A crise da dívida que começou na Europa vai se espalhar, não poupará nem
países emergentes e é uma ameaça para a estabilidade financeira
internacional. O alerta é do Banco de Compensações Internacionais (BIS, o
banco central dos bancos centrais). A entidade aponta que o risco país
elevado será a nova realidade no cenário financeiro e não vai ceder nos
próximos anos.
Em estudo feito sobre a crise da dívida, a instituição concluiu que o
buraco nas contas dos governos, que é fenômeno em diversos países,
chegou para ficar por um longo tempo e pede que autoridades acelerem uma
solução se não quiserem ver bancos e todo o sistema financeiro
duramente afetados pela nova crise.
O colapso da economia mundial em 2008 obrigou países ricos a
promoverem o resgate de setores inteiros das suas economias. Três anos
depois, o resultado é a explosão das dívidas dos governos. Entre 2007 e
2010, a média dos déficits orçamentários dos governos passou de 1% para
8% do PIB. Já a dívida média saltou de 73% para 97% do PIB.
Os economistas constataram que são esses próprios governos que sofrem
para pagar suas contas. Para o BIS, é a economia mundial que está
ameaçada. “A estabilidade financeira global depende das condições
fiscais de cada país”, alerta.
Cálculos indicam que a crise da dívida soberana irá se espalhar nos
próximos anos e papéis da dívida pública serão considerados cada vez
mais ativos de risco. “Olhando para o futuro, as preocupações com o
risco soberano devem afetar uma gama mais ampla de países”, diz o
estudo. “Nas economias avançadas, o nível da dívida soberana deve subir
nos próximos anos”.
Crise ampla. O banco desfaz a noção de que a crise
seja limitada à Europa e aos Estados Unidos e aponta que os emergentes
não estão imunes. “Nas economias emergentes, a vulnerabilidade a choques
externos e instabilidade política podem ter efeitos adversos
esporádicos no risco soberano”.
O BIS insiste que a crise mais grave é na zona do euro e que os
níveis de dívidas dos emergentes são menores. “Mas, no geral, o risco
sobre a dívida dos países deve ser maior e mais volátil nos próximos
anos”, alerta.
Não é só a periferia da Europa que sofre com a crise. Ela já atinge
Itália e Bélgica e o estudo deixa claro que EUA, Reino Unido e Japão
podem ser as próximas grandes ameaças. Junto com a zona do euro somariam
“enormes déficits fiscais”.
Alguns deles já foram alertados de que podem perder seu status de AAA
dado pelas agências de rating. Esses países, além dos resgates
bilionários aos bancos, enfrentam envelhecimento de suas populações,
empresas endividadas e famílias com altas taxas de insolvência. “O risco
país alto deve ser elemento persistente a partir de agora”, indica.
Bancos. Para o BIS, trata-se do fim da percepção de
que os papéis do Tesouro desses países não representam risco e quem
sofrerá são os bancos. Na Europa, bancos têm exposição de cerca de US$ 1
trilhão nas economias que sofrem com dívidas elevadas. Se for
contabilizada, a exposição total dos bancos aos títulos da dívida
soberana chegaria a 75% dos italianos, alemães e americanos. No caso dos
suíços, belgas e canadenses, a taxa sobe para 200%. A crise da dívida
pode levar a uma maior dificuldade dos bancos em relação à liquidez,
além da erosão dos lucros e da estabilidade. Os primeiros exemplos são
dos bancos de Portugal e Grécia.