A nova arquitetura financeira internacional começa a ser construída, em meio aos estragos causados pela dramática crise global, e um passo poderá ser dado hoje, abrindo espaço para o Brasil nas decisões.
O Fórum de Estabilidade Financeira (FEF), órgão criado em 1999 pelo G-7, das nações mais desenvolvidas para evitar grandes choques nos mercados financeiros, se reúne hoje e amanhã em Londres. A expectativa é de que enfim saia a decisão de sua ampliação. E é difícil imaginar que o Brasil não seja incorporado, juntamente com a China e a Índia.
Com isso, os principais emergentes ampliam sua influência nas decisões das principais instituições financeiras internacionais. O FEF tende a ter papel mais central para avaliar vulnerabilidade afetando o sistema financeiro global, identificar e propor ações para melhorar a cooperação entre as autoridades internacionais no controle dos mercados.
Atualmente, o órgão é composto apenas pelos ministros de finanças, bancos centrais, autoridades supervisoras e reguladoras do G-7 (Estados Unidos, Alemanha, Japão, Grã-Bretanha, Canadá, França e Itália) e por outros cinco centros financeiros internacionais (Suíça, Hong Kong, Cingapura, Holanda e Austrália).
Sua ampliação estava prevista para dezembro. Mas demora mais do que se previa por causa de discussões sobre quem entra. Há vários países querendo aderir ao clube-chave no sistema financeiro. Mas quem já está dentro quer limitar os sócios, alegando que isso vai alterar a dinâmica do grupo.
Na verdade, o encontro de lideres do G-20, das maiores economias desenvolvidas e emergentes, pediu em novembro, em Washington, para um FEF já ampliado apresentar estudos sobre o sistema financeiro até o fim deste mês, o que evidentemente não ocorrerá pela demora na decisão de abrir essa entidade. O FEF tem entrevista coletiva marcada para esta quinta-feira em Londres.
Na movimentação em direção da nova arquitetura financeira internacional, Brasil, China e Índia foram incorporados em fevereiro no comitê técnico da Organização Internacional das Comissões de Valores (conhecido pela sigla em inglês Iosco), que estabelece os padrões e critérios para o desenvolvimento da regulação nos principais mercados internacionais.
A entidade tem mais de cem membros, mas o comitê técnico era até agora composto por apenas 15 países, incluindo Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Grã-Bretanha.
Para o secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, embaixador Marcos Galvão, a entrada do Brasil nesse orgão-chave da Iosco mostra que o esforço ativo do país e de outros emergentes para estar no centro dos processos decisórios vem dando resultado.
“Na prática, a crise financeira acelera a revisão da arquitetura financeira internacional e aumenta o espaço dos países emergentes”, afirma Galvão. Nessa engenharia, o Brasil coloca peso na consolidação do G-20 como o centro das articulações econômicas globais, reunindo as principais economias desenvolvidas e emergentes, ao invés do combalido G-8, até então diretório econômico do planeta.
Para integrar mais os emergentes, a ideia é que a segunda fase da reforma de “voz e representação” no Banco Mundial tenha início em abril deste ano e possa ser implementada até abril de 2010. Também nesse cenário, alguns países defendem que a estrutura de empréstimo atual do Bird, que fornece muito mais recursos aos governos, seja revisado para dar mais ênfase no financiamento a empresas de emergentes.
Sobre a reforma do FMI, a ideia é de antecipar a revisão geral de cotas, prevista para 2013. Assim, um realinhamento “de cotas e voz”, e portanto de poder dos emergentes, seria completado até 2011.
A negociação sobre as reformas do Bird e do FMI está na agenda dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, marcada para sábado nos arredores de Londres.