Embora tenha admitido que o Brasil tenha enfrentado situação de recessão técnica, ou seja, dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB), o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, garantiu ontem que “o pior já passou”. Recuperação, para o ministro, começa a partir do segundo semestre. “Todo o livro de economia diz que dois trimestres negativos é recessão técnica, então temos uma recessão técnica”, admitiu Jorge.
A prorrogação por mais três meses da redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis é assunto que Miguel Jorge prefere manter em suspense. “Até 30 de junho direi que sou contra a prorrogação”, disse. A frase foi justificada. Segundo o ministro, qualquer anúncio de novo prazo faz com que as vendas caiam, afetando justamente o objetivo da medida, que é o de impulsionar a produção e manter a economia aquecida. Segundo o ministro, quanto mais se fala em prorrogação, “mais diminui a frequência nas lojas”.
A negativa sobre prorrogação do IPI mais baixo guardou um tom de despiste, pois em seu discurso aos parlamentares (ele falou na Câmara dos Deputados) o ministro deu ênfase a importância da redução do IPI para reativar a economia. Ele citou que a produção diária de carros, em abril, cresceu 3% sobre março, que a produção de caminhões aumentou 8%, também em abril, e que a venda de eletrodomésticos cresceu entre 20% e 30% na primeira quinzena, depois do anúncio da redução do IPI para a linha branca. “Podemos concluir que esse tipo de medida tem um grande efeito sobre a economia”, disse o ministro. Ele citou também dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), com geração positiva de emprego desde fevereiro.
Os números de recuperação da economia serviram para Miguel Jorge adotar um discurso mais ameno sobre o quadro recessivo. “Mesmo que estejamos em uma recessão, se compararmos o que tivemos nesse último trimestre ao trimestre anterior, o resultado é muito positivo”, disse o ministro. “Acho que a partir do segundo semestre os resultados vão aparecer de maneira melhor do que estão aparecendo hoje”, ressaltou. O ministro destacou a importância do mercado interno para a recuperação da atividade , destacando que menos de 15% do PIB dependem das exportações.
Miguel Jorge disse que a desoneração sobre os investimentos é importante para acelerar a recuperação da economia. “O Brasil é um dos poucos países do mundo, talvez o único, em que para começar um novo negócio, você paga uma série de custos, de impostos, que estão embutidos nos produtos que você compra para fazer a fábrica funcionar. Às vezes você leva seis meses para colocar o empreendimento de pé e já começou a pagar impostos seis meses antes. Não faz o menor sentido”, criticou. Miguel Jorge disse que mudanças para erradicar esse problema estão em estudo nos ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda, mas não adiantou quais medidas podem vir a ser adotadas. A idéia, entretanto, é colocar medidas em prática ainda este ano.
Valorização do câmbio
A valorização do real frente ao dólar ainda não gera preocupações para o resultado da balança comercial, garantiu o ministro do Desenvolvimento. “Mas não seria bom que abaixasse muito mais do que está hoje”, declarou. Ontem a moeda norte-americana teve nova queda e encerrou o dia em cotação de R$ 2,068. Para os padrões do secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Weber Barral, o limite virtual de conforto está próximo de ser alcançado. “Dólar acima de R$ 2,00 é um dólar competitivo”, disse. Mesmo que a moeda norte-americana fique abaixo do piso mínimo de competitividade, Barral não acredita em desastre na balança comercial.
Sobre as intervenções do Banco Central no mercado de câmbio (a autoridade monetária voltou a comprar moeda estrangeira), Barral disse que a ação “evita grande desequilíbrios” e que, por isso, é positiva. Ele diz que a recente apreciação da moeda nacional pode refletir apenas “uma bolha”, em momento pontual de forte chegada de capital estrangeiro.