Apesar de o consenso de manutenção da Selic em 8,75% ser absoluto e maciço, a reunião de quarta-feira do Copom do Banco Central não perdeu relevância. Ainda é o principal evento doméstico da semana por causa da grande ansiedade dos analistas em torno da possibilidade de o encontro fornecer sinais sobre o futuro. O fato é que o consenso se esgota nessa reunião, pois a divergência é total sobre o momento em que a autoridade irá (se for) iniciar um ciclo de alta da Selic. Há instituições, como a Gradual Investimentos, que não descartam o risco de alta do juro já na próxima reunião, dia 9 de dezembro, a última do ano. E há consultorias, como a Rosenberg & Associados, que acreditam no congelamento da taxa no atual patamar até o fim do governo Lula. Entre um extremo e outro, as apostas são as mais variáveis. Um maior número de instituições escolheu o Copom de 21 de julho de 2010 como o divisor de águas: o hiato do produto estaria se fechando e as pressões sobre o IPCA de 2011 já seriam suficientes para requerer providências monetárias. Mas não configuram uma maioria.
O economista-chefe da Gradual, Pedro Paulo da Silveira, considera possível a sinalização agora de que o BC pretenda elevar a taxa já em dezembro. Ou o placar em favor da estabilidade na reunião de depois de amanhã não seria por unanimidade ou, na ata, a indicação seria de aperto iminente. O seu raciocínio é o de que, mesmo não havendo indícios de descontrole inflacionário, a aceleração econômica já é evidente e pede a volta do juro ao seu patamar de neutralidade. E a Selic de 8,75% estaria longe do juro de equilíbrio.
Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB, descarta uma mudança de rumos da política monetária. Nem a decisão em si, nem o comunicado pós-Copom, nem a ata irão indicar mudança de orientação da política de juros. “A racionalidade não nos permite ver, desde já, a materialização de um cenário de contínua deterioração das expectativas de inflação”, diz Padovani. Os impactos inflacionários decorrentes da retomada da atividade podem ser atenuados pela apreciação cambial e pela relativa inércia presente nos preços administrados. “O cenário de retomada da China não implica que os preços de commodities retornem aos picos alcançados nos últimos anos”, diz o economista.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, lembra que o último Relatório de Inflação do BC deu todas as indicações de que está disposto a subir o juro. Mas não disse quando. E vários fatores ajudam a manter a inflação sob controle no ano que vem. Primeiro: a taxa de câmbio deve continuar se apreciando e vai ajudar a segurar os preços dos bens comercializáveis. Além disso, por conta do crescimento mundial ainda fraco, é de se esperar preços de importação também baixos, o que junto com o câmbio apreciado permite controle dos preços desses produtos aqui dentro. Segundo: os preços administrados, que são 30% do IPCA, estarão espelhando a inflação atacadista deste ano, negativa. “Mesmo para serviços devemos considerar que, por serem muito indexados ainda, IGPs baixos serão essenciais para segurar esses preços também”, diz Vale. E, terceiro, o hiato do produto. O economista não vê problema com o hiato até o final do ano que vem. Mesmo o país crescendo 5% no ano que vem, que é a projeção da MB, o hiato só fecharia no final do ano. “E devemos lembrar que a última vez que o BC aumentou a Selic ele o fez depois que o hiato já havia fechado há quase um ano. Se ele aumentar a Selic ano que vem deverá ser antes do hiato virar um problema, movimento esse que o BC não faz usualmente”, diz Vale.
A “realização” suscitada nos mercados na sexta-feira pelo inesperado prejuízo de US$ 1 bilhão sofrido pelo Bofa no terceiro trimestre dificilmente irá se transformar em tendência efetiva de queda esta semana. Sobretudo no Brasil, não há clima para reversões. Como, por exemplo, no viés da taxa de câmbio. Na sexta-feira, o dólar subiu 0,47%, para R$ 1,7080. Mas na semana caiu 1,67%. As informações sobre a volta do IOF pouca influência causaram na valorização de sexta-feira. Se a tributação não impediu no passado que o dólar descesse a R$ 1,55, quando era agressiva a participação de hedge funds interessados em ganhar a Selic, agora terá eficácia menor ainda, já que não há especulação vendida no mercado futuro por parte do capital estrangeiro.