Os especuladores em câmbio aproveitaram a “realização” geral que marcou o encerramento da positiva semana dos pacotes contra a crise para puxar fortemente a cotação do dólar. Somente na sexta-feira a moeda disparou 2,36%, para R$ 2,2930. Em apenas um dia, com a complacência do Banco Central, os hedge funds comprados em dólar futuro transformaram uma perda semanal de 1,06% num lucro de 1,28%. Ao contrário da firme posição de quinta-feira, quando rolou o equivalente a 53% dos contratos de swap cambial que irão vencer no dia 1º, na sexta-feira o BC deixou o mercado livre para tecer suas armações.
Do vencimento de US$ 7,5 bilhões em swaps cambiais marcado para quarta-feira, faltam rolar ainda US$ 3,52 bilhões. Ele ainda não comunicou sua disposição de renovar esse restante. Só informou que irá rolar, hoje, empréstimos de linha por meio de leilões de venda conjugados com outros de compra de dólar. Se o BC não revalidar esses US$ 3,52 bilhões em swaps cambiais estará assumindo posição comprada no mesmo valor, ou seja, estará se aliando aos fundos estrangeiros comprados, com posições equivalentes a um pouco mais que US$ 9 bilhões. Se não conseguirem neutralizar hoje e amanhã as perdas de 3,25% que ainda amargam no mês nessa posição comprada, poderão utilizar a relutância do BC em renovar os swaps para reduzi-la.
A estratégia só não vai funcionar se Wall Street voltar hoje e amanhã a operar otimista, confiante no plano de limpeza dos bancos detalhado pelo secretário do Tesouro Timothy Geithner. O mercado gostou do plano porque passa a ideia (artificialmente construída) de ser um programa privado e porque, em caso de fracasso, quem assume o ônus é o erário. Segundo Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, em caso de lucro o Tesouro e o investidor privado dividiriam o mesmo meio a meio desembolsado, mas em caso de prejuízo 93% deste ficariam com o governo. Para Leal, o programa tem potencial de reativar o mercado dos ativos tóxicos, destravando o crédito interbancário. “Ele pode oxigenar o mercado para aqueles bancos que tem solução, mas não resolve o problema dos bancos quebrados, daí não poder ser considerado a solução final da crise”, diz ele.
Sai hoje aguardado Relatório de Inflação
O Banco Central divulga hoje o seu Relatório de Inflação referente ao primeiro trimestre do ano. O documento, peça essencial ao arcabouço legal e técnico do regime de metas de inflação implantado em 1999, vai exemplificar com números a revelação já feita pela última ata do Copom (outro documento-chave do mesmo regime) de que os modelos indicam que o IPCA para este ano e 2010 já está abaixo do centro da meta de inflação, de 4,5%. O Relatório Trimestral de Inflação não é importante só por causa disso. Irá esmiuçar a visão do BC e do mercado sobre o que ainda pode restar de pressão inflacionária. Como será difícil encontrar alguma digna do nome, o documento abrirá as portas para a continuidade da política de afrouxamento monetário que, desde janeiro, em duas reuniões do Copom, trouxe a Selic de 13,75% para 11,25%. E será o primeiro documento oficial a reagir ao IPCA-15 de março, divulgado na semana passada. O índice, que vinha de duas altas ao redor de 0,50%, acusou variação de apenas 0,11%. Ele mostrou uma redução generalizada das tais pressões inflacionárias. Segundo a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, isso se percebe tanto pelos resultados dos grupos em separado quanto pelas medidas de núcleo. “A média dos núcleos recuou para 0,19%, bem abaixo do patamar de 0,4% que ela vinha oscilando ao longo do último ano”, diz.
Na quarta-feira, outro relatório, não menos aguardado, será o do IBGE sobre a produção industrial de fevereiro. A expectativa é de que houve uma recuperação, crescimento na margem, sobre o mês anterior, de uns 5,5%. Isso fará com que o tombo sobre fevereiro de 2008 se resuma a uns 15%. Na quinta-feira, dois eventos europeus irão roubar a cena, embora o terceiro, americano, não fique muito atrás. O primeiro é a reunião do G20 no Reino Unido. O segundo, a reunião de política monetária do BCE. A taxa básica deve cair de 1,5% para 1%. Nos EUA, uma entidade federal, a FASB, deve alterar o estatuto da marcação a mercado dos títulos em poder dos bancos de forma a maquiar a aparência deles, tornando-os mais hígidos. Na sexta-feira, o relatório de emprego americano (payroll) de fevereiro não deve confirmar os sinais de alguma recuperação da atividade nos EUA mostrados por outros indicadores.