As fundações universitárias dos Estados Unidos, que sofreram seu pior desempenho anual em várias décadas, estão questionando sua fé em investimentos que alimentaram enormes rendimentos antes de fracassarem no ano passado.
A crise de confiança vem se desenrolando na Universidade de Chicago, em uma batalha que dividiu os administradores da décima maior fundação universitária dos Estados Unidos, um comitê que inclui os gestores de fundos hedge Sanford Grossman, conhecido como “Sandy”, e Cliff Asness. Em meio ao turbilhão dos mercados do fim do ano passado, o comitê discutiu se os ativos em sua carteira, que valia US$ 6,6 bilhões em junho de 2008 mas estava caindo depressa, eram demasiado arriscados e voláteis.
Os administradores da fundação decidiram vender US$ 600 milhões em ações para comprar papéis mais seguros, dando assim um voto de falta de confiança, abrupto e pouco usual, no seu modelo de gestão de carteira. No fim de outubro, em um e-mail dirigido a membros do comitê, Kathryn Gould, uma investidora de capital de risco que chefia o comitê da fundação universitária, e Peter Stein, o diretor de investimentos, escreveram: “Sem dúvida vamos parecer heróis, E TAMBÉM idiotas nos próximos dois meses”.
Outros julgamentos desse tipo serão feitos a partir do fim deste mês, quando as universidades começam a revelar o desempenho de suas carteiras no ano fiscal terminado em 30 de junho. A Northern Trust Corp. avalia que, durante esse período, o patrimônio das fundações universitárias americanas sofreu, em média, um declínio de 20%.
A Universidade Harvard previu que o valor do patrimônio da sua fundação, a maior entre as universidades do país, cairia até 30%. As universidades de Yale e Princeton projetaram declínios de cerca de 25% cada uma. A Universidade de Chicago previu queda de 25% no valor da sua carteira no ano fiscal.
Embora resistam a discutir suas estratégias de gestão financeira, muitas universidades parecem ter considerado transferir seus fundos para investimentos mais conservadores. No ano passado, Harvard tentou vender uma parte da sua carteira de private equity, mas não recebeu uma oferta aceitável; ela vem resgatando alguns de seus investimentos em fundos hedge, dizem pessoas a par do assunto.
Durante décadas, a maioria das fundações universitárias preferia ações e títulos de renda fixa. David Swensen, que Yale contratou em 1985 como diretor de investimentos, argumentou que as fundações – investidores de longo prazo não preocupados com retiradas ou com as flutuações do mercado a curto prazo – eram candidatas ideais para investimentos como imóveis, aquisições alavancadas e créditos de recebimento duvidoso. O desempenho de Yale superou o dos mercados em geral por uma ampla margem.
Mas a queda das bolsas desde outubro de 2007 revelou o que alguns consideram como falhas no modelo. “O modelo de financiamento continha um colossal erro de raciocínio, o de que os investidores de longo prazo não precisam de liquidez a curto prazo”, diz Robert Jaeger, da BNY Mellon Asset Management, divisão do Bank of New York Mellon Corp. que dá consultoria a fundações sobre estruturação de carteiras.
Algumas fundações insistem que, apesar de grandes perdas, não vão mudar de orientação. “Isso exigiria abandonar os investimentos orientados para o mercado acionário que vêm servindo bem às instituições com horizontes de longo prazo”, disse Swensen, de Yale, em uma entrevista ao Wall Street Journal este ano.
Em 2005, a Universidade de Chicago contratou Stein, que trabalhava na fundação de Princeton, onde tinha sido protegido de Swensen. Em junho de 2008, a fundação da universidade tinha 77% de seus recursos em “investimentos semelhantes a ações”, ou seja, ações de empresas americanas e estrangeiras, fundos de hedge e private equity, segundo o relatório anual de 2008.
Naquele setembro, por volta da época em que o banco Lehman Brothers quebrou e os mercados de crédito se retraíram, membros do comitê de investimentos decidiram examinar objetivamente sua carteira de aplicações.
“Nós havíamos subestimado o valor da liquidez, e superestimado nosso grau de diversificação”, disse Andrew Alper, presidente do conselho diretor da universidade e membro do comitê. Segundo Alper, o comitê esperava mudar a exposição da carteira ao risco e à volatilidade de longo prazo, e teria preferido aplicar em firmas de private equity. Mas como o mercado desses ativos ilíquidos estava basicamente congelado e os resgates dos fundos hedge eram muito lentos, eles começaram a falar em vender ações.
No início de outubro, a Média Industrial Dow Jones despencou 18% em uma semana. Duas semanas depois, os mercados europeus caíram 5% em um só dia, e a Bolsa de Tóquio despencou, perdendo 10%, para o nível mais baixo em cinco anos. Em um e-mail de 28 de outubro a que o Wall Street Journal teve acesso, Gould, a chefe do comitê da fundação, e Stein, o diretor de investimentos, diziam aos membros do comitê que estavam considerando fazer “uma venda imediata” de US$ 500 milhões em ações. “Praticamente todos as nossas ações que podem ser vendidas imediatamente”. No início de novembro, segundo pessoas a par do assunto, Gould havia instruído Stein a vender US$ 200 milhões em ações.
James Crown, um dos diretores e sócio da Henry Crown and Co., firma de investimentos de Chicago, expressou sua confusão. “Para onde estamos indo com a fundação, e por quê?”, escreveu a colegas do comitê, em um e-mail de 2 de novembro a que o Wall Street Journal teve acesso.
Diretores da Universidade de Chicago não dizem quando exatamente venderam suas ações, de modo que é impossível calcular os retornos. Alper, o presidente do comitê diretor da fundação, diz que os recursos das vendas de ações não foram investidos em outras ações, mas que a fundação continua a ter investimentos no mercado acionário.
Os efeitos do conflito na fundação continuam. “Não podemos (procurar acertar os momentos de comprar e vender) do mercado nesse nível e não deveríamos ficar tentando”, escreveu Asness num e-mail de janeiro a integrantes do comitê de investimento da universidade.