Os mercados globais retomaram ontem as suas tendências principais após a “realização” ocorrida na véspera. Alguns eventos favoreceram o retorno dos aportes aos ativos de risco: indicadores americanos positivos, ratificação pela agência inglesa Fitch dos ratings soberanos AAA conferidos ao Reino Unido e aos EUA, a alta das commodities (principal delas, o barril do petróleo disparou 4,07% na Nymex, cotado a US$ 68,81) e as informações de que o Morgan Stanley será o primeiro banco a pagar os empréstimos concedidos pelo Federal Reserve (Fed). Com tudo isso, o índice Dow Jones voltou a subir, fechando em alta de 0,86% e influenciou o viés dos demais segmentos. O dólar negociado no Brasil caiu 1,12%, cotado a R$ 1,9420. O mercado futuro de juros da BM&F, já travado pelas incertezas que cercam o Copom de junho, não se deixou contaminar pelas operações externas e fechou estável.
A taxa para o final do ano permaneceu em 9,05%, enquanto o CDI para janeiro de 2012 não saiu dos 10,57%. Mas o swap de 360 dias conseguiu cair mais um pouco, de 9,24% para 9,18%, novo recorde nominal de baixa. O juro real também marcou recorde. Descontada a expectativa de IPCA, de 4,02%, para o mesmo período de contrato, a taxa cai abaixo de 5% pela primeira vez na série histórica. Está agora em 4,97%. Os players do mercado futuro ainda não têm certeza se o Copom irá na quarta-feira cortar a Selic em 0,75 ou em 1 ponto. Os contratos refletem essa hesitação. Segundo o economista Luiz Rogé Ferreira, especialista em derivativos, a taxa de juros implícita nos DI´s de julho e agosto sinaliza uma expectativa para o CDI no período compreendido entre as reuniões do Copom de junho e julho da ordem de 9,4%. “Considerando-se que o CDI tem sido negociado alguns pontos-base abaixo da Selic é plenamente razoável afirmar que o mercado estima uma queda entre 0,75 ponto e 1 ponto para a nova Selic, a que irá vigorar naquele período”, diz o consultor. Pelos seus cálculos, que estimam uma volatilidade da taxa de juros da ordem de 1%, pode-se avaliar que a probabilidade de que o corte de juros seja maior do que 0,75 ponto é de cerca de 58%. Consequentemente, a probabilidade de que seja inferior a esse valor é de 42%. No entender de Rogé Ferreira, “seria saudável que o Copom mantivesse o corte de 1 ponto nessa reunião, deixando para a reunião do final de julho a decisão sobre uma eventual desaceleração”.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo Silveira, também defende um corte de um ponto. Os motivos são simples e claros: a inflação corrente está cadente; a inflação esperada está abaixo da meta ; o hiato do produto está aumentando de forma acentuada; o câmbio está eliminando o “risco do PT”; e, finalmente, o risco-país está bem mais baixo do que estava nas reuniões anteriores. “No tal balanço dos riscos, o BC verá, com certeza, um cenário negativo para a atividade e benigno para a inflação. Isso pede uma redução de juros”, diz Silveira. Esse é o ponto central. Entre o 0,75 e o 1 ponto não haveria muita diferença se a decisão não viesse acompanha de um sinal. Mas ele sempre está presente. Há o risco de ser sinalizado um temor inflacionário a partir de uma suposta certeza de retomada no ano que vem?
“Estamos no meio da crise. Ainda que tenhamos sinais alentadores, esporadicamente anunciados aqui e ali, os indicadores de atividade ainda estão absurdamente ruins. Não é hora de se pensar em problemas inflacionários lá na frente, enquanto o presente ainda mostra uma recessão em curso. O lema de todos os banqueiros centrais no momento é como tirar a economia da recessão. Não há nada que impeça essa ação por parte da autoridade monetária. Ou seja: há espaço para o BC atuar para frear a recessão”, diz o economista.
Os indicadores domésticos divulgados ontem não tiveram influência sobre a curva futura de juros. A Anfavea revelou uma expansão de 6,7% na produção de veículos em maio sobre abril. Comparativamente a maio de 2008, a produção caiu 7,7%. O IBGE informou que a produção industrial cresceu, em abril, em 7 das 14 regiões pesquisadas. E a CNI mostrou que as vendas reais da indústria recuaram 1,9% em abril sobre março. Frente a abril de 2008, a redução foi de 10,7%. A utilização da capacidade instalada subiu de 78,8% em março para 79,2% em abril.