Superada a fase mais aguda da atual crise, após a quebra do banco Lehman Brothers em setembro, o próximo passo é restabelecer a confiança nos mercados globais. Para o economista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, esta terceira fase da crise será a mais longa e difícil de ser vencida. No entanto, diz o executivo, restaurada a confiança o Brasil deve ser um dos principais mercados na mira dos investidores. As previsões do WestLB para a economia são de dificuldades no curto prazo, mas com recuperação na seqüência. Internamente, isto já pode ocorrer a partir do segundo trimestre do ano que vem.
\”O contágio da economia real será sentido mais neste final de ano e começo de 2009, com retração do PIB e ainda a depreciação do real, mas na seqüência acredito na volta dos fundamentos, o que é favorável ao Brasil\”, comenta Padovani. \”Por enquanto, os investidores estão sendo movidos pela busca por segurança, o que leva a uma alta do dólar e à saída de países emergentes, mas restabelecida a confiança estes investidores irão atrás de rentabilidade.\” Segundo o economista do WestLB, o Brasil tem melhores condições de atrair investidores do que seus vizinhos como Chile e México, muito dependentes do cobre e da economia americana, respectivamente.
O tempo necessário para que a confiança seja recuperada ainda é uma incógnita. Não há mais um travamento do mercado interbancário, mas a desconfiança ainda permanece. \”Os banqueiros não querem emprestar, os consumidores evitam ir às compras e os investidores seguem cautelosos. Neste cenário, fica difícil saber qual o desempenho das empresas, o que impede uma avaliação adequada do preço das ações, por isto tanta volatilidade nas bolsas\”, diz Padovani. \”Esta é a fase mais difícil de ser vencida, mas sou otimista e acredito em uma recuperação a partir do segundo semestre de 2009.\”
Nas previsões do WestLB, o PIB brasileiro deve fechar este ano com crescimento de 4,8%, reduzindo a alta para 2% no ano que vem. Também haverá uma forte desaceleração do crescimento do crédito, que deve cair de 31% este ano para 14% em 2009. \”Apesar da queda no ano que vem, o segmento de crédito inverte a tendência a seguir e deve registrar expansão de 21% em 2010\”, comenta Padovani. Embora os números demonstrem otimismo, no curto prazo podem haver surpresas negativas.
\”O PIB divulgado ontem, de crescimento de 6,8% no terceiro trimestre, surpreendeu, mas isto não deve se repetir no último trimestre do ano\”, diz Padovani, para quem o desempenho do PIB neste final de ano pode ser próximo de zero ou mesmo negativo. \”No último trimestre pode vir negativo e até repetir um desempenho ruim no começo de 2009, mas na seqüência retoma a alta.\”
Uma reversão na política monetária no ano que vem, com cortes na Selic, vai colaborar na recuperação. A estimativa do banco é de uma Selic em 12,25% no final do ano que vem, com um corte de 1,50 ponto percentual ao longo de 2009. \”Na reunião de hoje, acredito na manutenção da Selic, talvez com o BC emitindo os primeiros sinais de cortes futuros, que podem ocorrer a partir da reunião de março do ano que vem\”, diz o economista.
As previsões para o dólar frente ao real, apesar da forte valorização neste ano, são de perda de valor em 2009 e 2010. \”A moeda subiu de preço porque os investidores buscam proteção, mas assim que o foco voltar a ser rentabilidade a tendência é de queda\”, diz Padovani. A estimativa do banco é que o dólar termine 2008 a R$ 2,40, uma alta de 34%, mas recue para R$ 2,10 no ano que vem e para R$ 1,85 em 2010.(