Em visita oficial a Cuba, a presidente Dilma Rousseff participou nessa
segunda-feira da inauguração da primeira fase de obras do Porto de
Mariel, a 45 quilômetros da capital Havana. O terminal é financiado pela
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e aposta
do governo cubano para impulsionar os negócios do país, que sofre
pesados embargos na economia impostos pelos Estados Unidos. Hoje a
presidente discursará na abertura da II Cúpula da Comunidade de Estados
Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) que também acorrerá na ilha da
ditadura oficial dos irmãos Raúl e Fidel Castro.
Dilma criticou a
postura norte-americana e classificou a barreira comercial ao país do
Caribe como “injusta”. Durante a cerimônia, a presidente manifestou o
desejo te aumentar o volume de negócios entre os países e avaliou que o
porto será “peça-chave” para o desenvolvimento econômico cubano. “O
Brasil deseja ser um aliado econômico de primeira ordem para Cuba e uma
maneira de fazer isso é aumentar as relações bilaterais de comércio”,
afirmou ela.
A partir do financiamento do BNDES de US$ 1,09
bilhão no porto, a presidente reforçou que parcerias podem ser firmadas
nos setores de equipamentos para a saúde e de medicamentos e vacinas.
Apesar do interesse, as relações comerciais entre os países ainda são
pequenas. Dados da balança comercial brasileira de mostram que, em 2013,
o Brasil exportou US$ 528,2 milhões para Cuba e importou US$ 96,6
milhões. Entretanto, participação do governo brasileiro na obra, por
meio dos empréstimos do banco estatal, é criticada por empresários do
setor, que dizem que os investimentos precisam ser feitos nos portos
brasileiros.
Críticas O setor produtivo se
queixa de que enquanto o banco estatal despeja milhões de dólares no
terminal cubano, o apagão logístico brasileiro e a falta de
infraestrutura dos portos brasileiros impedem o crescimento econômico do
país. Durante a primeira fase das obras o BNDES desembolsou US$ 802
milhões em bens e serviços. Na segunda etapa, mais US$ 290 milhões serão
emprestados para a implantação da Zona Especial de Desenvolvimento de
Mariel.
Na avaliação do diretor do Centro Brasileiro de
Infraestrutura, o economista Adriano Pires, é “irracional” o governo
anunciar mais um investimento de centenas de milhões de dólares para
modernizar a infraestrutura de Cuba ao mesmo em que há, aqui, portos,
aeroportos, ferrovias e rodovias de “péssima qualidade”. ‘Ela foi a
Davos (Suíça) para tentar atrair investidores estrangeiros para o país,
mas não dá qualquer condição para que isso ocorra, sobretudo a
implantação da infraestutura necessária para que grandes empresas se
instalem no Brasil”, criticou.
Para o professor da Universidade
de Brasília José Matias-Pereira, especialista em finanças públicas, o
governo brasileiro e o BNDES mostram a “falta de compromisso com o
dinheiro público” ao financiar a modernização de um porto em Cuba. Ele
destacou que a sociedade brasileira clama por melhorias na saúde, no
transporte, na segurança e na educação. “Algumas empresas são
beneficiadas com esses financiamentos, mas a população é deixada de
lado”, finalizou.
Investimentos Defensores do
financiamento justificam que o terminal de Mariel foi construído de
frente para a costa da Flórida, nos Estados Unidos, e, com a expansão do
canal do Panamá, poderá se transformar em um ponto de escala para
cargueiros gigantes. O presidente de Cuba, Raúl Castro, agradeceu a
participação do BNDES na empreitada e detalhou que a obra terá grande
importância para o país. “O Porto de Mariel será a principal porta de
entrada e saída do comércio exterior em Cuba”, afirmou o presidente.
Entre as empresas que demonstraram interesse em se instalar no terminal,
a Odebrecht Infraestrutura informou em um comunicado que “realiza
estudos de viabilidade econômica e técnica para a criação de
empreendimento na área de transformação de plástico em Mariel, Cuba”.
Pessimismo renovado
Brasília – O mercado financeiro renovou o pessimismo com a economia brasileira,
um sinal de que as declarações recentes da presidente Dilma Rousseff em
Davos, na Suíça, não conseguiram empolgar o setor privado. O maior
receio com o país é em função, justamente, das ações oficiais para
estimular o Produto Interno Bruto (PIB). Analistas e investidores
consultados pelo Banco Central (BC) na pesquisa semanal Focus acreditam
que o crescimento do país em 2014 será novamente frustrante, de 1,91%.
Caso estejam certos nas previsões, será, portanto, o segundo pior
desempenho do PIB em quatro anos de governo Dilma, perdendo apenas para o
resultado de 2012, de apenas 1%.
O baixo desempenho da economia
pode ser explicado pela maior injeção de juros. As estimativas para o
comportamento da taxa básica (Selic) é que ela siga em alta pelo menos
até abril. Na avaliação do mercado financeiro, o Comitê de Política
Monetária (Copom), um colegiado de diretores do BC, promoverá mais duas
altas na taxa, de 0,25 ponto percentual cada, nas próximas reuniões de
fevereiro e abril. Com isso, a Selic chegaria, ao fim da gestão Dilma,
ao patamar de 11% ao ano.
Mesmo assim, a alta de juros não será
suficiente para conter uma inflação crescente. Pelas contas dos
analistas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegará a 6,02%
ao fim deste ano, superando, portanto, os 5,91% de 2013 e os 5,84% de
2012. Em 2015, seja quem for o presidente escolhido pelo voto nas
eleições de outubro, a inflação será de 5,70%. Há apenas uma semana, as
apostas do mercado era de uma carestia menor, de 5,60%, um sinal de que,
para o mercado, o esforço feito pelo BC para colocar freio na escalada
de preços será em vão.
Descrença O pessimismo
disseminado com a economia é uma prova da dura missão que o governo terá
pela frente em 2014: a de convencer o setor privado a acreditar no país
e desengavetar projetos de expansão da capacidade produtiva de empresas
e fábricas. As apostas oficiais são de que os investimentos, e não mais
o consumo, serão as molas propulsoras do PIB.
Mas essa avaliação
esbarra na falta de confiança de investidores e analistas de mercado,
que questionam se, com baixos crescimentos, é ainda vantajoso aplicar
seu dinheiro no Brasil. “O que os números estão mostrando não é
pessimismo com o Brasil, mas a realidade que o governo insiste em
esconder”, disse o diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João
Medeiros. “A gente sabe o que é preciso para o país crescer, e a
resposta é: menos desperdício de dinheiro público e mais investimentos
produtivos. Mas, em um ano de eleição, é difícil acreditar que vamos
conseguir as duas coisas”, acrescentou.