Ideólogo do itamaraty no governo anterior, Guimarães terá cargo no Mercosul
Um dos ideólogos da política externa nacionalista do governo Lula, Samuel Pinheiro Guimarães ganhou uma função honrosa – mas acessória – na diplomacia de Dilma Rousseff. O embaixador, que desde outubro de 2009 tem status de ministro na Secretaria de Assuntos Estratégicos, entregará o cargo hoje, às 10h, ao ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco (PMDB).
Odestino de Guimarães foi resolvido durante o fim de semana. Nem mesmo no ministério assessores sabiam do futuro dele. No sábado e no domingo, Dilma conseguiu a aprovação de todos os governos do Mercosul e do presidente da Venezuela, Hugo Chávez (que pleiteia o ingresso no bloco), para nomear Guimarães para o recém-criado cargo de alto representante do Mercosul, uma espécie de porta-voz do grupo. A informação foi publicada pelo jornal Valor Econômico, ontem.
Até 2009, Guimarães era o segundo na hierarquia do itamaraty. Quando ganhou a função de ministro, uma das justificativas da época para o seu afastamento seria o fato de que estava prestes a completar 70 anos e, se permanecesse no itamaraty, teria de se aposentar compulsoriamente – o limite não vale para um ministro. Foi substituído à época por Antonio patriota, agora escolhido por Dilma como ministro das Relações Exteriores, que deve reorientar a diplomacia brasileira conduzida por Celso Amorim, titular da pasta no governo Lula.
O anúncio da nomeação de Guimarães deverá ser feito oficialmente pelo presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que detém a presidência temporária do Mercosul neste semestre. Lugo deixou o Brasil no sábado da posse, mas deu a bênção ao nome escolhido por Dilma.
O cargo de alto representante foi criado na última reunião do Mercosul, há cerca de duas semanas, em substituição ao posto de presidente do bloco, vago com a morte do ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner.
– É para o Mercosul ter uma cara. Ele falará em nome do bloco – definiu o então ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, ao anunciar a criação do cargo, em dezembro.
Guimarães é conhecido no mundo acadêmico pela defesa de medidas de fortalecimento do poder de barganha do Brasil nas instâncias internacionais e pela defesa de aliança entre países do Sul como forma de pressionar as grandes potências. Em um telegrama divulgado recentemente pelo site Wikileaks, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, teria dito que Guimarães teria “ódio” dos Estados Unidos.