O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central diminuiu ontem em 0,5 ponto percentual, de 9,25% para 8,75% ao ano, os juros básicos da economia. Mas sinalizou que poderá fazer uma pausa no ciclo de distensão monetária, depois de cinco movimentos seguidos de redução da taxa Selic.
É o que se depreende do seguinte trecho do comunicado divulgado ao fim da reunião: “Levando em conta que a flexibilização da política monetária implementada desde janeiro tem efeitos defasados e cumulativos sobre a economia, o comitê avalia, neste momento, que esse patamar de taxa básica de juros é consistente com um cenário inflacionário benigno, contribuindo para assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas ao longo do horizonte relevante, bem como para a recuperação não inflacionária da atividade econômica”.
O texto, porém, contém ressalvas suficientes para permitir que, caso o cenário econômico se altere, o BC poderá voltar a baixar os juros. Isso pode acontecer tanto na próxima reunião do Copom, marcada para 1 e 2 de setembro, ou mais adiante, quando os cortes de juros feitos até agora, que acumulam 5 pontos percentuais, terão chegado à economia. Reduções na taxa básica levam de dois a três trimestres para terem efeito máximo na atividade econômica e entre três e quatro trimestres para chegarem à inflação.
Pelas projeções contidas no último relatório de inflação, divulgado há três semanas, a inflação projetada pelo BC é de 4,1% em 2009 e de 4,0% em 2009, supondo uma taxa Selic estável em 9,25% ao ano. Incorporando a trajetória de juros esperada pelo mercado, que em junho previa uma Selic de 9% no término de 2009 e de 2010, a inflação projetada é de 4,2% em 2009 e em 2010. Em qualquer um dos cenários, a inflação está abaixo da meta de 4,5% para ambos os anos.
Apesar do cenário inflacionário benigno, desde junho o BC já vinha sinalizando um comportamento mais cauteloso na condução da política monetária. A preocupação é sobre como os cortes feitos até agora na taxa de juros, que chegam aos menores patamares dos últimos 40 anos, vão chegar à inflação. O mercado financeiro também estava receoso sobre a possibilidade de aceleração inflacionária, por isso passou a incorporar um prêmio na curva de juros futuros para compensar o risco de um possível reaperto na política monetária.
O comportamento exibido durante à tarde de ontem pelos contratos futuros de juros da BM&F – houve uma falta de sintonia entre a queda dos contratos curtos e a alta dos longos – sugeria justamente a possibilidade de o Copom, no seu comunicado pós-reunião, não dar por encerrado o ciclo de flexibilização iniciado em janeiro. Mesmo após baixa acumulada de 5 pontos percentuais, o Comitê tenderia a não se comprometer com o fim da série de quedas. Mas a janela aberta à possibilidade de a Selic cair mais um ponto em setembro não é das maiores, reconhecem os analistas. Embora se possa entender que parte da nota passe a idéia de interrupção do ciclo – quando o Copom sugere que o patamar de 8,75% pode ser a famosa taxa de juros de equilíbrio, tão buscada pelos economistas, aquela que consegue frear a inflação sem prejudicar o crescimento econômico, não precisando portanto sofrer novo rebaixamento -, o texto enfatiza o “nesse momento”. As expectativas de inflação e de PIB para 2010 teriam de cair muito até setembro para o BC prosseguir no desaperto.
O modelo de predição de juro VAR desenvolvido pelo professor de economia da UnB, José Luis Oreiro, e pelo economista Luciano D’Agostini sugere a continuidade do momento de queda da Selic. Pelo modelo, que acertou a decisão de ontem de declínio de 0,50 ponto, a taxa deverá recuar para 8,15% na reunião de setembro do Copom, ou seja, a autoridade monetária deverá produzir uma nova redução de 0,5 ponto na taxa básica de juros. “A continuidade do ciclo de redução da taxa básica de juros nos próximos meses se justifica com base no comportamento esperado do câmbio e do nível de atividade econômica para os próximos meses”, diz Oreiro Com efeito, o modelo VAR prevê que a taxa de câmbio deverá recuar para R$ 1,85 em agosto e R$ 1,77 em setembro, fechando o ano de 2009 em torno de R$ 1,71. No que se refere ao comportamento do PIB, o modelo prevê uma contração de 1,09% do produto este ano.