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18 de abril de 2024A vida que Bernard L. Madoff amava acabou quando agentes da polícia federal americana o prenderam em seu apartamento de cobertura há exatamente um ano. Mas ele está se ajustando a sua nova vida atrás de cercas de arame farpado.
O prisioneiro nº 61727-054 compartilha uma cela com porta aberta no Complexo Correcional Federal de Butner, de segurança média, com um homem mais jovem chamado Frank. Ele veste o uniforme cáqui da prisão e foi visto caminhando numa pista externa. Ele joga bocha, xadrez e damas. Limpa tigelas e panelas na cozinha da prisão.
Madoff, de 71 anos, também está resgatando algo que desapareceu no mundo externo no momento em que sua fraude foi exposta: o respeito. “Para todos os fraudadores, ele é o padrinho, o chefão”, diz um detento entrevistado semana passada.
Madoff cumpriu 5 meses de uma sentença de 150 anos por ter sido responsável pelo maior esquema de pirâmide financeira da história. Os prejuízos incorridos por seus clientes estão estimados em US$ 19,4 bilhões.
“Considerando tudo, ele está bem”, diz Ira Sorkin, advogado de Madoff. “Ele ainda sofre profundamente pelo que fez.”
Uma descrição da vida de Madoff na prisão emergiu de entrevistas com ex e atuais prisioneiros em Butner e vários advogados, inclusive alguns que o encontraram na prisão.
Oficialmente, Madoff é apenas outro detento numa prisão federal que abriga condenados por crimes de apropriação indébita, roubo de banco, espionagem e tráfico de drogas.
Nancy Fineman, que representa investidores num processo contra a mulher dele, Ruth Madoff, o entrevistou há alguns meses. Ela diz que ele mencionou conversar com outros prisioneiros como Carmine Persico, chefe da família Colombo do crime organizado em Nova York, e Jonathan Pollard, um americano condenado por vender segredos militares a Israel mais de 20 anos atrás.
Outro detento notório em Butner é Franklin C. Brown, um ex-vice-presidente do conselho da rede de farmácias Rite Aid Corp., que foi condenado por irregularidades contábeis.
A porta-voz da prisão Denise Simmons se negou a fazer comentários sobre a vida de Madoff atrás das barras, a não ser para dizer que todos os outros detentos o tratam bem.
Várias pessoas em Butner, cidade de 6.169 habitantes, que dirigem negócios frequentados por carcereiros, dizem que os guardas foram comunicados que perderiam os empregos se falassem à imprensa sobre Madoff. Sorkin rejeitou um pedido de entrevista a Madoff.
O Complexo Correcional Federal de Butner tem características típicas da vida na prisão, segundo o Escritório de Prisões do governo americano. Os detentos se levantam às 6h e se apresentam ao trabalho obrigatório às 7h30. Eles recebem entre US$ 0,12 e US$ 1,15 por hora, dependendo do trabalho, que pode ser de responsável pelos jardins, encanador ou funcionário da cozinha. As luzes são apagadas às 23h.
Há gangues e um ativo mercado negro de artigos contrabandeados para dentro da prisão, diz um prisioneiro atual, como bebidas alcoolicas, camarão, frango e cigarros, que podem custar US$ 10 cada. Os detentos podem fabricar uniformes militares, aprender espanhol ou manutenção de aquecedores e ar-condicionado. O acesso à internet é proibido, por isso os prisioneiros dependem muito dos rumores que surgem da correspondência propiciada por um site chamado inmate.com.
O código informal de conduta dos detentos é rígido: não se meta na vida dos outros. Não olhe o número dos outros detentos porque ele pode ser usado para descobrir a ficha criminal, considerada uma informação particular. Não entre sem ser convidado no “cubo”, ou a cela de outro prisioneiro. Não acorde ninguém. Não mude o canal quando alguém estiver assistindo à televisão.
Pouco depois de chegar a Butner, Madoff disse a Finemam e seu sócio que estava sendo obrigado a se livrar de detentos que queriam faturar às suas custas. “As pessoas queriam sua assinatura para tentar vender no eBay, então ele não estava assinando nada”, diz ela.
Na época, Madoff dormia na cama de baixo do beliche e se exercitava correndo todas as noites. Ele não manifestou interesse em participar das missas, mas disse aos advogados que gostava da comida e das pessoas que conheceu na prisão.
“Para mim, era como se ele estivesse num palco”, disse Finemam, comparando a entrevista na prisão a uma atuação teatral. “Ele fala bem e você percebe que ele pensa no que vai dizer. Ele simplesmente está acostumado a estar no comando e a contar sua história.”
Alguns colegas de cadeia de Madoff suspeitam que ele tem dinheiro escondido e tentaram fazer amizade com ele para tentar descobrir onde ele está. Mas os carceireiros estão sempre de olho em Madoff e não deixam que ele seja abordado por grupos. “Ele é igual ao resto do pessoal que cumpre pena”, diz um detento que pediu para não se identificar. “Ele age como um cara normal.”
As autoridades da prisão não informam quem visitou Madoff, embora um detento revele que Ruth já fez a viagem de 800 quilômetros desde Nova York. Um registro de agosto ao qual o Wall Street Journal teve acesso mostra que ele já trabalhou na manutenção em Butner uma vez.
Kenneth Calvin “K.C.” White, um ladrão de banco que cumpriu pena na mesma época que Madoff, durante alguns meses no meio do ano, diz que o conheceu na fila em que os detentos recebem a medicação.
White já pintou vários murais na prisão. Madoff puxou papo com ele, dizendo: “Você é o cara que faz todas as pinturas por aqui”, lembra White.
Segundo White, Madoff falou sobre as consequências da fraude, alegando que “carregou nas costas” os funcionários da Bernard L. Madoff Securities durante mais de vinte anos, mas foi o único condenado a uma sentença astronômica. “Acho que pensa que eles viraram as costas para ele”, diz White.
Mesmo assim, Madoff parecia ter mantido o orgulho e passeava pela prisão com a face erguida. “Ele agia como se estivesse preso há anos”, disse White.
Madoff perguntou se White pintaria seu retrato, então o ladrão de banco fez um esboço na oficina de pintura da prisão, onde Madoff estava trabalhando em meio período, lembra.
Madoff disse a White que não gostava de ser representado com o uniforme cáqui da prisão, então White o pintou com um terno e gravata. Madoff também pediu um retrato da mulher, mas White foi solto antes de ter a oportunidade de pintá-lo.
Harlene Horowitz, que perdeu sua casa em Brentwood, na Califórnia, e outros ativos para o esquema de pirâmide de Madoff, disse que ele deveria estar numa cela minúscula e sem contato com outras pessoas.
“Isso acaba comigo. Eu o culpo por tanta gente que sofreu muito”, diz ela. “Para alguém que viveu no luxo, não dá pra ser feliz onde ele está.”