O Brasil vai iniciar nesta semana a articulação de uma ousada proposta para restaurar o equilíbrio dos fluxos de capital por meio das instituições multilaterais de crédito. A idéia, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é fazer com que os países assumam a regulação do fluxo financeiro internacional de modo a balancear o jogo. Isso, segundo suas explicações, significa que aqueles que têm excesso de capital colocarão recursos no Fundo Monetário Internacional (FMI) e a entidade faria a redistribuição aos que precisam. Com isso, Mantega afirma que haveria um novo equilíbrio na economia internacional e os recursos poderiam financiar o comércio exterior e restabelecer a atividade mundial “beneficiando a todos”.
A proposta que Mantega vai levar ao G-20 não é o polêmico e combatido controle de capitais. No âmbito nacional, nada muda. Trata-se de usar instituições multilaterais, não apenas o FMI, para ações de fomento porque a maioria dos países não tem instituições voltadas para esse fim. Um exemplo é financiar o comércio exterior com linhas especiais. Outro exemplo é financiar déficits em contas correntes, caso das graves situações dos países do Leste Europeu.
Segundo o ministro, a idéia será articulada, em um primeiro momento, com os representantes de Rússia, Índia e China, nas reuniões preparatórias do encontro do chefes de Estado do G-20. A reunião será na sexta-feira, em Londres. “Vamos tentar o consenso com esses três grandes países. Acredito que Argentina apoiará e continua como um dos grandes parceiros do Brasil”, disse.
Em Londres, Mantega participará da reunião do G-20 com ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais. Em abril, está prevista a cúpula do G-20. “Temos propostas porque consideramos que um dos problemas importantes da economia internacional é o desequilíbrio do fluxo de capitais.”
A crise financeira mundial criou, na visão do governo brasileiro, um desequilíbrio que retirou recursos dos países emergentes e até de países desenvolvidos. Esses capitais foram de maneira exagerada, principalmente, para Estados Unidos, Japão e China. Para Mantega, alguns países ficaram com pouco e outros têm excesso, mas todos são prejudicados. Esse desequilíbrio, na sua interpretação, é normal na crise, mas os Estados Unidos não têm o que fazer com todos aqueles dólares que vão para lá e isso valoriza sua moeda prejudicando suas exportações. Os emergentes que ficam com menos recursos têm menos capacidade de comprar produtos e o comércio mundial se ressente dessa crise.
O grupo dos quatro grandes países emergentes conhecido como BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China – fará seu papel no G-20, mas o governo brasileiro sabe da limitação porque esses países não são emissores de moedas conversíveis. Além disso, mesmo nesse pequeno grupo, é grande a diferença de interesses em torno de propostas objetivas.
No longo prazo, o que o Brasil vai defender no G-20 é a idéia de os mercados financeiros serem regulados também no âmbito macroeconômico porque a crise mundial mostrou que a auto-regulamentação falhou gravemente. No atual momento da crise econômica mundial, as duas maiores preocupações são a indefinição financeira nos Estados Unidos, que está prejudicando fortemente a oferta de crédito, e a indefinição fiscal na União Européia porque eles têm moeda única mas não têm tesouro único. Enquanto há essa espera, o mundo paga seu preço.