As intervenções no mercado interbancário de câmbio pronto permitiram ao Banco Central agregar às reservas cambiais do país US$ 2,625 bilhões no mês passado. As aquisições foram possíveis com a sobra maior ainda nas operações do mercado primário (entre bancos e clientes). Entre compras e vendas, as instituições financeiras adquiriram liquidamente dos clientes, nacionais e estrangeiros, US$ 2,957 bilhões, quantia acima da registrada em julho (US$ 1,27 bilhão), informou ontem o BC. Pelo conceito de caixa, o saldo das reservas atingiu US$ 215,744 bilhões no fim de agosto e US$ 216,518 no dia 4 de setembro.
O ingresso líquido de moeda estrangeira gerado especificamente pelas contratações cambiais vinculadas a operações financeiras, porém, caiu expressivamente em relação ao mês anterior. Em julho, os ingressos pelo segmento financeiro do mercado de câmbio superaram as saídas em US$ 4,1 bilhões.
Em agosto, esse superávit foi de US$ 1, 618 bilhão. Não houve aumento de saídas de moeda estrangeira por esse segmento, que inclui, entre outros, pagamentos de dívida externa, repatriação de investimentos estrangeiros, remessa de lucros e dividendos, gastos com passagens internacionais, por exemplo. Ao contrário, as saídas, nesse caso, até baixaram na comparação entre julho e agosto, de US$ 29,778 bilhões para US$ 24,212 bilhões. Os ingressos, que chegaram a US$ 33,881 bilhões em julho, é que caíram ainda mais, para US$ 25,83 bilhões em agosto, indicando redução do apetite de investidores pelo Brasil e de empresas daqui por captações no exterior.
O que permitiu a elevação do superávit cambial de julho para agosto foram as operações de câmbio relativas ao comércio exterior. O volume de moeda estrangeira comprado pelos bancos de exportadores superou em US$ 1,339 bilhão o que foi vendido a importadores. Em julho, além de maior, a diferença foi a favor das importações, fazendo com que o segmento comercial do mercado de câmbio registrasse déficit, de R$ 2,833 bilhões. Ao longo de 2009, no entanto, o segmento apresentou superávit em quase todos os meses do ano – as exceções foram junho e julho. Comparativamente a julho, a recuperação vista em agosto deveu-se tanto a aumento da quantia comprada de exportadores (cerca de US$ 3 bilhões a mais) quanto à queda de vendas a importadores (cerca de US$ 1,2 bilhão a menos).
Ainda segundo o BC, a carteira de câmbio dos bancos fechou agosto com saldo vendido (dólares a entregar) de US$ 1,139 bilhão. Isso indica que, da sobra gerada pelos negócios com clientes, U$ 379 milhões foram usados pelo sistema financeiro para reduzir posição vendida em câmbio. O número não bate exatamente com a diferença entre o saldo cambial (US$ 2,957 bi) e as aquisições do BC (US$ 2,625 bi) no mercado interbancário porque enquanto o primeiro é apurado e divulgado de acordo com a data de contratação, as cifras das intervenções consideram a data de liquidação dos contratos. E há uma defasagem de pelo menos dois dias úteis entre contratação e liquidação.
O BC também divulgou dados dos primeiros quatro dias de setembro. Nesse breve período, o fluxo cambial foi negativo em US$ 1,1 bilhão, o que ajuda a explicar a subida da taxa de câmbio no início do mês. As saídas líquidas relativas a operações financeiras (US$ 854 milhões) responderam pela maior parte do déficit. As contratações vinculadas ao comércio exterior, no entanto, também foram deficitárias, em US$ 254 milhões. O déficit visto em quatro dias não necessariamente representa tendência para o mês todo. Um indício de que pode haver reversão é o fato de que taxa de câmbio já recuou.
Nesses mesmos quatro dias, as liquidações de compras de dólares feitas pelo BC – que, ao contrário dos números do mercado primário, incluem contratações dos dois últimos dias úteis de julho – agregaram às reservas US$ 323 milhões. O BC recebeu ainda US$ 87 bilhões de pagamentos de empréstimos que havia feito em moeda estrangeira durante a pior fase de crise financeira. Em agosto, esses retornos somaram US$ 1,09 bilhão .