As taxas de juros terminaram a semana passada com o mesmo viés com o qual iniciaram o período: de alta. Na sexta-feira, o swap de 360 dias subiu de 9,56% para 9,60%. Na sexta anterior estava em 9,30%. O juro real implícito nesse contrato avançou de 4,89% para 5,18%. Aos motivos anteriores – revisão para cima do crescimento projetado para economia em 2010, perspectiva de maiores pressões de demanda provenientes de gastos pré-eleitorais e incertezas relacionadas a uma possível substituição do presidente do Banco Central e de dois diretores -, juntou-se o Relatório de Inflação referente ao terceiro trimestre do ano. Ao sinalizar uma aceleração inflacionária em 2011, o Relatório fez coro com a expectativa majoritária do mercado de que a Selic irá subir no ano que vem.
Não basta a projeção oficial de IPCA estar abaixo do centro da meta (4,5%) para 2009 e 2010. No primeiro caso, a estimativa está em 4,2% e, no segundo, em 4,4%. Estas perspectivas asseguram, no entender da economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, um “certo conforto para a trajetória de juros no curto prazo”, motivo pelo qual não espera elevação da Selic no primeiro semestre de 2010. Mas o cenário muda quando o foco passa a ser 2011. E como as decisões de política monetária têm um retardo estimado entre seis a nove meses, tal cenário afeta as reuniões que o Copom fará no segundo semestre do ano que vem.
As expectativas para o primeiro ano do próximo governo sinalizam uma aceleração da inflação tanto no cenário de referência (que considera Selic e taxa de câmbio estáveis ao redor dos patamares atuais), como no cenário de mercado (que considera o cenário de mercado do relatório Focus tanto para Selic quanto para taxa de câmbio). “Partindo dos 4,4% estimados para final de 2010, a inflação acelera para o patamar de 4,7% nos trimestres seguintes, permanecendo ainda muito próximo às metas, mas em aceleração”, observa a economista.
No Relatório, o BC deu especial destaque ao ritmo acelerado de recuperação da atividade econômica doméstica. E isso está ocorrendo tanto por causa dos efeitos defasados da política monetária quanto por conta dos impactos expansionistas dos estímulos fiscais, que devem perdurar ao menos até o segundo semestre de 2010. O documento aborda também o risco de os efeitos cumulativos das políticas fiscal e monetária atingirem intensidade máxima quando o grau de ociosidade dos fatores for menor do que o atual, gerando possíveis pressões sobre os preços. “Ainda que as projeções para a inflação deste ano e do próximo continuem abaixo da meta, a aceleração no ritmo de recuperação da atividade econômica coloca riscos ao cenário inflacionário de 2011, o que aumenta as chances de uma elevação dos juros em 2010, possivelmente no segundo semestre”, diz Maristella.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, a principal novidade do Relatório é a explicitação da questão fiscal como uma fonte de pressão sobre a demanda interna. “O BC deixa mais claro que a política monetária e a política fiscal disputam o mesmo espaço, ou seja, a utilização maior de uma significa a utilização menor de outra”, diz Leal. A conclusão é que, como ninguém espera um aumento da austeridade fiscal por parte do governo em um ano eleitoral, ainda mais depois que recebeu o selo de aprovação da Moody’s, o trabalho de contenção da demanda terá que ser feito pela política monetária.
Este trabalho pode ser suavizado se o selo da Moody’s for capaz de atrair mais capitais externos de investimento e portfólio. O raciocínio é o seguinte: parte da demanda aquecida poderia ser atendida por importações se a taxa de câmbio estiver em nível que não excite a inflação. A promoção da Moody’s não foi um fato sem significado. Foi o reconhecimento de que, ainda em meio à crise, o Brasil, por ter capacidade para absorver os choques, saiu na frente. Do ponto de vista externo, a frouxidão fiscal é mais mérito do que fator de risco inflacionário.
“O investidor olha para as incertezas da economia mundial e pensa que o Brasil pode ser um porto seguro para o seu investimento, mesmo no advento de um segundo mergulho da economia mundial. Se nos saímos bem no primeiro, porque não voltaremos a performar bem no segundo? A conclusão é que a Moody’s deu o selo de à prova de crises para a economia brasileira”, diz o economista do ABC Brasil.