Centenas de investidores estão desde o início do ano desesperados atrás das aplicações feitas no que pensavam ser clubes de investimento geridos pela Agente BR Assessoria, ligada à Agente BR Corretora de Câmbio. A corretora e a assessoria tiveram a liquidação decretada pelo Banco Central (BC) no fim de janeiro, e as informações iniciais dão conta de que não há registro nem dos clubes, nem das operações que supostamente faziam. Não há sequer a lista de investidores, o que impede ao BC estimar o total de vítimas do caso, que está sendo comparado pelos aplicadores à pirâmide bilionária montada pelo ex-presidente da Nasdaq, Bernard Madoff nos EUA.
A Agente BR, que não era autorizada a oferecer clubes de investimento, atraía clientes com promessa de retorno altíssimo, acima de 10% em alguns meses, em carteiras que levavam os sugestivos nomes de Diamond III ou Fortune II, com aplicações mínimas entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. Não havia envio de extratos, o acompanhamento da aplicação era feito no site da própria corretora, que informava a rentabilidade de cada investidor.
A venda era feita por indicação de amigos, principalmente entre profissionais liberais. Um dentista de São Paulo, por exemplo, aplicou R$ 10 mil em setembro do ano passado. “Um amigo me mostrou na internet as rentabilidades e fiquei impressionado, acabei investindo”, afirma ele, que pediu para não ter seu nome revelado. “Deveria ter verificado melhor.” O dentista aplicou parte de suas economias no clube Diamond III que, segundo informava o site da corretora, tinha outros 80 cotistas. No primeiro mês, apesar da crise do mercado, o ganho da carteira teria sido de 2%, no segundo, 7%, e no terceiro, 5%. Mas, em dezembro, começaram a surgir comentários de que a corretora não estava honrando os saques. “Agora vou ficar feliz se conseguir recuperar parte do que apliquei”, diz o dentista.
Se tivesse checado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) antes de aplicar, o dentista teria descoberto que, em julho de 2008, a autarquia já havia divulgado deliberação alertando o mercado para o fato de a Agente BR não ser autorizada a oferecer clubes, notificando a instituição a não fazer mais essa oferta. No comunicado, a CVM dizia que havia sido informada que a corretora e seu dono, Tulio Vinícius Vertullo, usavam ligações telefônicas, mensagens eletrônicas e reuniões fechadas para captar clientes para os clubes “constituídos irregularmente” com promessa de retorno garantido. A CVM avisava ainda que Vertullo não era autorizado a atuar como administrador profissional de carteira de valores mobiliários.
Se tivesse procurado a bolsa, descobriria quem nem os clubes eram registrados na BM&FBovespa, nem a corretora era autorizada a operar na bolsa. Segundo a assessoria de imprensa da BM&FBovespa, os pedidos de informação sobre a Agente BR como gestora de clubes começaram a pipocar em fevereiro do ano passado. Foram 40 pedidos, o que fez a área de fiscalização de mercado levar o caso à CVM e às autoridades policiais.
Informações levantadas junto ao BC dão conta que as irregularidades na corretora são mais antigas. O dono, Antonio Vertullo Júnior, morreu em julho de 2006 e deixou a instituição para o filho, Túlio. Mas não houve envio dos documentos para transferência da empresa, nem da contabilidade das operações da corretora para o BC, que desde então vinha cobrando a corretora o envio dos dados. Até que, em janeiro, o BC decidiu pela liquidação da corretora. Os cerca de dez funcionários foram dispensados, mas os liquidantes não encontraram registros dos clubes, nem das operações, pois a contabilidade da corretora não estava sendo feita. A suspeita é de que o dinheiro tenha sido depositado em nome dos sócios.
Agora, os credores serão convocados para que se habilitem, a fim de tentar recuperar parte do que aplicaram. O BC terá de rastrear para onde foi o dinheiro. Só após a convocação será possível estimar o tamanho do prejuízo e o número de investidores prejudicados.
O advogado de Tulio Vertullo, Antonio de Pádua Notariano, diz que seu cliente está tentando resolver a questão fazendo acordos individuais. Um representante foi contratado para negociar com os investidores, que recebem um contrato de confissão de dívida em que Vertullo se compromete a quitar o débito no futuro. Investidores informam que ele se compromete a pagar o débito em quatro parcelas. Notariano diz que já foram feitos mais de 250 acordos. Ele não quis comentar quantos investidores a Agente BR tinha, nem as operações que Vertullo fazia.
O processo será encaminhado ao poder judiciário e, se for comprovado crime, o responsável poderá ser condenado à pena de 6 meses a dois anos.