O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o fato de a demanda doméstica permanecer forte no Brasil faz com que o país esteja ” mais bem preparado para enfrentar a crise do que os demais” .
Ele explicou que o Brasil entrou na crise com uma demanda doméstica crescendo a uma taxa de 9,3% e um PIB avançando a uma taxa anualizada de 6,8%. “Esse poder de compra do brasileiro de fato nos coloca em um patamar diferente dos outros países”, disse. Meirelles enfatizou, porém, que o dado de crescimento da demanda doméstica evidencia que a ” política monetária do país não é conservadora em excesso”.
“Qualquer pessoa que conheça um pouco de economia entende que (diante desse dado) a política monetária não está controlando excessivamente a demanda interna” , afirmou, durante evento São Paulo.
Outro fator de resistência da economia brasileira, segundo Meirelles, é a continuidade dos investimentos, que no terceiro trimestre de 2008 cresceram quase 20%. Além disso, o avanço da massa salarial do brasileiro foi de 6% de setembro de 2008 a fevereiro de 2009, de acordo com os dados do Banco Central. “Esse é outro fator que nos fará ter uma retomada mais rápida”, afirmou.
O presidente do Banco Central disse ainda que a autoridade monetária continuará a agir em prol do aumento da liquidez e do fluxo de crédito no país. “É importante garantir juros mais baixos no futuro, que permitam crescimento sustentável e sem os desequilíbrios do passado.”
Meirelles, voltou a defender a condução dada pela instituição à política monetária desde o agravamento da crise internacional, em setembro, e destacou a posição do país diante da turbulência. Ele considerou “impressionante” o avanço do Brasil em relação a crises passadas, ressaltando a condição de credor líquido em dólar, o patamar de grau de investimento e o swap feito com o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) que garante US$ 30 bilhões em caso de necessidade.
De acordo com o presidente do BC, o Brasil poderá ser o primeiro país a retomar um ritmo forte de crescimento depois que a crise passar. Sem citar a política de juros da instituição, Meirelles afirmou que “é importante preservar conquistas”. Desde o agravamento da crise, o BC é alvo de críticas de economistas, empresários e políticos que cobram uma velocidade maior na redução da taxa básica de juros da economia brasileira, atualmente em 11,25% ao ano.
“O BC tem a síndrome de agir prematuramente. Quando agimos assim e as coisas vão bem, nada ocorre e aí dizem que não precisávamos agir, porque não aconteceu nada”, disse Meirelles, que participou do seminário Cenários da Economia Brasileira e Mundial, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), com o apoio do Valor.
Meirelles destacou que uma das consequências da crise poderá ser a reordenação de forças dentro do Fundo Monetário Internacional (FMI), que seria uma maneira de acabar com o “estigma” do Fundo. “O estigma vai ser quebrado quando for alterada a estrutura de poder do FMI, com mais espaço para os emergentes”, afirmou Meirelles.