O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu às pressões para frear a recente valorização do real dizendo que outras áreas do governo podem “especular”, mas a decisão de cobrar Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para reduzir a entrada de dólares no país é dele. Ele admitiu que o câmbio preocupa e que vai estudar medidas, mas argumentou que, antes, é preciso verificar se esse movimento de desvalorização da moeda americana não é passageiro. “Vamos pensar no que pode ser feito. É muito cedo ainda. Podemos não estar diante de um fluxo permanente. Houve quase que um desafogo da economia internacional que ficou reprimida, por causa da crise, por muito tempo”, disse.
Na segunda-feira, ao divulgar os números da balança comercial em maio, o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, revelou que o governo trava “debate intenso” sobre a desvalorização do dólar e quais seriam as medidas para contê-la. De acordo com ele, o debate é sobre se ainda não é hora, se está na hora ou se passou da hora de intervir na política cambial. Barral comentou que não é correto acreditar que Mantega já tenha descartado a cobrança de tributos como o IOF sobre operações de câmbio.
Ontem, ao deixar o sétimo balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ministro voltou a dizer que não está pensando em usar o IOF porque não há um fluxo de capitais exagerado atrapalhando a economia. No momento, vê entrada de capitais, recursos chegando na Bolsa e investimentos. Citou que, agora, empresas brasileiras que não estavam captando no exterior voltaram a captar e algumas estão trazendo esses recursos. “Não há uma questão especulativa ou negativa. O câmbio valorizado me preocupa, mas não adianta tomar medidas inadequadas porque não resolvem o problema. Não adianta usar a arma errada”, explicou.
A elevação das reservas internacionais – hoje em US$ 205,91 bilhões – serve mais, de acordo com Mantega, para aproveitar o momento de cotações do dólar em baixa. Nesse sentido, afirmou que, quanto maiores as reservas, mais forte é a economia durante uma crise. Ontem, a cotação da moeda americana encerrou os negócios em R$ 1,96, o que vem preocupando o setor privado, principalmente exportadores.
Na visão de Mantega, houve uma euforia que pode ser passageira. Os investidores deixaram o pique do dólar, aplicação segura e pouco rentável, e estão pensando em alternativas. Ele reconheceu serem positivos os fluxos de capitais para a bolsa porque as empresas brasileiras poderão voltar a captar e essa é a melhor forma. “Acho importante que venham investimentos diretos externos porque isso vai mobilizar a economia. É um primeiro passo favorável”, disse.
No atual cenário, o ministro da Fazenda revelou que não arriscaria fazer projeções sobre o câmbio e que não há como prever se o fluxo será “devastador”, como alguns já declararam. Uma das hipóteses mencionada por Mantega é a do desafogo momentâneo porque o Brasil tem uma bolsa de commodities e esse produtos tiveram cotações internacionais em alta. “Vamos continuar a ter volatilidade. Estamos observando”, comentou.
Com relação à expectativa de crescimento do PIB, Mantega disse que todos já sabem que houve retração no primeiro trimestre, mas falta saber de quanto. Disse também que os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) conhecem o que está ocorrendo na economia. Em 10 de junho eles decidem o que fazer com a taxa de juros Selic, atualmente em 10,25%. “Estamos em uma situação de demanda baixa em relação à oferta, com um grande potencial de produção que temos. Vimos que o PIB pode crescer 4,5% ou 5% sem gerar inflação. Estamos com capacidade ociosa”, avaliou.