A presidente Dilma Rousseff usou a crise no Ministério dos Transportes
para se livrar do diretor-geral do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, e do
presidente da Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. (Valec), José
Francisco das Neves, além de outros dois servidores do gabinete do
ministro Alfredo Nascimento. Na manhã dessa segunda-feira, o Planalto
emitiu nota em apoio ao titular da pasta, uma escolha da própria
presidente, e disse que ele será responsável por conduzir as
investigações.
Apesar do apoio, ainda que tímido ao ministro,
também nessa segunda-feira a Controladoria-Geral da União (CGU) anunciou
um pente-fino nos contratos e obras da pasta e de seus principais
órgãos. A reportagem apurou entre assessores do atual governo e do
anterior, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que Dilma
manteve, mas nunca gostou de ter em seu governo Pagot e Neves, este
conhecido pelo apelido de “Juquinha”. Tolerou-os até agora porque ambos
haviam sido nomeados por Lula, seu padrinho na eleição presidencial.
Ao
ver a oportunidade de se livrar deles, não teve dúvidas: Dilma mandou
afastá-los ainda no fim de semana, um termo mais suave do que demissão,
mas com a mesma eficácia. Nessa segunda-feira, na reunião da bancada do
PR, parlamentares diziam que Pagot e Neves pediram licença até as
investigações serem concluídas.
Na sexta-feira à noite, ao tomar
conhecimento do teor de reportagem da revista Veja que apontava
irregularidades e superfaturamento nos órgãos dos Transportes, Dilma
determinou a Nascimento que afastasse os dois e, por tabela, outros dois
subalternos citados pela publicação – o chefe de gabinete Mauro Barbosa
da Silva e o assessor especial Luís Tito Bonvini. Segundo a bancada do
PR, ambos pediram demissão.
Ao contrário do que supunham
integrantes do próprio governo, Dilma preferiu não só preservar
Nascimento, mas torná-lo responsável pela condução das investigações nos
Transportes. A decisão ocorreu depois de ela ter conversado por pelo
menos três vezes com o ministro no fim de semana. Nascimento foi
escolhido por Dilma, apesar da pressão do PMDB para que não o nomeasse,
uma vez que é adversário do senador Eduardo Braga nas disputas políticas
no Amazonas.