A presidente Dilma Rousseff e seu colega venezuelano,
Hugo Chávez, se comprometeram nesta segunda-feira, em encontro em
Brasília, a ampliar o comércio e aprofundar a integração entre os dois
países.
“Estamos criando, assim o vejo, um novo modelo
de relacionamento. Queremos a complementação e a cooperação econômica,
política, científica e tecnológica”, disse Chávez em declaração à
imprensa, após reunir-se com a presidente brasileira.
Dilma, por sua vez, ofereceu-se para
compartilhar políticas brasileiras em habitação, como o programa Minha
Casa, Minha Vida, e para aumentar a troca de experiências nas áreas de
proteção social, educação, política para mulheres e agricultura.
A vinda de Chávez, em sua primeira visita
oficial ao Brasil após a posse de Dilma, ocorre em meio a um impasse
comercial entre a Petrobras e a PDVSA, petrolífera estatal venezuelana,
acerca da participação conjunta das companhias na refinaria Abreu e
Lima, em construção em Pernambuco.
No início de maio, a Petrobras enviou carta à
PDVSA cobrando a liberação dos recursos acordados na definição da
sociedade, pela qual a brasileira teria 60% da refinaria e a
venezuelana, 40%. Caso o pagamento não ocorra até agosto, a Petrobras
ameaça encerrar a sociedade.
Em declaração à imprensa, Chávez disse que a
verba já está separada há dois anos e que o pagamento ocorrerá assim que
o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), financiador da obra,
aceitar as garantias dadas pela companhia.
Dívida
Outro impasse comercial entre os dois países diz
respeito a obras realizadas pela empresa brasileira Odebrecht na
Venezuela, entre as quais o metrô de Caracas. Segundo o jornal britânico
Financial Times, o governo venezuelano deve cerca de US$ 800 milhões à companhia.
Chávez, no entanto, afirmou que quase todas as
parcelas da dívida já foram pagas e se disse grato à empresa por não ter
interrompido as obras no auge da crise econômica mundial, quando os
cofres venezuelanos foram duramente afetados pela queda no preço do
petróleo, commodity responsável pela maior parte das receitas do país.
O venezuelano também indicou que a Conviasa, uma
companhia estatal de aviação venezuelana, tem interesse em comprar
entre oito e 20 aviões da Embraer. Segundo ele, os países tentarão
avançar nas negociações para que quando Dilma fizer visita oficial à
Venezuela, o que deve ocorrer em setembro, ambos possam chegar a um
acordo.
No encontro, também foram anunciados acordos de
cooperação nas áreas de agricultura, biotecnologia e indústria e foi
assinado memorando de entendimento entre a PDVSA, o IPEA (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada) e a Caixa Econômica Federal para a promoção
de melhorias urbanas, econômicas e sociais no Estado venezuelano de
Sucre e no vale do rio Orinoco.
Ao anunciar a cooperação na área agrícola, Dilma
cometeu uma gafe ao dizer que “a similaridade entre biomas permite que
possamos transferir tecnologia e experiência das nossas áreas para as
áreas bolivianas”, corrigindo-se em seguida.
‘Roubou meu coração’
O encontro também teve momentos descontraídos.
No início de seu discurso, Chávez contou sobre a primeira vez em que viu
Dilma, em Caracas, quando ela era ministra de Minas e Energia do
governo Lula.
“A primeira vez que eu ouvi a Dilma falar ela
roubou meu coração. É verdade. Começamos essa aproximação há uma década,
mais ou menos. Dilma tomou a palavra e, confesso a minha ignorância, eu
não a conhecia. Perguntei, sussurrando: ‘quem é essa mulher?’”, disse o
venezuelano, provocando risos de Dilma e da plateia.
Em seu discurso, Chávez também parabenizou o esquerdista peruano Ollanta Humala, eleito presidente neste domingo.
“Neste momento de triunfo no Peru, felicitamos o
povo do Peru e seu presidente eleito. Que nos unam nesse amanhecer de
uma nova era, que não é época de mudanças, senão uma mudança de época.”
Após o encontro, o assessor para assuntos
internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que Dilma
telefonou a Humala nesta manhã para parabenizá-lo pela vitória e
convidá-lo a visitar o Brasil antes da posse, marcada para o fim de
julho.
Comércio bilateral
O encontro entre Chávez e Dilma também ocorre em
momento de crescimento do comércio bilateral, após a retração em 2009.
Em 2010, segundo o governo brasileiro, o comércio entre os dois países
totalizou US$ 4,6 bilhões, aumento de 11,8% em relação a 2009.
As exportações brasileiras somaram US$ 3,8
bilhões (alta de 6,7%), enquanto as importações vindas da Venezuela
alcançaram US$ 832 milhões (crescimento de 43,2%), com suparávit de US$ 3
bilhões para o Brasil.
Empresas brasileiras têm investimentos na
Venezuela nas áreas de infraestrutura, siderurgia, petroquímica,
construção naval e indústria de processamento de alimentos.