolherem e sai da bolsa prematuramente. O melhor seria diversificar seus investimento, entrar na baixa da bolsa e sair na alta”, afirma o gerente da mesa de investimentos pessoa física da Fator Corretora, Alfredo Sequeira.
Em agosto, as pessoas físicas já retiraram quase meio bilhão da Bovespa. Conforme dados da BM&FBovespa, na primeira quinzena do mês, esse tipo de investidor comprou R$ 19,725 bilhões em ações e vendeu R$ 20,215 bilhões, resultando em um saldo negativo de R$ 490 milhões.
Especialistas avaliam que o brasileiro ainda tem dificuldade com a cultura da renda variável e se frustra mais facilmente quando não consegue obter o retorno esperado, embora a BM&FBovespa esteja empenhada em ações para atrair esse perfil de investidor. “Normalmente, essa fatia do mercado não aceita obter, sequer, o retorno da renda fixa”, avalia Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.