As regras contábeis provavelmente abrandaram, em vez de exagerar, as perdas embutidas no sistema financeiro. É o que afirma um estudo divulgado ontem por um influente grupo de formuladores de políticas econômicas. O relatório conclui, de maneira controvertida, que as regras não contribuíram para a natureza pró-cíclica do sistema financeiro.
Existe uma suposição generalizada de que a prática da marcação dos ativos aos valores de mercado, sem reservas para as perdas esperadas com as carteiras de empréstimos, contribuiu para os problemas do sistema financeiro ao agravar as perdas num momento em que os bancos e outras instituições tinham menos condições de suportá-las.
No entanto, o estudo do Grupo de Assessoramento para a Crise Financeira (FCAG, em inglês) conclui que como na maioria dos países os ativos dos bancos não são avaliados pelos valores de mercado, e sim mantidos em seus valores históricos, esses valores provavelmente minimizaram as perdas que agora estão sendo expostas pela crise.
O FCAG é um grupo de alta patente estabelecido pelo Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb) e sua contraparte americana, o Conselho de Padrões de Contabilidade Financeira (Fasb), para discutir questões que surgiram com a crise de crédito. Entre elas, a contabilidade pelo valor justo, as reservas para perdas esperadas, e contabilidade de ativos “fora do balanço”.
Seus membros incluem ex-investidores, investidores ativos e formuladores de políticas como Hans Hoogervorst, diretor da autoridade reguladora do mercado de valores mobiliários da Holanda; Don Nicolaisen, ex-contador-chefe da comissão de valores mobiliários (SEC) dos Estados Unidos; Stephen Haddrill, presidente da Associação das Seguradoras Britânicas; e Jerry Corrigan, ex-presidente do Banco Central americano.
O estudo também é altamente crítico em relação à “pressão exagerada” imposta sobre os formuladores de regras contábeis no último ano por políticos e grupos de interesses, como o lobby do setor bancário. O Iasb e o Fasb foram forçados a mudar suas regras recentemente, em ambas as vezes com o efeito de melhorar os lucros dos bancos.
“Entendemos os motivos das pressões. Mas isso se torna indevido quando mudanças são recomendadas e essa linha foi cruzada umas duas vezes”, disse Hoogervoorst, que é um dos presidentes adjuntos do grupo.
Ele alertou que mais mudanças do tipo poderão minar a confiança do público nas regras que dão base à prestação de contas.
O Iasb propôs recentemente mudanças radicais na maneira como os instrumentos financeiros deverão ser divulgados na primeira parte de uma série de revisões que poderão aliviar os problemas contábeis criados pela crise. Elas simplificariam a maneira como os instrumentos são informados, num esforço para tornar as demonstrações financeiras mais transparentes.